Cheirando a Amor

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Antônio e Regina já haviam parado de contar os minutos que estavam deitados daquela forma e só passaram a contar quantas vezes as costas de ambos subiam e desciam a cada respirar dado. Eles estavam na mesma posição na cama, deitados de bruços, com os braços cruzados abaixo das respectivas cabeças e com as cobertas cobrindo-lhes até a cintura. A porta que levava a sacada estava aberta fazendo com que o homem contasse às vezes que a brisa atravessava o cômodo e arrepiava os pelos das costas da mulher. Ela não ficava atrás, já que naquela altura, tinha contado a quantidade exata de cada um dos filhos grisalhos que existiam na cabeça de dele.

Nada era falado, não era preciso falar e eles nem queriam. Não havia motivo algum proferir palavras que não cabiam no que estavam sentindo. Paz, serenidade, calmaria, leveza. Eram aqueles sentimentos que permeavam cada canto daquele bangalô, eram aqueles sentimentos que transpareciam a cada momento suave dos enamorados, eram aquelas emoções que faziam com os dois se observassem com cada vez mais atenção, mais profundidade. Através do olhar, da pequena acentuação que surgia no canto dos lábios quando queriam sorrir e como os músculos da face de cada um reagia a cada expressão. Eles observavam tudo um no outro e, consequentemente, reagiam a seu modo.

Fagundes desfez a posição na qual estava para ficar de lado e sustentar parte do corpo no braço direito, a mão esquerda foi rumo a coluna vertebral de Regina e com a ponta do indicador, passou a desenhar o corpo que como rastro de seu toque, arrepiava-se como um bom obediente.

Ele sorriu.

O dedo mudou sua rota fazendo caminhos que vez ou outra, faziam a mulher que os recebia soltar suspiros quase que inaudíveis. Desceu o toque para a sua cintura e subiu lentamente pelo canto dos seios da mulher que mordeu o lábio inferior tentada a fazer com que aquele dedo mudasse rua rota para outros caminhos, mas não o fez. Apenas ficou sentindo o toque do homem que com aquele carinho, parecia querer tocar-lhe a alma.

Antônio era agraciado pela visão mais bonita que poderia se ter da mulher. Sem disfarces, sem um palco, nua, crua, inteira. Para falar a verdade, mesmo fora de um palco, Regina ainda parecia ainda mais iluminada e bonita já que a luz que vinha do lado de fora do bangalô era responsável por iluminar suas costas, parte de seu rosto e um de seus olhos. Aquela era a imagem que ele guardaria em sua memória para sempre, assim como guardaria também o som da gargalhada gostosa que saía da boca de Regina.

Em algum momento que não saberia explicar, Regina fechou os olhos e se permitiu devanear aos seus momentos mais felizes. A primeira peça de Teatro feita, a sensação maravilhosa que sentia a cada notícia de uma gravidez, o nascimento dos filhos, o prazer de trabalhar e os toques de Antônio por seu corpo por todo o seu corpo. Era até difícil acreditar que depois de tantos anos desejando aquele homem em silêncio, finalmente o tinha no alcance dos dedos, no alcance da boca, no alcance do corpo. Ela finalmente o tinha. E, se por ventura não o tivesse tão próximo como dessa vez, saberia guardar aquele momento dentro de seu coração a todo momento que quisesse e revivê-lo, mesmo que em sonhos, seria de um infinito prazer.

Ela se sentia tão plena que até era difícil pensar em outras ocasiões que não fosse aquela em que estava vivendo e apertou levemente o travesseiro que estava abaixo de seus braços. Regina Duarte sorria por dentro e por fora, sorria com a alma e cada parte do seu corpo saberia identificar que o motivo da felicidade estava ao seu lado causando arrepios em suas costas apenas com o dedo indicador, se colava o corpo ao seu e beijava seu ombro. Quando abriu os olhos o maior presente estava ali, Antônio lhe olhava com o olhar mais travesso que alguém já tinha lhe dado.

- Pensei que tinha dormido. - Antônio apoiou o queixo no ombro de Regina.

- Nem se eu quisesse, não com você me tocando assim. - Regina deu um breve sorriso. - Eu só estava pensando.

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