Jura Secreta

32 1 6
                                    

Rio de Janeiro, 16/05/1988. Segunda-Feira.

Finalmente o dia da estreia!

A sensação de dever cumprido invadia todos os componentes do elenco da novela que só era sorrisos e abraços entre eles. Atendendo ao pedido de Dennis Carvalho, o alto escalão da Globo enviou garrafas e garrafas de um caro champanhe para que o elenco e a equipe pudessem comemorar no fim do dia. As gravações acabariam às cinco e meia da tarde para que todo o elenco estivesse em peso em uma casa noturna para que assistissem à novela juntos logo após do Jornal Nacional.

Regina estava tão feliz que a ansiedade pela estreia do novo trabalho dava brecha para que borboletas fizessem uma verdadeira festa em seu estômago. Prevendo que poderia enlouquecer a qualquer momento, deixou a porta de seu camarim aberta para que visse ou escutasse algum sinal da chegada de Antônio para que pudesse compartilhar com o amante a alegria que estava sentindo. Depois de um certo tempo, uma leve pontada de preocupação passou a incomodar sua cabeça, seu amante estava demorando demais para chegar. Ele não estava atrasado, porém, sendo sempre um dos primeiros a chegar ou até mesmo o primeiro, sua ausência era de se preocupar.

Com sombra da ansiedade pela chegada do amante lhe perseguindo, a atriz deu uma desculpa qualquer para a maquiadora, acendeu um cigarro e passou a passear pelos corredores da emissora como se nada estivesse acontecendo, mas seus olhos atentos por detrás dos óculos estavam procurando qualquer resquício da chegada de Fagundes. Ela ficou assim por quase uma hora e como sua grade de gravações estavam frouxas o suficiente para que aquela procura se prolongasse, pouco se preocupou.

Cássia Kiss e Renata Sorrah na companhia uma da outra, sentadas em cima do porta malas do automóvel da intérprete de Heleninha. Olhavam o céu azul, conversavam sobre qualquer coisa e até mesmo ficavam em silêncio porquê se não tinha nada para fazer, também não tinha nada para falar.

Um barulho estridente fez com que Cássia quase caísse pelo susto que o mesmo havia causado e fez Renata cair na gargalhada que se acentuou ainda mais ao perceber que o barulho era dos pneus do carro de Antônio que cantavam no asfalto. O intérprete de Ivan Meireles não poderia imaginar que a moça com quem vinha passando as últimas noites tinha um apetite sexual tão acentuado. Um banho havia se transformado em uma rodada de sexo, a preparação do café da manhã havia se transformado em preliminares e eles só não foram aos finalmente no carro do ator porquê ele estava preocupado com seus horários na Tv Globo.

O homem fez o trajeto de sua casa para o apartamento de Mara e de lá para o Jardim Botânico com tanta rapidez que não iria se assustar se houvesse algumas multas por excesso de velocidade em seu nome. Quando parou o veículo há alguns metros de onde estavam Kiss e Sorrah sem sequer vê-las por ali, ele saiu completamente esbaforido com sua bolsa, cadernos com os textos nos braços, tentando ajeitar sua roupa enquanto acendia seu cachimbo. Cássia estreitou o olhar completamente embasbacada com o que via enquanto a amiga loura, que não sabia o que fazer, gritou o nome do ator fazendo com que algumas pessoas que ali transitavam olhassem para ela com um ponto de interrogação desenhado nas respectivas faces.

— Desculpa, Sorrah. Eu estou mega atrasado. – Antônio disse de modo afobado.

— Calma aí, galã. A gente só começa a gravar às dez. – Renata olhou em seu relógio. — Ainda são oito e treze.

— Como assim só às dez? – o ator nem pediu licença a Cássia, colocou os textos em cima das pernas dela e olhou os horários das gravações que ficavam na capa. — Mas aqui diz que...

— Ordens do chefe a pedido do seu diretor.

— Você precisa arrumar essa palhaçada com o Dennis – quando consegui reagir, Cássia tirou os textos de Fagundes de seu colo colocando-os entre as duas. — Parece criança. – ajeitou a gola da camisa do ator. — Aliás, bom dia para você também.

DegradêOnde histórias criam vida. Descubra agora