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Descontrole, as "mentiras", e o fim.

Lembro de ver Alex se aproximando, parando na minha frente e dizendo "Ei Dantinho, como você tá? Eu soube da sua crise, e eu sinto muito. Depois que você foi embora eu fiquei muito preocupado com você amor, eu juro que eu vou te explicar com calma o que houve. Ei, Dante, você tá me ouvindo?" Naquele momento nada mais importava, já não ligava mais se levaria uma suspensão, ou se teria que aumentar minha dose de antidepressivos. Ver Alex, o amor da minha vida, tentando encobrir algo que eu vi com meus próprios olhos era o mesmo do que ver alguém morrendo na sua frente sem você poder fazer nada.

A raiva invadia o meu ser, já não era mais eu no meu corpo, aquele Dante que ignorava tudo de sua vida e apenas vivia pelo ditado "Bola para frente" já não se encontrava mais ali, quem assumia o controle de minhas ações era outra versão de mim mesmo, mas diferente do Dante anterior esse tinha total controle da situação em que eu me encontrava, eu sentia ódio, ódio por ter sido traído e ainda ter de escutar uma mentira dessas. Antes que eu pudesse controlar qualquer pensamento e ação minha, olhei para o lado e o primeiro objeto que avistei foi uma bandeja, sem nem pensar a apanhei.

Lembro-me de ouvir um som alto, quando vi a bandeja estava colidindo com a cara de Alex, eu estava fora de mim, não ouvi e nem via nada, apenas gritos abafados e uma escuridão completa. Quando finalmente aquela escuridão sumiu, pude ver-me com as mãos encharcadas de sangue assim como a face de Alex.

Espera aí, você não deve estar entendendo nada né!?

Para fazer com que você entenda melhor, vou voltar um pouco a história, mais exatamente há dois dias atrás.

Tudo começa comigo chegando na escola, sozinho, é sozinho, Alex havia pegado um resfriado e Abigail foi viajar com seu pai. E eu como qualquer pessoa que não tem mais de dois amigos, três talvez?... Fiquei sozinho na escola, e fiz o que eu sempre faço para evitar o contato com pessoas desconhecidas, coloquei meus fones e apertei o play na música I Bet on Losing Dogs, confesso que várias músicas da Mitski já me salvaram de muitas crises, eu amo ouvir elas antes de pegar no sono, além de me acalmar evita que eu fique ansioso e não consiga dormir.

Ontem eu fui no meu psicólogo para a nossa consulta semanal, e por algum motivo ele disse que estou "bem" o que é algo estranho já que eu tive uma crise muito forte há uma semana atrás mas, quem sou eu para discordar, até porque eu quero ficar bem, quero me livrar dos antidepressivos, por mais que eu saiba que isso ainda vai demorar muito, eu tenho um resto de esperança, afinal são quase quatro anos de tratamento. Acabei de lembrar do dia em que eu recebi o diagnóstico da depressão, eu lembro de ver minha mãe chorando na cozinha e assim que ela percebeu que eu estava ali limpou as lágrimas e disse que tudo ficaria bem, foi como se alguém tivesse morrido... Algumas semanas depois eu comecei a tomar meus remédios, e na mesma semana eu tive uma das piores crises da minha vida, eu tinha recebido meu boletim e eu tinha ficado de recuperação em artes, eu fui a pé para casa, almocei, fui na lavanderia e peguei a chave do meu quarto, já que desde do dia que recebi o diagnóstico eles tiraram ela de mim, subi as escadas e fui direto para o meu quarto, fechei a porta com cuidado, e a tranquei. Passei por volta de 30 minutos chorando e me perguntando "Eu não sou um artista?" "Eu realmente sei algo de arte?" Peguei uma tela que estava debaixo da minha cama junto de algumas tintas de quando compramos a casa e a pintamos, e comecei a jogar as tintas na tela de forma desleixada. Minhas mãos estavam trêmulas, e a tela completamente colorida, a lata que estava em minha mão caiu fazendo com que a tinta amarela se espalhasse por todo o chão, eu estava em estase. Meu pai logo notou minha ausência, lembro de ouvir passos desesperados subindo a escada, sem nem sequer bater na porta ele arrombou a mesma logo me vendo naquele estado, eu só queria sumir. Aquela de longe foi uma das piores semanas da minha vida, uma história tanto quanto perturbadora, enfim.

Eu só precisava te olhar de outra formaOnde histórias criam vida. Descubra agora