Prólogo.

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SINA DEINERT.

De longe eu podia ouvir os sons eletrizantes que a Chump Change causava ao misturar todos os instrumentos nas inúmeras vezes em que ensaiava na garagem de Haley. Ela era minha vizinha, e os ensaios ocorriam uma vez sim, uma vez não em sua casa.

Eles sempre faziam questão de deixar o portão do local aberto, de modo que, da janela do meu quarto — onde estou nesse exato momento —, podia ver quase todos os movimentos dos cinco integrantes da banda, sempre alheios às coisas realmente importantes do mundo ao seu redor.

Eu ainda não tinha ideia do meu interesse incontrolável de ficar esgueirada na janela sempre que ouvia o som lá embaixo, mas era bom. Vê-los fazendo o que verdadeiramente queriam era incrível. Ao contrário de mim, que era obrigada a agir de acordo com os interesses do meu pai, apesar de saber muito bem quais eram os meus objetivos e sonhos.

Continuei a olhar na direção da garagem de Haley quando percebi que um dos integrantes havia saído para tragar um cigarro ao lado de outro. Eu sabia que o nome do que estava sem o cigarro era Samuel, mas não fazia ideia de como o outro se chamava.

Eles conversaram por alguns minutos antes de Samuel olhar para cima e eu perceber que estava olhando para mim, o que fez com que o moreno voltasse o olhar em minha direção também.

Eu podia fazer muitas coisas nesse momento, como sair da janela e fingir que nunca estive ali; cumprimentá-los com um aceno, mas isso seria completamente estranho ou apenas encará-los, essa última opção sendo a escolhida.

Encarei os dois por muito tempo, até que Samuel quebrasse o olhar e susurrasse alguma coisa no ouvido do moreno, que riu, mas não abaixou o olhar. Pisquei suavemente, e, apesar da minha cabeça estar doendo por ficar imóvel por um tempo seguido, eu não iria ceder.

Foi quando ele me encarou com mais profundidade e passou a língua pelos lábios, umedecendo-os, que eu soube que precisava desviar. Porém não conseguia. O olhar me atraía.

E provavelmente não seria só o olhar por muito tempo.

Depois que eu conheci Noah Urrea, tive que aprender a desviar de muitas coisas, inclusive dele mesmo, porque se eu ainda quisesse agradar o mínimo ao meu pai, teria que me afastar.

Só que é muito difícil se afastar quando não se pode mandar nem nas próprias ações, porque era isso. Noah Urrea me fazia agir descontroladamente e sem pensar nas consequências futuras, e eu adorava isso.

Soube que após me deparar com o par de intensos olhos verdes, nunca mais seria a Sina Deinert que ainda tentava manter as boas imagens apenas pelo pai.

Com ele eu descobri que posso ser mais, e eu nunca gostei tanto de descobrir que tenho o poder de decidir as minhas próprias escolhas.

E só então consegui descobrir o motivo do meu interesse de ficar na janela do meu quarto ouvindo os sons da banda.

SUNNYSIDE × noartOnde histórias criam vida. Descubra agora