Maldita senhorita Miranda.
Eu, um homem que nunca dorme, preocupado com tudo e com todos, tenho que fazer um passeio no parque, em um domingo de manhã, para resgatar uma mulher abusada, insolente e atrevida.
Resolvo levar Tommaso e Nina, que vive reclamando que nunca pode ir a lugar nenhum.
― Nina? ― Procuro minha irmã e a encontro à mesa do café.
― Bom dia, Rico. ― Ela se levanta em um pulo da cadeira e se joga em meus braços. Às vezes me sinto culpado por não dar a ela a liberdade que ela merece. Ninguém tem culpa de nascer em uma família com altas responsabilidades muito cedo, onde a vida sempre está em risco e ela não vai mais passar por isso, como aconteceu quando ela tinha quinze anos.
― Já tomou o seu café?
― Já sim. Acordei com fome depois de ontem. Ah... Rico, foi tão bom sair com minhas amigas. Me senti quase uma garota normal. Sair com elas por duas semanas seguidas foi surreal.
― Então sobe e coloca uma roupa de verão. Vamos até o Parco Sempione.
― Jura? Não está falando isso de maldade, não é, Rico? ― Seus olhos brilham e seu corpo cria vida.
― É verdade, Nina. não tenho muito tempo, então se apresse. Saímos em vinte minutos. ― Ela me beija e me abraça, carinhosamente, e sobe correndo a escada, esbarrando com Tommaso que desce já todo alinhado para sairmos.
― Ei... garota, não precisa correr desse jeito. ― Ele chega à mesa e se senta, pegando uma xícara de café.
― Pode me explicar, Rico, essa novidade de parque domingo de manhã? Não me lembro de ter feito um programa desse com você.
― Christie Miranda, satisfeito?
― Parece que essa mulher vai te deixar louco, fratello.
― Ela é encrenqueira, Tommaso. Mas vale cada minuto com ela. É quente, deliciosa e ousada, você sabe como gosto de domar uma égua selvagem.
― Sei não, Rico. Acho que você vai tomar um tombo daqueles tentando domar essa égua baia. ― Levanto-me da mesa, quando ouço Nina descendo a escada.
― Vamos, Rico. Estou pronta. Antes que você fale, eu já passei protetor solar fator cinquenta. Estou bem assim? ― Nina colocou uma legging até a canela bem colorida, uma camiseta solta por cima do top e tênis no pé. Não pude deixar de sorrir com sua jovialidade. Ela sabe como funciona a máfia, eu sei disso e tanto Tommaso quanto eu, não trazemos para casa coisas que possam acabar com sua pureza, que prezamos tanto.
― Está linda, bella. Vamos logo, que já demoramos demais. ― Sei que essa loira linda, de belos olhos azuis, corpo perfeito e sorriso faceiro vai atrair vários jovens no parque, então mando reforçar a nossa segurança.
Quando chegamos ao parque, inevitavelmente atraímos a atenção. Claro que dispensamos os ternos e nos vestimos mais informais, mas não é muito comum dois homens imponentes e uma mulher linda com seguranças a tiracolo. Russo me informou onde estava e caminhamos para lá, com Nina totalmente deslumbrada com a natureza.
Será mesmo que Nina nunca passeou neste parque? Penso bem e acho que nem Tommaso ou mesmo eu, também não vivenciamos esse tipo de passeio.
Quando visualizo Christie, ela está sozinha, sentada em um lençol estendido na grama, apoiada em uma bolsa lendo um livro. Cabelos soltos jogados ao vento, vestida em uma calça colada no corpo e os seios saltando do top.
Todos os pelos do meu corpo ficam em alerta e sinto uma injeção de adrenalina me envolvendo. Essa mulher vira a cabeça do sexo oposto. Preciso me controlar, como se estivesse prestes a lutar pela vida em confrontos pelo poder.
Insanidade total...
Ela nos vê e sorri, eu absorvo toda a sua energia. Levanta-se da grama, bate as mãos na bunda para tirar a terra e eu observo aquele pequeno gesto com pensamentos obscenos.
― Nina? ― Minha irmã se vira para ela e corre a fim de abraçá-la.
― Christie, é você mesma? É tão bom te encontrar aqui. ― Nina olha para mim. ― Lembra dela, Rico? Nós nos encontramos naquela festa no Brasil. ― Tommaso toma à frente e estende a mão para ela.
― Prazer em reencontrá-lo, Tommaso, não é?
― Sim, senhorita. O prazer é todo meu. Está gostando do nosso país?
― Seu país é encantador, diferente do Brasil e de Nova Iorque, mas estou me acostumando. Só algumas pessoas que parecem não gostar muito de estrangeiros ― ela fala para ele, olhando em minha direção. Antes de esticar a mão para mim, consulta o relógio.
― Já estava pensando qual peça de roupa iria tirar primeiro. ― Seguro na mão dela e dou um aperto de advertência.
― Bom dia, senhorita Miranda. Que coincidência a encontrar aqui..
― Descarado... ― ela fala baixinho para os outros não ouvirem.
― Gostosa... ― Também não deixo ninguém ouvir.
Nina domina a conversa e Tommaso e eu apenas assistimos a interação das duas. Pego-me sorrindo, olhando minha irmã tão relaxada e animada. Christie olha para mim, curiosa com a minha reação, eu disfarço e olho o parque cheio de gente feliz. Observo à nossa volta e vejo onde estão nossos seguranças. Todos sinalizam que está tudo bem e consigo relaxar um pouco. Ouço alguém falar mais alto.
― Ninguém me avisou que era uma reunião, senão eu tinha me vestido melhor. ― Brian e sua noiva, acho que Tessália é o nome dela, caminham em nossa direção.
― Oi, minha amiga, que bom que você veio. ― Ela me olha, curiosa, e eu faço um aceno de cabeça enquanto Brian vem em nossa direção e troca um aperto de mão.
― Bom dia, Rico. É uma surpresa encontrá-lo aqui. Olá, Tommaso.
― É uma surpresa para mim também, Nina quis dar uma volta e eu resolvi atendê-la ― respondo para ele e pela cara que ele faz, deve saber qual é o verdadeiro motivo.
Enquanto conversamos um bate-papo de homens, as meninas se sentam na grama e se divertem muito. Daqui fomos para um restaurante da minha confiança e já era final de tarde quando nos despedimos.
― Tommaso, você leve a Nina para casa. Eu vou acompanhar a senhorita Miranda. ― Vejo seus olhos brilharem e o peito estufar. Sua negativa já está na ponta da língua ferina, quando sua amiga me ajuda sem perceber.
― Acho melhor você aceitar, Chris. O dia foi maravilhoso e vamos encerrá-lo em paz. ― Ela bufa.
― Tudo bem, Tess. Eu vou porque é você que está me pedindo. ― Cada um entra no seu carro, com promessas de novos encontros.
Não sei definir o que ela provoca em mim. Quando estou ao seu lado sinto uma energia diferente, uma necessidade de estar dentro dela, de sugar sua autoridade, de derreter a camada de indiferença que ela criou para se proteger. Ao mesmo tempo, quero ser essa camada de proteção.
Sei que não posso ser tudo isso para ela. Sou um chefe da máfia e vivo para proteger os meus irmãos, familiares e nossa famiglia. Esse é o meu papel e não posso me envolver com uma mulher livre e impetuosa como Christie, ainda mais sendo fora do meu meio, uma mulher que não conhece as regras da máfia italiana.
Se alguém descobrir que estou dando mais atenção para ela, automaticamente ela ficará na mira dos meus inimigos. Até hoje, as mulheres entraram e saíram da minha cama apenas para me satisfazer sexualmente. Não quero e não posso ter sentimentos por uma mulher, seja ela do meu meio ou fora dele. Não vou desviar a minha atenção dos perigos que minha posição representa.
Agora mesmo, ao invés de pensar nos problemas da famiglia, estou pensando nela, na boceta quente dela, em sua boca gostosa, sua língua afiada e quanto ela me enlouqueceu quando tirou a roupa na frente de todos, exibindo aquele corpo perfeito. Christie é uma verdadeira exibicionista e ela sabe o poder que tem de me desestruturar, oferecendo-se para outro. Eu me descontrolei quando fodi com ela no camarim, quase deixando que palavras doces saíssem da minha boca. Ela não pode fazer isso comigo, não vou deixá-la me dominar, muito menos se apoderar dos meus pensamentos.
É uma pena, assim que o carro se coloca em movimento, na direção do apartamento dela, sei que estou totalmente dominado pelo desejo e pela fúria por desejá-la além do permitido.
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