Estávamos na segunda semana de outubro, o meu mês favorito, o mês da primavera, onde as flores acordam e dão vidas as folhas verdes, até as árvores mais diferentes e feias em comparação as outras. Junto dela aquele clima amenas, um calor de dia, mas que o vento gelado do mar amenizava tornando-se a tarde agradáveis e as noites boas para dormir, diferente do inverno.
E o melhor de tudo, faltavam dois meses para acabar o ensino médio e na faculdade tudo será diferente, certo?
De toda forma, está primavera era diferente de todas as outras. As anteriores eu não via sabor, não via beleza ou prazer, havia se transformado um clima como qualquer outro, mas agora... era como se eu pudesse enxergar cada brilho e apreciar cada peculiaridade das plantas, que antes estavam escondidas em cada flor. Porém, ao mesmo tempo que a estação me trazia alegria, eu me sentia triste também.
Neste tempo eu não vi mais a Lena, quase três semanas atrás. Ás vezes me encorajava a mandar mensagem para ela via WhatsApp perguntando se ela estava bem, mas nenhuma foi visualizada e nem sequer entregues. Tinha apenas um visto, que era meu.
Talvez ela seja uma dessas pessoas que desistiu do aplicativo, justificava para mim mesma.
Ao mesmo tempo que isso acontecia, eu me aproximava aos poucos dos irmãos gêmeos e Rebeca na escola. Às vezes eles me chamavam para comer junto com eles e alguns dos seus amigos, outras eles se juntavam a mim, o que no início me espantou com as presenças deles, principalmente no intervalo, mas fui forçada a me acostumar, todavia, na maioria das vezes, ainda permanecia sozinha e de certa forma preferia assim.
Muitas das vezes falávamos sobre animes ou cantores, eram os assuntos mais aleatórios que tínhamos e eles não tinham muito conhecimento, outras sobre plantas e ajudava com suas dúvidas sobre botânica, Reino Plantae e outras matérias de Biologia, na qual pude perceber que eles não era tão inteligentes assim, ao menos nesses assuntos.
Todavia eram temas que mais dominava e gostava de falar sobre e muitas vezes não rendiam muito por falta de conhecimento deles, porém, quando a conversa deles não eram sobre o que me interessava, parecia que mais nada me ligava a eles e me voltava a me perder em meus próprios pensamentos.
Era estranho, mesmo perto deles eu me sentia um vazio em mim, um desânimo, ainda presa naquele oceano que parecia que nunca sairia dele ou naquele escudo de ar invisível e inconsciente que protegia um ao outro. Ao contrário de como era com a Lena, estar com eles não me dava vontade ou forças para querer ultrapassar ou desejo de conhecer o mundo deles.
Mesmo tendo novos colegas com quem trocava conversas diariamente na escola depois de tantos anos, eram como se suas vozes não me atingiam, eram como se elas perdessem a velocidade e dispersasse como uma folha de uma planta sendo arrastada pelo vento e os seus brilhos eram tão fraco que mal refletiam no mar que me encontrava.
Ao mesmo tempo, parecia que eles não se importavam com isso, não eram insistentes ou pareciam que se importavam comigo. Eu me sentia como um objeto onde a única objetividade era para preencher o time para jogar os jogos que eles decidissem, fora isso, eu me sentia como um brinquedo velho e desgastado que poderia ser jogado fora a qualquer momento.
Era engraçado, porém agora eu consigo perceber o quanto eu procurei afeição mesmo com aquela parede invisível que me rodeava, sempre tentando aceitar o mínimo e nunca dizendo o "não" com o medo de ser rejeitada, mas com um coração incapaz de aceitar qualquer aproximação dos outros e. no fim, acabei vazia, com apenas um corpo composto de osso e órgãos e impossibilitada de amar e ser amada.
Talvez neste mundo que não recebemos o afeto que é dado mesmo quando precisamos, e encontramos pessoas intrometidas ou persistentes como a Lena, é uma benção para gente como eu que só conhece a solidão.
Talvez ela fosse a única que conseguisse me manter viva.
Lena não me causava um sentimento de uma montanha-russa como eu imaginava, ela era a própria! Era um misto de sensações indecifráveis e multáveis, que um dia aparecia com um sorriso tão largo que puxavam seus olhos castanhos claros, cativando qualquer um ao seu redor. Ou mordendo os lábios inferiores quando surgia alguma ideia maluca. Era inteligente, mas, ao mesmo tempo, falava de uns assuntos que para mim soava sem sentido algum. Ela também era própria tristeza em pessoa e, às vezes, brava, que andava como quisesse perfurar o chão de tão nervosa que estava. Contudo, mesmo com todas essas feições, ela brilhava como uma estrela no céu.
Será que ela sente falta de mim ou pensa em mim como eu nela?
Ela tá na faculdade, tem outros amigos e uma vida ativa, diferente de mim.
Estava com outros que conseguem amar tanto ou quase como ela ou até mesmo aqueles que são como as flores, que só estão a espera um pássaro que voa de pólen em pólen, se alimentando-se deles e, ao mesmo tempo, fertilizando-os, para que novas plantinhas possam florescer e cativar outros ao seu redor.
Ao contrário de mim.
"Queria guardá-la em um potinho e protegê-la", um ditado que sempre lia na internet e que conseguia traduzir perfeitamente o meu desejo. Queria por Lena nesse pote, queria protegê-la de todo o mundo e guardá-la no meu bolso da minha calça e carregá-la comigo para onde eu fosse. Ela seria só minha e de mais ninguém.
Mas era um egoísmo meu querer tudo isso.
Estar com ela era estar em uma viagem sem saber o destino, aquela ave pequena e independente, com suas penas avermelhadas que brilhavam como purpurina, que atraia atenção e suspiros dos outros, que transmitia beleza e alegria, deixando sempre as pedrinhas de luz por onde quer que pousasse. Trancar alguém assim seria tão injusto e cruel a este mundo que só conhece a dor.
Ao mesmo tempo, queria que ela se afastasse de mim e deixar que o tempo reconstruísse o escudo de ar que ela tanto rachou e continuar naquele oceano escuro que sempre estive, em vez de conhecer o novo.
Ao mesmo tempo eu queria que ela não partisse.
Não aguentaria uma outra perda. Meu coração arderia tanto que poderia queimar, pegaria fogo como uma chama que entra em erupção e, com sua lava, sairia destruindo tudo que vê pela frente. Eu arderia em chamas como uma tocha humana, mas não um poder que ganharia e sim uma autodestruição. Iria me queimar tanto que poderia me matar com tanto de dor invisível que me causaria e que talvez nem o tempo fosse capaz de cicatrizá-lo.
E mesmo assim, com tanta essa dor, eu também não queria mais vê-la.
Tão confuso que eu não sabia ao certo o que eu quero.
— Magnólia? — Disse Rebeca sentando sobre a mesa, balançando a mão em minha frente me trazendo de volta a realidade — Estávamos perguntando se você quer ir lanchar com a gente antes de ir para casa.
— Desculpe — Respondi tristemente voltando a guardar meu material na mochila — Eu não me sinto muito bem.
E eu não menti.
Eu estava mal, triste que me fazia querer chorar e com muitas saudades da Lena.
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Magnólia (CONCLUÍDO)
Teen Fiction🥈 em 'Ficção Adolescente' do concurso Different Blue; 🥉 em 'Ficção' do concurso A Seleção. ═════ ❀∘❀∘❀∘═════ O livro conta a complicada e triste história de Magnólia, uma adolescente prestes a sair do Ensino Médio, que vive entr...