Capítulo 2

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Confesso que durante esse tempo que fiz o mesmo caminho para à orla e procurava ir sempre no mesmo horário na expectativa de poder reencontrá-la.

Era fim da tarde e eu estava no trabalho do meu tio cumprindo a minha carga horaria de meio-período. Era estranho, mas nas férias parecia que as horas passavam como flash enquanto no serviço os minutos viravam horas.

— Oi, fã da Avril Lavigne. — Escuto uma voz atrás de mim, repondo os produtos.

Dou um passo para trás, sentindo novamente aquela sensação de como todo o ar ficasse pesado em minha volta. Com o coração acelerado, me empenhei a procurar palavras, mas não conseguia formular nada, era como se um parafuso estivesse se deslocado do algum lugar do meu cérebro e as máquinas estivesse parando de funcionar o que, de alguma forma, congestionou até as minhas vias respiratória.

Era como se o ar ficasse mais densa e, e ficasse cada vez mais pesado, tão pesado que tinha que fazer o triplo do esforço para fazer um sorriso no canto da boca.

— Como se chama os fãs da Avril Lavigne? — Prosseguiu ela agora pensativa, porém ainda com o sorriso em seus lábios.

— É... se... se chamam Little Black Stars — Gaguejo, esfregando o pano da calça nos meus

Mesmo com todas essas sensações sufocantes e agoniantes, o meu desejo de correr para longe dali e tentar recuperar o controle do meu corpo, Lena continuava dando um largo sorriso, com tanta naturalidade como se fosse a expressão mais fácil do mundo.

— Falta muito para acabar? — Pergunta ela.

— É... — Pego o meu celular no meu bolso, notando minha mão tremendo levemente. — Em 15 minutos. — Guardo rapidamente.

"Estarei te esperando na lanchonete" Ela acenou e se foi, com o seu andar leve como se estivesse saltitando enquanto seus cabelos castanhos claros dançavam de um lado para o outro, sem esperar quaisquer respostas minha.

E, como eu posso dizer o quanto a área de alimentação dos shoppings são aterrorizantes? Aquela junção de informações, o cheiro de cada tipo de comida misturado em um único ambiente, gritos e choros dos bebês, crianças correndo para todo lado, pessoas andando de um lado para o outro. E, como se ainda não pudesse piorar, a batalha de quem falava mais alto.

Lena se sentava sozinha no meio da lanchonete, com várias e várias mesas ao redor da dela e, por mais que me esforçasse para dar um passo adiante, seguir em direção a ela, falar com ela, meus pés não queriam me obedeciam.

Erguendo o rosto bronzeado de sol, seus olhos castanhos se encontram com os meus escuros, acenando com um largo sorriso nos lábios. Com seus passos leves caminho veio a mim, com a blusa xadrez vermelha por cima da camiseta branca destacando seu cordão que ia quase ao umbigo.

— Oi, de novo! — Disse ela parando em minha frente ainda com o sorriso no canto da boca. — Vamos pedir alguma coisa para a gente comer? — Abro a boca para responder, mas ela rapidamente me interrompe, levando as mãos ao rosto, coçando o queixo. — Mmm, aqui não me parece um lugar confortável. Mmmm, deixa eu ver se tem um lugar bom. — Ela se vira observando ao nosso redor. — Já sei! — Ela se vira de volta para mim, mordendo os lábios inferiores segurando o sorriso. — Vamos comer açaí? Conheço um lugar ótimo! — Abri a boca é... — Vem, vamos! — E ela saiu sem esperar pela minha resposta.

Andávamos na orla sob o céu escuro como o noturno, sem quaisquer pontos luminosos distantes, me causando uma sensação de um completo vazio e infinito, onde os holofotes trabalhavam intensamente para as crianças e os casais andassem por ali.

Durante o percurso coloquei toda a minha concentração no meu pote de açaí, calculando a força do vento e o momento exato de levá-lo a minha boca sem que eu sujasse a minha roupa de leite-em-pó.


Será que é só uma coincidência ou fim de algo? Que depois do ponto de ônibus não nos veremos mais?

Volto a encará-la e ela continuando sorrindo e gesticulando tão animadamente que fazia seus cabelos claros balançando de um lado para o outro de um modo tão suave. Eu estou certa sobre a Lena. Ela é bonita, uma beleza que atrai suspiro de todos ao seu redor e, de certo forma, eu sentia um incomodo, eu queria andar sem ser vista, mas, estar ao lado dela, fazia com que seus brilhos, a sua alegria, respingassem em mim.

Ela rodopia parando em minha frente, erguendo a sobrancelha direita, me fitando, procurando por meus olhos escuros, tentava correspondê-la por breves segundos, era como se os meus olhos quisessem se esconder dos castanhos brilhantes dos dela.

— Está tudo bem com você? — Aceno mexendo no restante açaí que ainda restava no copo. — É que toda vez quando eu olho para você, você parece estar tão distante que fico me perguntando no que você está pensando.

Ela continuava me encarando, buscando por alguma explicação enquanto eu permanecia cabisbaixa, brincando com o açaí, rodando de um lado para o outro mais rápido que anteriormente, sentindo novamente o ar em minha volta ficar mais denso e a graxa, que fazia todas as ferramentas do meu cérebro funcionar, acabasse e parasse de se mexer.

O que a Lena disse era toda a verdade, eu não fazia ideia do que ela estava falando pelo caminho, do que ela tanto se divertia, era como se o som de suas palavras se transformasse em poeira e se perdessem junto com o vento.

No passado eu tinha ama amiga como ela, alegre e sorridente, como se a tristeza nunca a derrubasse e eu era capaz de acompanhar pessoas como ela, mas agora... na verdade, talvez a estranha seja eu.

— Mas tá tudo bem, Magnólia. — Prosseguiu ela mostrando um doce sorriso. — Você é apenas você.

Ela seguiu o caminho, saltitando com seus passos leves e eu logo atrás, ainda rodando o restante do açaí de um lado para o outro, cabisbaixa e triste. Por que eu tenho tanta dificuldade em manter uma conversa?

— É aqui que ficamos. — Diz ela, parando em frente ao ponto de ônibus.

É aqui que dizemos adeus, pensei.

Talvez seja melhor assim.

Lena é muito diferente de mim. Uma pessoa como ela, com felicidade de sorrir de forma tão natural, um sorriso tão contagiante que te fazia rir junto com ela, mesmo sem saber o real motivo.

— Lena! — Digo! Vendo-a me fitar curvando a sobrancelha, ainda mantendo um sorriso nos lábios. Apertando com mais força o copo de plástico do açaí — Me dá o número do seu telefone?

Arregalo meus olhos levando a mão a minha boca percebendo o tom equivocado que me expressei. E, quando eu tentava reformular rapidamente uma frase melhor em minha mente, ela sorrir, um largo sorriso.

Um sorriso tão grande que fizeram a cor castanho dos seus olhos puxarem, diminuírem, o suficiente para corresponder os meus escuros.

— Mas eu tive uma ideia. — Disse ela mordendo os lábios inferiores, segurando o riso de uma ideia brilhante enquanto anotava o seu número no meu celular. — Nós vamos sempre nos encontrar no mesmo lugar que no vimos pela primeira vez. Aqui, neste mesmo ponto de ônibus.

Magnólia (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora