Capítulo 19

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Se passaram três meses desde aquele dia, a última vez que nos falamos, porém, não foi a última vez que nos víamos. Às vezes e de um modo tão cruel, ela surgia nos meus sonhos, me guiando e, ao mesmo tempo, ria de algo que ela falava e só ela entendia. Não suficiente, ela aparecia nas ruas movimentadas, nas calçadas, longe de mim, mas que ainda brilhava como sempre. E, ainda tinha momentos que eu a escutava chamar por mim: "Magnólia", "Magnólia" na janela ou na minha própria casa e, quando eu ia atrás dela, seguir pelo som da sua voz sua e alegre, não a encontrava.

Apesar de ter passado esse tempo todo, eu ainda sinto que estou em fase de aceitação e, quando acho que a superei, basta eu andar em frente a orla ou ao passar em frente ao ponto de ônibus, que vem tudo a tona, com a imagem dela que tanto apreciava quando ela rodopiava sorrindo quando surgia alguma ideia inesperada ou quando ela acenava enquanto pulava no meio de um formigueiro de gente, me enxergando. Me recordar de tudo isso, fazia as lágrimas caírem em meu rosto sem pedir permissão ou perceber, era como se fosse um balde que se encheu de água e começou a vazar, quando não cabia mais.

Todavia, apesar desses momentos, eu acho que aprendi a lidar com a dor, de alguma maneira, porque, nos primeiros dias, eu me neguei acreditar. Dizia constantemente para mim mesma que não passava das minhas fantasias e paranoias que minha mente criava involuntariamente e que ela aparecia para mim quando menos esperava, com aquele olhar claro que brilhava como um sol e com um sorriso que cabia perfeitamente na expressão 'de orelha a orelha'.

E quando menos percebi, voltei a me isolar novamente.

Eram nos momentos raros que eu saia da cama e, com o fim da escola e sem vontade de encontrar um trabalho de meio período, deixe me consumir pelo vazio que tanto sentia, perdendo até interesse e o prazer de fazer o que eu mais gostava: Ver anime e jogar videogame. Eu simplesmente não tinha ânimo para mais nada. Ignorei todas as mensagens que Rebeca e Gabriel e Gabriela mandavam para mim e, quando respondia, inventava uma desculpa para não ter que sair de casa. Eu só queria dormir e dormir e esperar que aquele vazio que me preenchia e a saudade que eu sentia por ela, desaparecesse como um mágico em sua caixa mágica, assim como ela fez.

Eu simplesmente não tinha forças para mais nada.

Mesmo quase morta do que viva, minha mãe passava no meu quarto todas as noites, acendia a luz e logo depois desligava, era como se ela quisesse verificar se eu estava em casa ou ainda viva quando me mexia. Todavia, às vezes ela chamava por mim, me convidando para ir sei lá onde, porém, na maioria das vezes, ficava calada, fingindo que já estava dormindo. Me sentia pior do que já estava quando fazia isso com a minha mãe, chorava ainda mais, mas eu não queria que ela me visse sofrendo, eu não queria que ela se preocupasse comigo.

Depois de tudo isso, eu desenvolvi uma espécie de raiva, um ódio de mim mesma, da vida e deste maldito mundo. Me questionava constantemente o que eu tinha feito de tão ruim para merecer tudo aquilo e o porquê de Deus me odiar.

Ninguém me ama, apenas a minha mãe e mesmo assim lhe dava mais trabalho que orgulho. Ela não sabia, porém no me quarto eu podia escutar os choros dela durante à noite. Assim como eu, ela estava perdida. Eu pensei em milhões de vezes me matar, tentei buscar tentativas nos remédios para aquele sofrimento que trazia dentro de mim sumisse, porém os resultados eram vômitos e mal estar. E, no fim, me faltava coragem buscar outros meios. Porém, no fundo, eu sabia que era uma atitude extremamente egoísta e a minha dor iria se transferir para a minha mãe.

Era triste, mas nem o amor dela não era o suficiente para me manter viva neste mundo que só me trouxe sofrimento.

E então, para evitar tudo isso, eu passei a tomar remédios para dormir, que me apagavam em menos de 15 minutos após ingerido, conseguindo evitar a angustia de coração dilacerado. Entretanto, não durou menos de duas semanas até minha mãe descobrir e brigar comigo, ao mesmo tempo que ela explicava sobre a minha amiga, tudo o que eu já sabia. Porém, ela chorava, era como se ela estivesse me implorando para que eu a ajudasse a lidar com tudo aquilo.

Magnólia (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora