Trish ajeitou os óculos escuros no rosto, caminhando pelo hall de entrada do aeroporto de Roma, varrendo o local com os olhos.
Quando avistou Mista acenando, com Giorno e Fugo ao lado, ela esboçou um largo sorriso e correu até eles, abraçando os três com força.
– Ah, que saudades de vocês! – Trish exclamou alegremente. – Achei que iam ficar o dia inteiro dormindo e não viriam me buscar!
– Olha, eu até cogitei. – Giorno provocou com um sorriso de canto e a moça deu um soquinho fraco em seu braço.
– Engraçadinho. – ela zombou e cruzou os braços. – Polnareff me contou sobre o que tá rolando com você, que história é essa de vampiro? Andou lendo Crepúsculo?
O loiro revirou os olhos dramaticamente.
– É uma longa história, podemos falar sobre isso depois. – ele explicou. – Por enquanto, vamos deixar suas malas em casa e podemos dar uma vol-
– Haha... S-Sair? Legal... – Mista disse, como se tivesse pensado em voz alta. Ele pigarreou ao sentir os olhares dos outros sobre ele. – Nada, esquece.
Giorno apenas tensionou o maxilar, pegando uma das malas de Trish e andando para fora. Mista suspirou e foi caminhando atrás dele.
A moça cutucou o braço de Fugo.
– Você também tá sentindo esse climão ou é impressão minha? – ela perguntou. – Eles brigaram?
– Se fosse só isso, seria bem mais simples... – Fugo respirou fundo, pressionando suas têmporas com os dedos. – Em resumo, eles saíram na semana passada, beberam além da conta e rolou algo, mas nenhum deles quis me contar.
– E... Você acha que eles...? – Trish questionou, fazendo um olhar presunçoso.
– Improvável. – ele respondeu, dando de ombros. – Eu vou perguntar ao Giorno mais tarde, talvez eu consiga arrancar alguma coisa dele.
– Vocês vão ficar aí fofocando ou vamos pra casa? – Mista chamou alto, já do outro lado da rua, fazendo ambos darem um sobressalto, correndo até lá.Giorno explicou toda a história no caminho até a villa, não deixando nenhum detalhe de lado. Apesar de ser uma história absurda, Trish não interrompeu ou desacreditou, pelo contrário.
Quando chegaram, Mista e Sheila foram ajuda-la a levar as malas e arrumar um dos quartos enquanto Giorno iria se trancar no escritório novamente, até o pôr do sol.
Fugo estava indignado com toda aquela situação de Giorno e Mista, principalmente quando nenhum dos dois estava cooperando em resolver, estavam dificultando algumas questões mais burocráticas da gangue e o clima estava sempre pesado. Não era psicologicamente saudável conviver com isso.
Ele caminhou até o escritório, batendo suavemente na porta até ouvir Giorno dizer "pode entrar" baixinho, girando a maçaneta.
O loiro estava sentado em uma das poltronas no canto da sala, lendo um livro. Assim que Fugo entrou, ele levantou o olhar.
– Algum problema? – perguntou, com sua voz tranquila de sempre.
– Não... Eu só queria conversar. – respondeu, sentando-se na outra poltrona, de frente para o Don. Giorno fechou o livro e Fugo imediatamente reconheceu a capa e segurou o riso por um segundo. Crepúsculo. Murolo havia dado o livro de presente de natal para Sheila, que se recusou a ler e largou na biblioteca do Don. – Está gostando do livro?
– A protagonista, Bella, é ingênua demais... E você já viu o que acontece com a minha pele quando fico muito tempo no sol, eu pego insolação mais rápido do que uma pessoa normal. – o mais novo ironizou, deixando o livro de lado e repousando o queixo na mão, com o cotovelo apoiado no descanso. – Mas não é sobre isso que você queria conversar, não é?
Fugo respirou fundo. Céus, era impressionante como Giorno sempre conseguia ler qualquer pessoa que fosse.
– É sobre você e o Mista. – ele disse, cruzando os braços. – E eu preciso de respostas concretas, então desembucha logo.
O mais novo franziu o cenho.
– Não tenho a obrigação de falar sobre minhas desavenças com ele, se é o que está insinuando. – ele respondeu, curto e grosso.
– Eu sei. – Fugo retrucou entredentes, já notando a raiva se formando. Ele respirou fundo algumas vezes, retomando a consciência. – Eu não aguento mais ver esse conflito, é desgastante para qualquer pessoa que convive com vocês... Quero ajudar a resolver isso de alguma forma.
Giorno suspirou, pensativo.
– O que quer saber?
– O que aconteceu quando você e o Mista saíram naquela noite? – Fugo perguntou. – Vocês ficaram estranhos um com o outro depois daquilo... Preciso que você seja honesto.
O loiro esfregou os olhos com uma mão, respirando fundo.
– Eu... Hã... Eu bebi o sangue dele. – murmurou, um pouco mais baixo do que planejava. Giorno conseguiu ver o mais velho arquear as sobrancelhas, surpreso. – Mas não foi nada demais, ele só cortou o indicador em um caco de vidro e eu... Bem... Você já entendeu. – ele grunhiu. Em voz alta isso soava ainda mais estranho. – E... Sangue fresco... É tão diferente...
Fugo ponderou em silêncio por alguns segundos, pensando no que iria falar.
– Eu já te contei sobre as últimas coisas que falei para o Narancia naquele dia? – ele perguntou, vendo o mais novo negar com a cabeça. – Quando ele disse que iria com vocês, eu o chamei de estúpido, inconsequente e mais algumas coisas horríveis... Eu me arrependo disso todos os dias... Disse que ele iria morrer se fosse... E pela primeira vez na minha vida, eu não queria estar certo. – explicou, mantendo sua voz firme, observando o olhar sério de Giorno, agora relaxado da expressão incomodada, para uma expressão quase triste. – O que eu quero dizer... É que vivemos num ramo em que podemos morrer ou perder um dos nossos a qualquer segundo... Eu não quero ver o que aconteceu comigo e o Narancia se repetir com você e o Mista.
Giorno se levantou, caminhando de um lado para o outro com as mãos no rosto.
– Você não entende... Isso é totalmente diferente, eu bebi o sangue dele. – ele disse, nervoso. – Foi muito além da sensação de beber o sangue do hospital... Foi... Muito bom.
– Mas você está incomodado porque bebeu sangue fresco ou porque o sangue era do Mista? – Fugo perguntou e Giorno parou de repente, em silêncio.
– Eu não sei. – disse, franzindo o cenho.
O mais velho revirou os olhos e se levantou, tirando algo do bolso. O velho canivete que Narancia sempre carregava por aí.
Antes que Giorno perguntasse o que ele iria fazer, Fugo apertou a pequena alavanca no punho, revelando a lâmina, levantou um pouco a manga de seu paletó e fez um corte no próprio pulso, sem nem mostrar uma expressão de dor em seu rosto.
O aroma imediatamente tomou conta da sala inteira e Giorno sentiu um calafrio violento ao ver o sangue escorrer pela mão do mais velho. Havia bastante, provavelmente ele cortou alguma artéria.
– Isso é sangue fresco. – Fugo disse, estendendo o braço. O líquido escorreu por sua pele até respingar no chão.
Tinha um cheiro completamente diferente do de Mista. Ainda era um cheiro forte, mas quase como pimenta, ao mesmo tempo que parecia ser tão doce.
Giorno engoliu em seco, visivelmente tenso.
– O que você quer provar com isso? – perguntou entredentes.
– Que essa sua preocupação se trata de sangue fresco, não exclusivamente do sangue do Mista. – Fugo explicou e deu de ombros. – Se você quiser, vá em frente. Eu não me importo.
O loiro precisou piscar algumas vezes, tentando se situar novamente.
Ele caminhou até Fugo, segurando seu braço e tocando a ferida com a ponta dos dedos, observando o brilho dourado enquanto o corte se fechava.
– Não dói? – Giorno perguntou.
– Já me acostumei. – ele respondeu.
Ao ouvir a frase, o mais novo tensionou os ombros novamente.
Ele segurou a manga de Fugo e a levantou, expondo seu antebraço repleto de cicatrizes horizontais idênticas, as vezes se cruzando e algumas bem grossas. Conseguiu ver por menos de um segundo antes de Fugo puxar o braço bruscamente, colocando o tecido de volta no lugar.
– Não olhe para mim com essa cara de pena. – ele disse. – Já fazem anos, não importa mais.
Giorno hesitou por um momento.
– Quem sabe sobre...? – questionou, indicando-o.
– Até agora só você. – Fugo suspirou e caminhou até a porta. – Esquece isso... E pensa no que eu disse.
O som da porta se fechando ecoou pelos ouvidos do loiro, junto com as palavras de seu amigo. Ele colocou as mãos na cabeça novamente, respirando fundo várias vezes.
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Scarlatto
FanfictionAlgo estranho tem acontecido com o corpo de Giorno Giovanna. Os genes de seu lado paterno passaram a se aflorar pouco a pouco, iniciando sua luta para não se tornar um monstro por completo. Enquanto isso, uma organização inimiga se ergue para destru...