Já fazia cerca de uma semana que Giorno bebeu o sangue de Mista.
Desde então, aquele clima estranho entre os dois havia se acalmado, substituído por alguns bons momentos aleatórios de afeto, um pouco mais íntimos do que antes.
Era fato que Mista era uma pessoa bastante tátil. Ele sempre abraçava, envolvia e tocava para demostrar afeto à quem convivia consigo, incluindo Giorno. Mas com o loiro era completamente diferente dos outros. Era uma espécie de carinho especial, quase como se prometesse algo... À mais.
Por exemplo, após resolver alguns conflitos entre seus capos, Giorno precisou chamar Mista para o escritório e entregar-lhe uma missão de execução, algo bem simples que o mais velho poderia resolver ainda no mesmo dia. Ele tirou os arquivos com informações do alvo das mãos de Giorno, se aproximando rápido para dar um beijinho em sua bochecha antes de sair.
Isso se tornou um movimento habitual de Mista nos últimos dias, mas não falhava em travar a mente de Giorno por alguns segundos, mas não de uma forma ruim. O loiro sempre acabava notando um sorriso bobo no próprio rosto.
Em uma noite em específico, Giorno encarava o papel em branco em cima de sua mesa, com a caneta na mão e sem nenhuma ideia do que escrever. Mista estava sentado em uma das poltronas logo na frente, com a arma desmontada na mesa enquanto limpava cuidadosamente cada peça.
O loiro estava tão concentrado olhando para o papel, que nem reparou o pistoleiro se aproximar e encostar com a ponta do indicador entre suas sobrancelhas, tomando sua atenção.
– Tá criando uma ruga bem aqui. – Mista disse, voltando à posição anterior.
Giorno piscou algumas vezes e tocou o mesmo local.
– É sério?
– Uhum... É porque você tá tão tenso que tá fazendo essa cara pro papel. – o pistoleiro explicou, imitando sua expressão, com o cenho franzido, e logo voltou a atenção para a arma, montando-a novamente.
– Eu... Não faço ideia do que escrever para ela... – Giorno murmurou, largando a caneta e colocando as mãos no rosto, soltando um longo suspiro.
– Por que você simplesmente não chama ela para conversar? – Mista deu de ombros. – É melhor expressar o que você sente pela fala... Soa melhor do que no papel.
O loiro apoiou os cotovelos na escrivaninha, ponderando internamente.
– É... Pode ser uma boa ideia. – ele pegou a caneta, escrevendo rápido por alguns minutos em sua caligrafia elegante e assinou, erguendo o papel para poder ler em voz alta. – "Mãe, convido-a para se encontrar comigo em pessoa no dia que lhe for mais conveniente, posso mandar um carro para busca-la e podemos conversar. Assinado: Giorno"... – o loiro disse e largou o papel na mesa, erguendo o olhar para ver como Mista reagiria. – O que você acha?
– É ótimo. Simples e direto. – ele assentiu, guardando a arma no cós da calça. – E vocês podem colocar o papo em dia... É uma chance de se aproximar da sua mãe.
Giorno se levantou da cadeira, caminhando de um lado para o outro.
– Eu não a vejo há anos... – murmurou, com uma mão no queixo. – Me pergunto por que ela decidiu que queria me ver justamente agora.
– Talvez porque o seu rostinho bonito está estampado em praticamente todos os noticiários e sua cabeça deve valer só uns bilhões de euros... – Mista ironizou e o acompanhou com os olhos, vendo o loiro se escorar na escrivaninha.
– Eu não sei... Ainda me parece suspeito. – Giorno disse e alcançou seu celular, digitando algo. – Eu decidi... Vou pedir ao Fugo para entregar a carta pessoalmente a ela.
– É uma boa. – o mais velho respondeu, apoiando os braços nos descansos da poltrona, batucando os dedos. – Tem mais algo pra hoje?
O loiro levantou a manga da camisa para olhar seu relógio de pulso.
– Reunião com os soldatos do Caprese daqui uns vinte minutos. – ele disse, vendo Mista assentir, desviando o olhar.
– Vinte minutos... Beleza... - murmurou, agora encarando-o e arqueando uma sobrancelha. – O que a gente faz nesse tempo?
Giorno não conseguiu segurar um riso baixo.
– Nossa, você é tão óbvio. – ele disse, recebendo um sorriso convencido de volta.
– Sabe que eu não tenho mais nada a esconder de você. – Mista ergueu as mãos em rendição.
Oh, eu sei muito bem o que você está pensando em fazer nesses vinte minutos.
O Don lançou um olhar rápido para a porta, apenas para ter certeza de que estava fechada, e segurou a gola do suéter de Mista, puxando-o com força até que ele ficasse de pé na sua frente e tomando seus lábios antes que ele pudesse contestar.
E Mista não contestaria mesmo.
Esse contato lascivo estava guardado apenas para seus olhos. Não era nada como os beijinhos discretos e carinhosos que chegaram a trocar na frente de Fugo, Trish e Polnareff. Era cem vezes mais intenso.
O pistoleiro não perdeu a oportunidade de repousar uma das mãos da nuca de Giorno, lentamente entrelaçando os fios dourados de seus cabelos entre os dedos e sentindo o quão macios eram.
Mista deu um sobressalto e um riso abafado ao sentir a mão gelada do loiro entrar por baixo de seu suéter, acariciando seu tórax durante o beijo.
– Mãos de cadáver é coisa de vampiro também? – ele perguntou, vendo Giorno se afastar para mostrar um olhar confuso. – Nah... Acho que já eram frias assim antes dessa história toda.
O mais novo riu ironicamente, beijando-o mais uma vez e suspirando ao senti-lo morder de leve seu lábio inferior. Giorno se sentou na mesa, puxando Mista para perto com a perna esquerda em sua cintura.
Estava esquentando muito rápido, de uma forma que estava deixando o loiro quase febril.
Era nesses momentos que, se Giorno prestasse muita atenção, conseguiria ouvir os batimentos de Mista. À medida que beijava seu pescoço, conseguia ouvir até o sangue fluindo por seu corpo, dos vasos mais amplos até os capilares. Queria sentir aquele sabor viciante de novo e também, por mais que a culpa fosse sufocante, queria ver aquela expressão hipnotizada de Mista mais uma vez.
O som da porta do escritório se abrindo fez Giorno empurrar o pistoleiro de volta para a poltrona, rapidamente virando-se de costas para quem tinha entrado e de frente para a sua mesa, tentando dar um jeito em seus cabelos já bagunçados. Mista cruzou as pernas e cobriu o rosto com uma mão, quase falhando em tentar segurar o riso.
– Tá... – Fugo murmurou, franzindo o cenho ao reparar na situação. – Eu sei que vocês são meus amigos, que eu estou muito feliz pela relação dos dois e tal, mas... Se me chamou pra participar disso aí, a resposta é "não".
– N-Não! Não é isso! – Giorno logo respondeu, alcançando rápido o papel de carta e entregando ao rapaz. – Só preciso que você entregue essa carta ainda hoje... E possivelmente trazer uma mensagem de volta.
– E aprender a bater na porta antes de entrar. AI! – Mista completou, rendendo um soco de Fugo em seu ombro quando ele passou ao lado para pegar o papel, caminhando até a porta.
– Ah... E tenho que avisar que os homens do Caprese já chegaram.
– Ótimo, só peça para que eles esperem uns... – Giorno olhou seu relógio novamente. – Cinco minutos.
Fugo mostrou um sorriso cínico.
– Cinco minutos dá tempo de...?
– Dá sim, dispensado. – o mais novo o empurrou para fora do escritório e fechou a porta, com um pouco mais de força que o necessário, e Mista caiu na gargalhada. Giorno escondeu o rosto entre as mãos, respirando fundo. - Argh... Que vergonha...
– É, você pode fazer essa sua expressão neutra perfeita o quanto quiser, mas a sua cara toda vermelha já entrega. – o pistoleiro disse, rendendo um olhar do loiro.
– Mentira.
– Tô falando sério! E não é nada demais, eu acho tão fofo. – Mista explicou com um sorriso e Giorno apenas desviou o olhar. – Ó, tá fazendo de novo.
– Tsc...
– O problema é que você se retrai muito. – o pistoleiro se levantou, caminhando até Giorno e apertando suas bochechas, quase forçando-o a mostrar um sorriso. – Tem que se soltar mais, Blondie.
"Blondie"? Isso não é uma banda?
O apelido quase fez o mais novo rir, mas continuou mantendo a mesma expressão neutra e afastou as mãos de Mista.
– Culpe todos os anos de negligência emocional que sofri ao longo da minha vida. – Giorno disse e imediatamente o mais velho parou de rir, como se tivesse ouvido uma piada terrível.
– Hã... Vamos trabalhar melhor isso, ok? – ele tocou com o indicador na ponta do nariz do loiro, soltando um riso nervoso.
– E o GioGio não vai mais sofrer negligência emocional porque a gente gosta muuuito dele! – Cinque surgiu no ar, voando para abraçar o rosto do Don. Logo as outras Pistols fizeram o mesmo, até enroscando-se nos cabelos dourados.
– Ei! – o rosto de Mista ficou vermelho ao ouvir as palavras de seu Stand.
Giorno não conseguiu conter um sorriso irônico.
– Oh, é mesmo?
– É sim! – Tre respondeu, empurrando Cinque para o lado e abraçou a bochecha do rapaz – Se a gente está falando isso, é porque o Mista é doidinho de pedra por você!
– Tre! – o usuário repreendeu com um grunhido. Seu rosto ficou em um tom ainda mais vermelho. – Fica na sua e para de maltratar o Cinque!
Como se quisesse provar sua teimosia, Tre voou para o lado de Cinque e acertou a mãozinha com força no rosto do outro.
– AI! Eu não fiz nada! – Cinque choramingou. – GioGiooo, olha eleee!
– Tre, é bom parar com esse comportamento, senão eu passo mais tempo com o Cinque e menos com você. – Giorno disse e as outras Pistols fizeram "uuuhhh" em provocação.
– Ah! Desculpa, desculpa! Não vai acontecer de novo! – o Stand logo respondeu, envergonhado e fazendo beicinho. – Você me desculpa, GioGio?
– É claro. – o loiro esboçou um sorriso e o chamou para perto. Tre flutuou novamente até os cabelos alheios, aconchegando-se em um dos três cachos na franja.
Mista encarava toda a cena, completamente incrédulo.
– Como você consegue lidar com o meu Stand melhor do que eu mesmo?! – ele perguntou boquiaberto e Giorno deu de ombros. O pistoleiro cerrou os olhos, desconfiado. – Você não anda dando comida escondido pra eles de novo, né?
– Claro que não. – o mais novo respondeu no mesmo instante. Giorno era um ótimo mentiroso, ao contrário das Pistols, que logo se mostraram agitados, soltando alguns risos abafados. – E vocês vão ter essa cara de pau pra me entregar assim? – o loiro perguntou, mostrando uma expressão entristecida. – Isso me magoa muito.
Os seis mini-Stands começaram a choramingar simultaneamente, com vários pedidos de desculpas e os outros dois riram.
– Tá, tá! Já de volta pra arma! – Mista disse, vendo-os flutuar para o barril aberto de seu revólver, finalmente ficando em silêncio. – Vou trazer os convidados, ok?
– Ok. – Giorno assentiu com um sorriso e o pistoleiro beijou sua bochecha antes de sair do escritório.
O Don suspirou e olhou rápido no espelho da parede, arrumando seu cabelo e a gola da blusa.
Ele se sentou na cadeira e respirou fundo. Pelo que se lembrava, a maioria dos soldados do capo Caprese eram sicilianos, então Giorno já estava preparando os ouvidos para ouvir alguns escândalos com sotaques carregados.
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Scarlatto
FanfictionAlgo estranho tem acontecido com o corpo de Giorno Giovanna. Os genes de seu lado paterno passaram a se aflorar pouco a pouco, iniciando sua luta para não se tornar um monstro por completo. Enquanto isso, uma organização inimiga se ergue para destru...