Confiança. Esse era o significado da flor que nomeava a família Rosmarino. Mas era tão irônica a forma que faltava a tal confiança entre os familiares.
Foi Alfredo Rosmarino quem fundou uma grande siderúrgica na América do Norte, trazendo assim, muita riqueza para o seu nome e sua família.
Orzo era o mais novo de três irmãos, com isso, o mais desprezado entre eles.
Seu irmão mais velho, Pedro, era o primogênito e herdeiro oficial da família. Paola, tendo nascido mulher, foi-lhe arranjado um casamento quando ainda era adolescente.
Havia cerca de dez anos de diferença de Orzo para seus irmãos. Não era um filho esperado, não haviam expectativas em si, seu pai o desprezava e seus irmãos descontavam suas raivas e infelicidades no garoto.
Pelo menos ainda tinha o amor incondicional de sua mãe. Era para ela que Orzo sempre poderia ir quando precisava de conforto. Helena Rosmarino era praticamente um anjo que desceu na terra, para se misturar com os mortais sujos e indignos.
– O que houve dessa vez, meu bem? – ela questionava com um tom de voz doce e amoroso quando encontrava o filho mais novo chorando no canto do quarto.
– P-Pedro soltou um dos cães pra cima de mim... – Orzo resmungou, mostrando a marca ensanguentada da mordida em seu braço. – T-Tá doendo...
– Oh, não... – Helena se abaixou para observar o ferimento. – Venha, a mamãe vai cuidar desse dodói, ok?
Ela levou o menino até uma das salas da mansão e pediu à governanta que trouxesse um kit de primeiros socorros.
Logo Helena começou a limpar o machucado, tomando todo cuidado possível.
– Eu... Sujei a sala com o sangue... – Orzo disse baixinho. – Se eu não limpar, papai vai...
– Shh... Não se importe com isso agora. – a mãe o tranquilizou com uma carícia em sua bochecha, enrolando gaze branca no braço do menino. – Está tudo bem...
Orzo tencionou todo o corpo ao ouvir o som característico dos sapatos Oxford que seu pai costumava usar, se aproximando.
– O que aconteceu? – o homem perguntou sério, no vão do arco da sala.
– Oh... Um dos cães... – Helena gaguejou, como se estivesse mentalmente escolhendo as palavras certas. – Um dos cães mordeu Orzo...
– Qual deles? – Alfredo questionou de novo e a mulher virou o olhar para o filho.
– F-Foi... O Z-Zeus... – Orzo murmurou, assustado. – Mas ele não me mordeu com tanta força, ele estava brincando!
– Chega, eu não quero ouvir mais nada! – o homem segurou o outro braço do menino, puxando-o para fora.
– Alfredo, não! – Helena se levantou com um pulo, correndo atrás para segurar seu filho. – Não faça isso, é só um animal, ele não pensa como nós!
– Animal ou não, derramou sangue Rosmarino. – Alfredo virou o rosto para um dos corredores, onde ficavam os outros quartos. – Pedro! Paola! Venham já aqui!
Pedro apareceu em sua porta, com um sorriso cínico.
– Nossa, irmãozinho! O que aconteceu com o seu braço? – perguntou, com falsa compaixão.
– Pedro, eu sei que isso é coisa sua. – Helena disse, firmemente, vendo o rapaz revirar os olhos.
– Tanto faz, não é como se seu filhinho favorito tivesse morrido. – ele ironizou.
– Zeus não mordeu com tanta força. – Paola disse, também saindo de seu quarto. – Se tivesse, teria arrancado o braço dele.
– Pois bem... – Alfredo indicou que o seguissem até o lado de fora. Orzo segurava a mão de Helena, tremendo da cabeça aos pés quando notou que já estavam no canil da mansão. – Olhe com atenção, Orzo... Isso acontece com quem derrama nosso sangue.
Entre os latidos dos outros cães, Alfredo entrou em um dos compartimentos, o que abrigava um grande Rottweiler, que os empregados carinhosamente nomearam de Zeus. O cachorro estava com uma focinheira, sentado no canto e assustado.
– Não! – Helena exclamou quando ouviu o ganido alto do animal após ser chutado.
O homem continuou golpeando várias vezes enquanto Orzo encarava a situação, assustado. Sua mãe conseguiu cobrir seus olhos, entre soluços altos e lágrimas no rosto.
– Não olhe, meu bem... Não olhe... – ela sussurrou.
Mas Orzo não conseguia desviar seu olhar por entre as brechas dos dedos de Helena. Era uma cena grotesca e violenta, mas o garoto parecia hipnotizado e enojado ao mesmo tempo.
Alfredo apenas parou a agressão quando o cão parou de fazer barulho, agora aparentemente morto.
– Pronto. Que a mensagem tenha ficado clara. – ele disse, saindo do canil. Ele apontou para o menor, com um olhar sério. – Jamais permita que ser nenhum derrame seu sangue, Orzo... Jamais.
O homem caminhou de forma imponente de volta para a casa.
– Tsc... Moleque idiota, Zeus era o melhor cão de guarda da casa. – Pedro resmungou, seguindo o pai junto com Paola.
Orzo notou a mão trêmula de sua mãe e o rosto da mulher encharcado de lágrimas.
– Mamãe... Por que está chorando? – ele questionou e Helena se ajoelhou na sua frente, segurando as duas mãos do menino.
– A mamãe não gosta de violência... – ela explicou, respirando fundo.
– Mas o Zeus me machucou.
– Eu sei, meu amor... Mas... É um animal, ele não age por inteligência como nós, humanos, ele age por instinto. – Helena disse. – Ele foi ensinado e adestrado para agir assim...
– Como Pedro e Paola? – Orzo perguntou, notando o silêncio hesitante de sua mãe.
– Sim... Como Pedro e Paola, mas ainda é diferente... – ela limpou as lágrimas. – Orzo, pode me prometer uma coisa? – Helena perguntou, vendo o filho assentir. – Não importa o que seu pai ou seus irmãos digam, eu amo você e sempre amarei... Me prometa que você não vai ser como eles... Me prometa que vai se manter humano.
O garoto não entendia bem o que ela quis dizer, mas sabia do pesar de suas palavras no momento.
– Prometo. – ele disse e abraçou a mulher. – Não chora, mamãe...
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Scarlatto
FanfictionAlgo estranho tem acontecido com o corpo de Giorno Giovanna. Os genes de seu lado paterno passaram a se aflorar pouco a pouco, iniciando sua luta para não se tornar um monstro por completo. Enquanto isso, uma organização inimiga se ergue para destru...