XXIII - Consequências

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Após a ligação com Josuke, Giorno entrou em contato com a Fundação Speedwagon. Duas pessoas trabalhando para conseguir falar com Jotaro era melhor que uma.
Cerca de uma semana depois, a visita a Nápoles estava planejada e em progresso. Josuke insistiu em ir junto, afinal não iria perder uma oportunidade de passar tempo com seus novos amigos.
Giorno não teve nenhum surto de abstinência desde então, já que Polnareff o estava forçando a beber sangue do hospital.
Mas as dores de cabeça estavam incessantes, principalmente quando o Don fazia contato visual com a máscara de pedra. Fora o fato de que Mista parecia incomodado com algo, mas se recusava a dizer o que era.
– Eu simplesmente não sei o que está passando na cabeça dele... – Giorno disse, encarando a tartaruga na sua mesa do escritório e o espírito escorado no casco.
– Essa é nova... No geral é ele quem diz isso sobre você. – Polnareff zombou, recebendo um olhar. – Olha, não é querendo colocar a culpa pra cima de você nem nada... Mas dá um tempinho pro Mista... Não é todo dia que se é atacado por um vampiro em abstinência.
– Não é por isso. – Giorno retrucou. – Ele... Não pareceu preocupado naquele dia.
O francês suspirou.
– Tente conversar com ele. – disse, com uma mão no queixo. – Sabe... Comunicação é a chave de tudo.
– Você sabe que isso de comunicação não é lá o meu ponto forte... Mas vou tentar. – o rapaz soltou um longo suspiro. – E sobre o resto da "Caravana Joestar"?
– Pff... Caravana Joestar... – Polnareff repetiu, segurando o riso. – Não vai demorar muito para o Jotaro chegar... Tente não atormenta-lo tanto dessa vez.
– Não prometo nada. – Giorno revirou os olhos. – Eu já desisti de tentar ganhar aprovação dele há muitos anos.
– Aprovação? – o francês questionou, intrigado. – Você... Buscava aprovação do Jotaro?
– Não é nada tão... Sabe? – ele gesticulou vagamente. – É só que... Depois que eu descobri que tenho outros parentes de sangue mundo afora, acho que eu quis me sentir conectado com eles... Mesmo que fosse só um pouco. – Giorno explicou, desviando o olhar. – Kujo não foi um bom começo... Ele nunca foi receptivo comigo... Bem diferente do Josuke, nós viramos amigos logo de cara...
– E Josuke foi quem lhe deu essa aprovação? – Polnareff perguntou. O loiro hesitou por alguns segundos antes de assentir. – Olha, GioGio... Eu sei que você não é mais uma criança e que odeia que eu lhe trate como tal... Mas aqui... – ele indicou com uma mão em seu peito. – Aqui você ainda está profundamente ferido e magoado por tudo que já enfrentou... Você permitiu que sua criança interior se curasse aos poucos, independente da aprovação de Jotaro ou de seja lá quem for...
Giorno suspirou mais uma vez, impaciente.
– O que isso tudo quer dizer?
– Só que você já conquistou o suficiente. – Polnareff continuou. – Você não precisa e nunca precisou da aprovação de ninguém... Por que seria diferente agora? Você está se cobrando demais pelos Joestar.
– Tá, que seja. – o rapaz se levantou bruscamente, caminhando até a porta.
O francês encarou suas costas em silêncio por alguns segundos.
– Ei.
– O que? – Giorno se virou rápido, quase como um mecanismo de defesa automático e agressivo.
– Eu tenho muito orgulho de você, Giorno. – Polnareff disse, imediatamente notando a expressão do mais novo passar de raiva para surpresa, desarmando-o por completo. – Eu reconheço você como uma pessoa além da sua relação de sangue com o Dio. Eu tenho orgulho de você. Da pessoa que você se tornou. Não dele.
Ele abriu e fechou a boca várias vezes, como se estivesse escolhendo mentalmente o que iria responder. Era difícil ver as palavras faltarem para Giorno dessa forma.
Afinal de contas, lá no fundo você ainda é um garotinho assustado... Polnareff pensou sorrindo de canto. Mas tudo bem, dê tempo a si mesmo. Permita-se sentir todas as suas emoções.
Ele notou uma ou duas lágrimas perdidas caindo dos olhos de Giorno, que foram limpadas imediatamente na manga de seu terno.
– Por que isso agora? – o rapaz questionou. Era claro que ele estava disfarçando a voz trêmula.
– Achei que você precisasse ouvir algo do tipo. – Polnareff respondeu, dando de ombros. – Está tudo bem, não precisa se cobrar tanto.
Giorno assentiu e respirou fundo, retomando o pouco de compostura que ainda teria.
– Obrigado... – ele murmurou.
– Ah, mais uma coisa. – o francês continuou, vendo-o levantar o olhar novamente. – Josuke disse que ia tentar trazer algo especial para você, mas não me disse o que era... É para ser uma surpresa, então não diga que eu abri o bico.
O rapaz riu baixo.
– Não vou dizer... – respondeu. – Obrigado, Polnareff.
– Por nada... Depois vá conversar um pouco com o Mista, ok? Não se preocupe, as coisas vão se resolver no momento certo.
Giorno assentiu em silêncio antes de caminhar para fora da sala.
Por mais que Polnareff dissesse para não se preocupar, não conseguia evitar pensar no que estava deixando o pistoleiro tão distante de repente.

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