XIII - Comfortably Numb

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– Braço esquerdo. – Trish lançou um olhar para Fugo. – Bingo.
O braço esquerdo seria onde o atirador teria levado uma bala de Mista no outro dia.
No mesmo instante, Miele sacou um revólver. Algo puxou Trish pelo pescoço para perto da mulher, que colocou o cano da arma contra sua cabeça.
– Oh... Então você é o atirador empata foda. – a rosada sorriu, recebendo um olhar ameaçador de Miele. – Eu planejava testar isso com todos que nos visitassem nos próximos dias... Não acredito que acertei de primeira.
A secretária levou o olhar até Fugo, que já estava em posição de luta.
– Você é o usuário do Purple Haze, não é? – ela murmurou. – Se eu soubesse que teria que lidar com um Stand tão problemático, eu teria trazido a senhora Rosmarino comigo... – Miele pressionou o cano da arma com mais força contra a têmpora de Trish. – Mas estou com sorte... Você não usaria um Stand tão perigoso contra sua própria amiga.
Fugo hesitou. Realmente, estavam em um ambiente interno e longe de qualquer luz solar, se uma das cápsulas de Purple Haze estourasse ali, os três morreriam. Tinha que pensar em uma forma de pelo menos tirar Trish dali.
Antes que seu plano entrasse em prática, ele viu Trish bater com o cotovelo no abdômen de Miele, fazendo-a recuar um pouco. Ela segurou o braço da secretária e, com um impulso de seu corpo, a jogou para frente com um golpe de judô e imobilizou o braço que ela segurava o revólver, pressionando o peito da mulher contra o chão.
– O que? Tá surpresa que a puta consegue te dar uma surra? – Trish zombou.
Fugo viu algo rastejar pelo braço se Miele, em direção à garota. Um Stand.
– Trish, cuidado! – ele exclamou.
Trish se afastou bruscamente, tão concentrada em se afastar do Stand que esqueceu que a usuária estava armada.
Comfortably Numb! – Miele bradou o nome do stand e puxou o gatilho de seu revólver na direção de Trish. Novamente, o estrondo do tiro não foi ouvido, mas a garota sentiu o impacto em seu ombro direito e o sangue espirrar.
– Argh! Merda! – ela exclamou, colocando a mão por cima para estancar o sangramento, cambaleando para trás.
Miele apontou a arma para sua cabeça, pronta para apertar o gatilho. Fugo avançou e atingiu a mulher com o ombro, usando toda a força de seu corpo para afastá-la.
– Sai daqui! – ele berrou para Trish. – Vou usar meu Stand!
– Não! Você vai se matar! – a garota respondeu, grunhindo de dor.
Um estrondo alto soou do lado de fora e todas as luzes se apagaram, deixando a sala banhada na escuridão.
– O que foi isso?! – Trish perguntou, olhando em volta.
– Explodi seu gerador. – Miele respondeu e ambos olharam em volta, sem saber de onde vinha a voz. – Sem ver ou ouvir... É o ambiente perfeito para o meu Stand matar os dois.
– Você não enxerga no escuro, também está em desvantagem. – Trish ironizou.
– Oh, será? – ela disse, seguida por vários segundos de silêncio absoluto. Fugo deu um impulso para frente com um grito alto e estridente. – O meu Comfortably Numb é basicamente um silenciador muito eficaz... Pode não ser bom para confrontos diretos... Mas é perfeito para assassinatos furtivos.
O último tiro havia acertado Fugo bem no abdômen, derramando sangue aos montes em suas mãos. Ele sentiu o cano frio da arma encostar em sua cabeça.
Trish se levantou com dificuldade e correu na direção que lembrava ter ouvido o grito de Fugo, preparando Spice Girl para um soco. Seus olhos já estavam se acostumando com a escuridão, conseguia ver o amigo de joelhos no chão e a secretária apontando a arma para sua cabeça.
Uma luz forte brilhou logo no seu rosto, quase fazendo seus olhos queimarem. Trish os cobriu com as mãos, cambaleando e grunhindo de dor.
Miele havia puxado uma lanterna de sua bolsa. Forte o suficiente para arder os olhos de quem olhasse direto para a luz, fazendo as pupilas se contraírem imediatamente.
Novamente, Trish estava em meio ao breu.
Ouviu algo arrastar rápido no chão, o baque de alguém caindo e outra pessoa correndo em sua direção.
Fugo havia chutado as pernas de Miele para desequilibrá-la, ganhando tempo o suficiente para correr até Trish e agarrar seu braço com força.
– Quando eu mandar você sair... – ele começou, puxando a moça para o corredor. – ... VOCÊ SAI!
– Eu não vou deixar você usar seu Stand em um ambiente fechado e escuro! – Trish rebateu, puxando seu braço bruscamente para se livrar do aperto, passando pelo aro da porta do escritório de Giorno, saindo da vista da assassina. – Você quer morrer, porra?!
Antes que Fugo respondesse, sentiu algo passar rápido em sua perna, acompanhado de uma dor ardente no local.
– Achei. – a voz arrastada de Miele soou no outro lado do corredor. Ela estava apontando a arma diretamente para Trish.
A moça puxou Fugo com força para dentro do escritório, fazendo Spice Girl fechar a porta.
A bala encostou na superfície, criando um longo trajeto elástico que Trish segurou e puxou como o elástico de um estilingue. Ela soltou e ouviu a bala zunir, cortando o ar.
Pelo grunhido alto de dor e de algo pesado caindo no chão, teve certeza de que havia acertado e desarmado a secretária.
– Fica de vigia na porta! Eu vou procurar uma lanterna! – Trish disse e correu até escrivaninha de Giorno, revirando rápido algumas gavetas e o armário de frente para a porta.
Fugo assentiu em silêncio, abrindo uma brecha da porta com cuidado.
Ele sentiu o impacto de um chute na madeira, forçando-o a recuar alguns passos. O rapaz viu o rosto da mulher entre o escuro, junto com a imagem de uma serpente no meio do bote. O Stand réptil se enrroscou em seu pescoço junto com as mãos ensanguentadas da usuária e Fugo se viu com as costas no chão, com o peso de Miele o mantendo preso e cortando sua respiração.
Ele tentou gritar para avisar Trish, mas ela não ouvia. Fugo sentia suas cordas vocais vibrando violentamente, mas nenhum som saía.
Se continuar assim... Ela vai me matar asfixiado! O rapaz pensou, já sentindo os olhos arderem pela pressão em seu pescoço. Trish não me ouve e está de costas para mim!
Fugo olhou rápido para os lados e notou a lanterna de Miele jogada no chão à sua esquerda. Ele esticou o braço com dificuldade, alcançando o pequeno interruptor, ligando e desligando várias vezes na direção de onde a amiga estava.
Trish notou a luz piscando e se virou, deparando-se com a cena. Spice Girl surgiu, mas logo recuou ao notar Purple Haze aparecer com um rosnado, empurrando Miele de cima de seu usuário.
– Sai daqui! – Fugo balbuciou, com a voz rouca, se levantando.
– Mas...
– EU MANDEI SAIR, PORRA! – ele berrou, com os olhos completamente vidrados, da exata forma que ficavam quando perdia o controle de sua raiva.
Trish engoliu em seco e usou seu Stand para atravessar a parede para o lado de fora da casa, notando o rapaz tirar uma cápsula de vírus de seu Stand.
Purple Haze agarrou o pescoço de Miele, com rosnados altos.
– N-Não! Não! – a mulher gritou, tentando afastar os braços do Stand, mas passando diretamente por eles.
– É isso que você recebe quando bate de frente com a porra da Passione! – Fugo respondeu, acertando um soco forte no rosto de Miele e sentindo a cápsula quebrar em seu punho fechado. – Que o recado fique dado para aquele pervertido do Rosmarino!
Ela gritou ao sentir o vírus corroer sua pele aos poucos, chegando nos músculos e desintegrando-a lentamente.
– O-Orzo! S-Socorro! – Miele balbuciou enquanto via pedaços grandes de seu corpo e vísceras caírem bem na sua frente e se tornarem uma gosma orgânica no chão, até que finalmente a mulher se desintegrou por completo.
Fugo recuou alguns passos, ainda ofegante, e caiu de joelhos no chão. Sentia os efeitos do vírus o corroendo por dentro lentamente. Seu corpo pendeu para frente contra sua vontade e sentiu sua garganta arder. Ele abriu a boca e vomitou, notando a quantidade exagerada de sangue que colocou para fora.
– Você ficou louco, porra?! – Trish berrou, entrando no escritório pela janela e correndo até o rapaz, ajudando-o a se levantar. – Como você ainda está vivo?!
– Usei o Distortion... – Fugo balbuciou, sentindo mais sangue escorrer de sua boca. – O vírus ainda me afeta, mas o processo é muito mais lento do que em outras pessoas...
– Eu preciso te levar até o Giorno! – Trish disse, auxiliando o rapaz a ficar de pé e a passar pela janela.
– Certo... Vai até o meu carro. – ele murmurou, indicando o sedan cinza na garagem.
A moça o arrastou para o banco de passageiro e correu para o banco do motorista.
– Oh, merda... – ela sussurrou.
– O que?
– Eu não sei dirigir carro com marcha!
– Vai aprender agora. Senta aí. – Fugo ironizou e tossiu violentamente, derramando mais sangue em cima de si. – Pisa na embreagem e gira a chave.
– Tá, tá... Parece fácil... – Trish fez exatamente o que ele havia instruído, mas o carro deu apenas um impulso para frente e desligou.
– De novo. – Fugo disse e ela repetiu, apenas para acontecer a mesma coisa. O rapaz soltou mais algumas tosses com sangue. – Puta merda, eu vou morrer...
– Não vai, não! – a moça exclamou e finalmente conseguiu ligar o carro. – Isso!
Assim que ela pisou no acelerador, o veículo desligou novamente.
– É, eu vou morrer. – Fugo ironizou.
– Cala a boca! Para de falar isso!

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