CAPÍTULO UM

1.4K 46 14
                                    

Contornei as estantes do último andar e minhas mãos correram para as prateleiras que eu conhecia tão bem, mas há muito tempo não via

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Contornei as estantes do último andar e minhas mãos correram para as prateleiras que eu conhecia tão bem, mas há muito tempo não via. Passei meus dedos pelas bordas de cada uma delas, tateando no escuro, contando sua posição mentalmente, até parar no lugar correto. Corri as pontas dos dedos pelas lombadas de couro dos livros, tentando identificar as marcas que eu mesma fiz, décadas atrás. O cheiro abafado e sufocante irritava o meu nariz, enquanto eu procurava apressadamente, atenta à atividade habitual da biblioteca. 

Se houvesse uma resposta para esse maldito, encontrá-la-ia aqui, na parte mais cavernosa da biblioteca Colossos, o lugar onde passei boa parte da minha juventude, aninhada entre pergaminhos centenários e livros antigos de feitiços. 

— Olha quem temos aqui — uma voz fria sussurrou atrás de mim. 
Senti seu cheiro antes de me virar e ficar cara a cara com aqueles olhos, cor de âmbar ferinos, que eu detestava tanto. Desprezo preencheu o meu olhar na sua direção. 

— Não sei o que te deu a impressão de que poderia me dirigir a palavra, mas, por favor, não o faça novamente — ameacei, acalmando o tom cortante da minha voz. 

Ele riu generosamente, com intimidade, e um arrepio percorreu minha pele quando uma gargalhada profunda escapou de seus lábios. 

— Ora, era tão divertido quando nós éramos amigos, você não sente a minha falta? — Sebastian diminuiu a distância entre nós, aproximando-se até que eu recuasse um passo, tocando minhas costas contra as prateleiras de carvalho escuro. 

Seu sorriso fez meu sangue ferver. Era exatamente o mesmo que ele exibia quando o confinamos para o interrogar.

Mas ele era um maldito feiticeiro e nenhuma de nossas algemas poderia restringi-lo por muito tempo. Eu desfrutei de cada segundo que tinha, prolongando sua agonia, sabendo que não teria outra oportunidade tão cedo. Sua traição ainda ecoava nos meus pesadelos mais profundos, como uma voz gelada se infiltrando nas profundezas da minha alma. 

— Nem um pouquinho? — insistiu quando não obteve resposta e recebeu apenas um olhar entediado, que o desafiava a me tocar para que eu pudesse acabar com ele ali mesmo.

— Eu não tenho muito tempo, então sugiro que você saia do meu caminho — aconselhei ardente e dando um passo em frente, o devolvendo com facilidade à sua posição inicial. 

— Eu sei o que você procura, meu bem. Eu posso te ajudar. Se você pedir com jeitinho, é claro. Você sabe como eu sou bom em encontrar coisas que nunca deveriam ver a luz do dia. 

— Eu preferia arrancar meus dois olhos e tomar banho de ácido, a aceitar qualquer coisa vinda de você, mas obrigada — respondi acesa pela ousadia, tentando me manter longe da sua jugular. 

Hoje não era um bom dia para embates, muito menos com Sebastian, que tinha o dom de me deixar perturbada em níveis estratosféricos. 

— Houve um tempo em que você aceitava de bom grado. Inclusive, pediria, — cantarolou baixinho. 
 Ignorei a corrida acelerada do meu coração com a memória inesperada que inundou minha mente.

DOMÍNIOS DE LUA E SANGUEOnde histórias criam vida. Descubra agora