"Kassius" — Dómina chega com a respiração apertada, chamando minha atenção antes que me vire para trás. Ela está envergonhada, dá para ver em seus olhos. Suas pupilas estão contraídas de uma forma tão gritante, que seu olhar é a mais pura cor. Um azul vivo e escuro, capaz de congelar o inferno.
Não queria estar tão perturbado, mas vê-la numa situação de vulnerabilidade completa me abalou. Por várias vezes penso que não deveria envolvê-la nos meus assuntos pessoais, eu fiz muitos inimigos ao longo dos anos e apenas por estar perto de mim, ela já corre risco de forma constante. Mas desses perigos eu tenho consciência, eu tenho controle, eu posso prever. Já quando ela usa o que aprende e vê, de criaturas com muito mais idade e experiência sem falar comigo, isso sim é algo que eu não esperava. Quando a vi nas mãos daquele clã de Demônios, paralisei. E eu não posso me dar ao luxo de paralisar perante meus inimigos. Eles nem sequer sabiam quem ela era, que era minha. Para eles, era apenas mais uma num grupinho de recém-criados que pretendiam drenar e, para mim, também deveria ser. Mas não era. Azar o deles.
Dou um passo em frente, revoltado com suas atitudes irresponsáveis. Colocar sua vida em risco de forma leviana não é algo que pretendo esquecer nem desculpar tão cedo. O pavor que eu senti quando não a encontrei, foi como se tivesse me desconectado do centro gravitacional da Terra e não havia nada que eu pudesse fazer para evitar o vazio que estava sentindo. O ressentimento se acumula em minhas veias, correndo livre num fluxo ainda desesperado. Se existisse uma forma de me matar, com certeza, envolveria esta mulher.
Ela não se deixa intimidar pela minha postura e se aproxima, tocando minha mão de um jeito firme, me testando, e eu tremo pelo contato. Não de uma forma romântica, mas saber que ela está aqui, sã e salva no meu território, protegida, remexe com a certeza ilusória que eu mantinha de que seria assim o tempo inteiro, que nunca teria que lidar com o fato de que ela pode, sim, morrer.
Encontro dificuldades para me conter, não querendo explodir na sua presença, não querendo mostrar o quanto a vulnerabilidade que ela me provoca me enlouquece, sei que para ela é tudo desproporcional. Não faz ideia. Seu olhar petulante e provocativo é quase uma afronta. Eu, afogado num vórtex de emoções que nunca pensei sentir, e ela se achando a dona da razão. Meu Deus, como eu amo essa mulher. E como eu gostaria de esganá-la, às vezes.
Seguro seus braços com força, trazendo-a tão perto que pode sentir meu ódio quando digo baixo e venenosamente:
"Você nunca mais vai repetir isso. Nunca mais! Ouviu bem?" — a ameaça velada é recebida com mais atrevimento.
"Você está descontrolado" — Ela sacode seus braços para fora do meu aperto, nos separando. Como se eu não tivesse razões para estar furioso.
"Em algum momento, sequer te ocorreu que se alguma coisa acontecesse com você, eu..." — tento me expressar de forma que a faça entender o que estou sentindo, mas nem eu mesmo sou capaz de começar a explicar a violência que meus sentimentos por ela são para mim.
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DOMÍNIOS DE LUA E SANGUE
VampireSINOPSE: A paixão mais ardente vem do clamor do sangue. Kassius é diferente, mesmo no mundo de magia no qual nasceu. Fruto de uma relação proibida entre raças inimigas, foi amaldiçoado antes mesmo de nascer. Apesar disso, sua natureza o fez mais for...