CAPÍTULO DEZ

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Os sons de passos chegaram antes que meus olhos se abrissem, não totalmente, com dificuldade

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Os sons de passos chegaram antes que meus olhos se abrissem, não totalmente, com dificuldade.

Fazia um bom tempo que não visitava esta propriedade, o seu interior, não fosse pela poeira e teias de aranha, permanecia intocado. A casa era ampla e resistente. Sua fundação feita em pedra e aço, uma pequena fortaleza, projetada para conter licantropos em fase de transformação.

Meus pais a tinham construído como um abrigo seguro onde os adolescentes com gene lupino pudessem se transformar longe de seus lares pelas primeiras vezes, com supervisão adequada, evitando acidentes. Ali podiam dar asas à sua bestialidade e selvageria sem medo de machucar alguém no processo. Centenas de hectares de mata rodeavam a casa, por isso, quando estivessem prontos e completamente transformados em toda a sua glória lupina, os jovens poderiam apenas correr livremente, até se cansar.

Nenhum de nós tinha se responsabilizado por manter o lugar, mas também não tínhamos fechados suas portas, continuava à disposição e com todos os recursos que pudessem precisar, mas pelo aspecto, ninguém pisava ali há um bom tempo.

Eu poderia ter conjurado tudo que precisava na nossa casa, mas não quis ter Dómina por perto quando me submetesse ao procedimento necessário para remoção do veneno do meu corpo.

O odor de carne queimada e sangue ao meu redor era nauseabundo, fortemente repulsivo. Eu suplantei a atividade das minhas cordas vocais antes de começarmos. Já era ruim o suficiente ter que passar pelo processo, ninguém precisava escutar horas a fio de gritos excruciantes e aflitivos. Sentia o suor descer quente e ardente pela carne dilacerada e retorcida. Cada centímetro tocado pelas gotas de fogo do inferno que avançavam pelo meu corpo parecia devorado por ácido. Meus músculos se retesavam ao ritmo do meu batimento cardíaco, frenético e incessante. As convulsões não me davam um segundo inteiro de trégua e eu já tinha desmaiado quatro vezes.

— Como você está se sentindo? — Kianna me perguntou, se aproximando. Os olhos claros e atentos, me analisando de perto como se eu fosse um quebra-cabeça a ser decifrado.

Kori limpava as unhas com uma escovinha, sentada numa cadeira, removendo os pedaços da minha pele que a água não lavou. O cabelo preto e liso, impecável, nenhum único fio fora do lugar, seu dia parecia apenas ter começado, embora a lua já estivesse alta lá fora. Ela era a pura imagem do descanso e do descaso ali sentada, com as botas apoiadas na mesa e esfregando as unhas, como se fosse a coisa mais normal do mundo suas mãos estarem manchadas de sangue do seu irmão mais velho. Teria que lhe agradecer por isso mais tarde, ela foi impecável, cirúrgica e não hesitou um segundo sequer. Fosse de outro modo, teria sido muito mais demorado.

Seus lábios cheios pressionados numa linha fina e sobrancelhas franzidas quando Kianna conjurou gelo e derreteu sobre a minha pele, para aplacar o calor abrasador que eu irradiava pelas queimaduras. Ela se contraiu antes de escutarmos o som da fumaça saindo dos meus poros com o choque térmico. A sensação era de que continuava ardendo, apenas de um jeito diferente.

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⏰ Última atualização: Sep 06, 2021 ⏰

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