— Você precisa se acalmar, não é nada demais. Olhe para mim, se concentre na sua respiração, confia em mim, Donna. — Tentei me aproximar, fitando seu olhar que varreu o perímetro à sua volta, analisando, decidindo, se debatendo com as novas memórias, contornando seus pensamentos e realinhando seus desejos e impulsos.
Seu instinto era me afastar, se defender, se recolher, uma reação que não durava segundos até que as lembranças estilhaçassem suas dúvidas.
O meu tom de voz soava demasiado alto e divertido para a situação. Dómina tinha destruído um quarto e duas salas com meus poderes e eu estava achando o máximo. Ela também, mas ainda não tinha ultrapassado o assombro desesperado de não ter controle algum sobre seu próprio corpo.
Ela gritou quando suas mãos ficaram incandescentes, de novo.
— Dómina, isso não dói. Relaxa. — Ela se debatia com o impulso de tentar apagar o fogo, abanando as mãos o mais rápido possível.
— Quanto tempo isso vai durar? — Suas mãos voltadas para mim e seus cabelos, que começavam a esvoaçar com o vento provocado por ela mesma, fazendo um leve redemoinho dançar ao seu redor, davam a sensação de que ela estava na eminência de levitar.
Eu sabia que não aconteceria, vampiros não voam, mas sentia a expectativa da sensação em sua mente e me contive, tentado a sentar para assistir aquele momento em particular.
Eu sempre gostei de observar atenta e intensamente os momentos que sabia que revisitaria algumas vezes ao longo da existência. Aquele era um deles.
Dómina era deliciosa. Feliz. Com raiva. Frustrada. Possessa. Apaixonada. Homicida. Tantas versões dela quanto houvesse, eu amaria a todas e só conseguia me sentir feliz por tê-la de volta, ainda que ela estivesse tendo dificuldades em ajustar a linha do passado e presente dentro de si.
— Você bebeu muito sangue, vai demorar um pouco até que os efeitos se acomodem — respondi orgulhoso. — Você está assimilando minhas habilidades, elas estão se revelando aos poucos, se tiver calma e lhes permitir que encontrem seu caminho, o processo será prazeroso. A sensação de ser tomada pela magia é quase tão boa quanto...
— Ser tomada por você — completou, lembrando minha frase antiga. — Você é ridículo, Kas.
E ali estava, a centelha de intimidade que passou completamente despercebida a ela, mas que significava o mundo para mim. Aquela pequena, singela e quase patética palavrinha que eu não ouvia há quase duzentos anos, teve gosto de saudade, e precisei de um segundo para me recompor do seu efeito nostálgico.
Ela levantou suas mãos com as palmas voltadas para cima, moldando a densidade mágica crescente entre os dedos, e quando as libertou, trazendo os braços para baixo com força, procurando relaxá-los, o chão por baixo dos nossos pés se abriu numa cratera forjada de um estalo violento e agudo, que perfurou nossos ouvidos como se fosse um raio embatendo em metal.
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DOMÍNIOS DE LUA E SANGUE
VampiroSINOPSE: A paixão mais ardente vem do clamor do sangue. Kassius é diferente, mesmo no mundo de magia no qual nasceu. Fruto de uma relação proibida entre raças inimigas, foi amaldiçoado antes mesmo de nascer. Apesar disso, sua natureza o fez mais for...