CAPÍTULO 2

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Os dois se viraram para mim quando abri a porta.

— Kassius! — Killian exclamou. — Graças aos céus! Por favor, converse com ela! — Kianna, nossa irmã, olhou para mim com um sorrisinho atrevido e revirou os olhos. — Ela quer ... — Killian começou a explicar, mas foi interrompido por Kianna, curiosa.

— Quando você chegou aqui? — sua expressão entediada gritava que não era justo que eu pudesse perambular por aí e ela não, mas não disse nada sobre o assunto.

— Acabei de fazer uma ronda pelas Arenas maiores antes de vir — respondi, me exibindo com cautela e olhando entre ela e Killian, que renegou minhas palavras com um aceno negativo de cabeça e jogou os braços para os céus, em sinal de desistência.

Tínhamos combinado de manter Kianna longe das Arenas e eu não estava ajudando em nada em refrear o interesse da linda coisinha loira com sede de sangue à minha frente. Conseguia ouvir os mecanismos da mente de Killian provavelmente avaliando meus passos antes de me atacar pelo leve desacato.

— Você viu os gladiadores? — Kianna perguntou, se apoiando nas cordas grossas do ringue onde se encontrava e tendo toda a sua atenção clinicamente voltada aos meus movimentos conforme entrei na plataforma, onde antes ela lutava com Killian, que agora estava sentado no chão julgando minha conduta com o olhar mordaz num silêncio hostil.

— Nenhum seria páreo para você Kianna, se é isso que quer saber. Pelo menos, nenhum que eu tenha visto. Uma horda de homens e mulheres treinados puramente para infligir dor e medo, mas não para suportá-los. Mentes tão fracas para corpos tão espetacularmente preparados. Você ficaria entediada, irmãzinha. Então sossegue, não vi nada que pudesse suscitar seu interesse. Além do desfile de corpos seminus, é claro.

O seu sorriso pervertido e a piscadinha esperta não me iludiram quanto à sua aceitação do que eu havia dito. Kianna sempre fazia o que queria. Ela iria até cada uma das Arenas mais próximas conferir por si mesma, quer Killian aprovasse ou não. E caso tivesse algum problema, o que muito provavelmente aconteceria tendo em conta sua habilidade de causar confusões, ele seria o primeiro a correr em seu socorro.

Kianna era sua irmã preferida. Ele nunca assumiria, mas ela era a menina dos seus olhos, ainda que de menina não tivesse nada. Nossa irmã, a primeira mulher depois de três filhos homens, criada com todos os mimos e mordomias, era uma temerária. Perigosa e imprudente em igual medida. Killian fazia tudo por ela e embora ela fosse a dona e proprietária do próprio destino, ele sempre estava por perto, de olho em qualquer perigo em que seu comportamento leviano a pudesse colocar.

Ela saiu do ringue com um salto preciso e aterrissou diretamente em frente a Kion, que saía da biblioteca naquele instante, nos encontrando na sala de treinamento.

Em nossa casa, todos os cômodos inferiores tinham uma porta para o ringue. Todos partilhávamos além do sangue e a magia da nossa criação, o gosto por violência e brutalidade, que na maioria das vezes só podíamos dar vazão quando estávamos juntos.

— Oi! E Tchau! — Kianna cumprimentou e dispensou Kion com um sorriso, passando por ele e deixando o recinto super apressada para fazer merda, com certeza.

Killian já se levantava para me dar um esculacho por provocar os impulsos de Kianna quando Kion reclamou da caçula. Ele vinha acompanhando nossa irmã mais nova em sua mais recente empreitada e, talvez, ela fosse a que mais arrumava problemas. Ele parecia exausto quando falou:

— Sua Majestade está de novo confinada na biblioteca. Sobre o que vocês estavam discutindo? Eu ouvi os berros de Kianna lá de dentro.

Após fechar a porta, ele se aproximou e se sentou no sofá, despreocupadamente.

DOMÍNIOS DE LUA E SANGUEOnde histórias criam vida. Descubra agora