Prólogo

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- Digo, você precisa ouvi-la, cara! – Khaled por sua vez retrucou o moreno à sua frente pela décima vez em cinco minutos. – Você sabe sobre minha última obra, irmão? Rihanna, 1 bilhão de visualizações? – Apontou para mim, que permanecia encolhida no canto da sala, tensa demais para rebater. – Essa é responsável. E se você quiser trabalhar na sua própria merda, eu sugiro que procure outro DJ.

Scooter Braun estava parado na minha frente. Digo, Scooter Braun. Relógios de ouro, terno justo demais para acreditar que ele podia respirar, ferraris, seguranças e um rosto nada receptivo. E coloque nada receptivo nisso. Há uma hora e meia rodeávamos uma cansativa conversa de como o arranjo musical devia ser seguido, mas para o cara que acompanha Justin Bieber, Ariana grande e Demi Lovato, a palavra de uma qualquer como eu soava como piada. Eu corria atrás do que eu acreditava ser certo, digo, sou Beca Mitchell, surgi de um grupo acapella manchado por uma apresentação com um vômito, eu acho que eu era boa em conseguir o que eu queria. Mas sinceramente, cara a cara com Scooter Braun eu me sentia sem forças. O cara era gigante, e eu... Bem, eu sou a garota do grupo acapella.

- Ela está literalmente sugerindo que meu cliente, Justin Bieber. – Ressaltou seu nome, fazendo com que meus olhos rolassem de tédio. – Tenha apenas isso de participação na música. – Ergueu o papel. – Isso é ridículo.

- Esse é o refrão, amigo! – Me permiti alguns segundos de surto, que certamente me levariam a demissão, assim como na ultima vez. – Você é experiente demais para saber que o refrão de uma música é que fica na cabeça das pessoas, vai ser tudo que elas saberão cantar. – Antes que eu percebesse, estava fora de minha poltrona, que certamente tinha a marca de meu corpo nela devido ao suor. – Mas como quiser. – Tirei o papel de sua mão e estendi á Gillian, representante de Quavo. – Quavo fica com o refrão, o que acha?

- Eu...- Interrompi.

- Ruim, acertei? Claro. – Provavelmente todos na sala estavam me encarando, eu odeio chamar atenção, senti minhas bochechas queimarem, confundindo-me por alguns instantes, não sabia o certo se eu estava com raiva ou envergonhada. – Eu nem queria estar trabalhando nisso pra começo de conversa, estendi ajuda apenas por que Khaled é meu amigo. Esse foi meu jeito de deixar sua música menos entediante e ridícula. – Lembrei-me que Khaled havia escrito grande parte da canção. – Sem ofensas.

Ele sorriu e parece ter levado realmente numa boa. Após meu ataque de raiva ter se dispersado, percebi que ninguém falaria algo pelos próximos minutos, e sinceramente eu não estava apta para um minuto a mais nesse lugar. Peguei minha bolsa e ajeitei o terno em meu corpo.

- Pense na minha proposta. – Me dirigi á Scooter e soltei uma piscadela para Khaled, que retribuiu com um sorriso satisfeito.

Assim que me retirei da sala, soltei todo o ar preso em meu pulmão, não era de meu conhecimento que eu tinha a capacidade de falar por tanto tempo sem um pequeno sinal de ar. A noite estava fria demais, tão fria que as pontas de meus dedos estavam duras. Eu devia estar na minha casa. Resmunguei.

- Becs! – Ouvi a voz de Theo.

- Autógrafos só a partir das 10 da manhã. – Ignorei procurando pela chave do meu carro.

- Acho que você pode abrir uma exceção. – Recuperou o folego e se pôs á minha frente. – Ouvi dizer que você surtou. Já está se tornando uma produtora de verdade.

- Ugh. – Coloquei as mãos no rosto, me arrependendo amargamente. – Eu vou perder meu emprego, eu gritei com Scooter Braun.

- E ele mexeu com Beca Mitchell. – Me deu um soquinho no braço, tentando tornar a situação um pouco menos assustadora. – Vamos lá, não seja boba. Produtores grandes gostam de atitudes grandes, nunca iria te respeitar se você aceitasse perfeitamente suas condições. – Dei de ombros, eu sinceramente estava cansada demais para pensar nisso. – Ei, escute... – Coçou a nuca. – Você está me devendo uma bebida.

Eu e Theo trabalhamos juntos há mais de um ano, vivemos na cola um do outro e já perdi a conta das vezes que precisei desviar de seus flertes desajeitados. Dá última vez, bebemos um pouco demais e eu prometi que eu e ele iriamos á um encontro. Eu não sei por que diabos eu fiz aquilo, mas sabe como é, culpar a bebida é sempre mais fácil.

- Theo...

- Eu sei, nós trabalhamos juntos, seria estranho, perigoso... Mas... – Pausa longa, suspiro pesado. – Eu só preciso de uma chance. – Revirei os olhos, suspirando um “okay”. Ele sorriu, muito satisfeito. – Eu te ligo.

- Você sempre liga. – Entrei em meu carro, com a ajuda de Theo para abrir e fechar a porta para mim. – Quando será que vou me livrar de você?
 

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1h30, Nova Iorque em seu pico de temperatura abaixo de zero, e eu se quer tinha entrado no banho, e se quer poderia pensar em fazê-lo agora, já que minha atenção foi requisitada mais uma vez.
 

Mensagem de Bree.
- Becs!
 

- Bree? Aconteceu alguma coisa?
 

Aubrey não costumava a me mandar muitas mensagens, não atualmente. Ela estava ocupada demais com sua vida e trabalho, assim como eu e mais da metade das Bellas, causando um afastamento involuntário.
 

- Sim, aconteceu. Preciso falar com você e com as meninas. Tenho meia hora para uma ligação. Topa?
 

Parte de mim gritava por vê-las novamente, ativar as boas memórias no cérebro, afinal essas garotas fizeram grande parte da minha vida significativa, e digo, eu estou onde eu estou exclusivamente pelas Barden Bellas. Porém, outra parte do meu corpo expelia completamente a ânsia de vê-las. Depois do que houve com Chloe, sempre que penso em a ver, meu corpo é tomado por uma ansiedade que eu não consigo controlar.
Demorei mais que o esperado para responder, então minha tela foi iluminada por outra mensagem de Aubrey.
 

- Chloe não estará.
 

Bom... Ou, ruim? Em questão de cinco minutos meu corpo e mente tiveram 10 sensações diferentes.
 

- Está bem.
 

Menos de dois minutos depois, os nomes familiares e que aqueciam meu coração apareceram na tela.

- VADIAS! – A voz de Amy era provavelmente a única coisa que eu ouvia além de gritos e risadas que eram impossíveis de decifrar. Ouvi meu nome ser gritado algumas vezes, apesar de não fazer ideia de quem o gritou, apenas acenei, cobrindo meus ouvidos.
- Vocês vão deixar eu falar? – A voz de Aubrey se sobressaiu, calando a maioria das meninas.

- Onde está Emily? – Cynthia questionou.

- Bom, ela está preparando os primeiros socorros. – A ligação se calou. – Machuquei minha mão quando ela me deu isso.

A tela brilhou com a pedra enorme no dedo de Aubrey. Um anel de noivado. Instantes depois Emily apareceu atrás da loira com um sorriso grande demais para negar sua felicidade. Vibramos, era a melhor notícia que poderíamos ter. Aubrey e Emily passaram por momentos difíceis demais para finalmente conseguirem ter um relacionamento saudável, vê-las tão distante e afogadas em felicidade era bom demais para ser verdade.

- Eu não acredito que Chlo está perdendo esse momento. – Amy expressou após as parabenizações terem acabado.

- É, bom.. – A loira disfarçou. Estava estampado em meu rosto a insatisfação de ouvir seu nome, e Aubrey sabia. – Ela pediu desculpas, está muito ocupada com o trabalho.

- Uma e meia da manhã? – Retruquei, rindo. Essa era a pior desculpa que alguém poderia dar.

- Enfim. – Flo intercedeu com o forte sotaque aparente. – Quando será o casório?

- Em dois meses. Eu sei, é pouco tempo, mas Emily vai precisar viajar a trabalho depois disso e eu não tenho certeza se poderei ir com ela, então queremos tornar oficial o mais rápido possível. Aliás, já que é final de ano, folgas chegando, o noivado e despedida de solteira será em 2 semanas e exijo a presença de vocês. Estão prontas para uma reunião das Bellas?

660 days afterOnde histórias criam vida. Descubra agora