Capítulo 24.

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Chloe Beale.

Voltamos logo, assim que as luzes começaram a piscar. Normalmente Beca ficaria longe da pista de dança, mas hoje já tinhamos passado dos 6 drinks, estávamos felizes, quentes, Beca já tentou me levar para o maldito banheiro novamente pelo menos 3 vezes. Recusei todas, mesmo estando tão excitada como ela. Minha mente no momento só pensava em uma coisa, que era ir embora amanhã. Ir embora antes definitivamente não estava nos meus planos, minha mente estava preparada para começar a se preocupar com isso somente daqui à três dias. Mas tudo caiu por terra.

Cigarro. Preciso fumar.

- Tem certeza que não vem? - Beca andou até mim, que continuava sentada enquanto a observava ofegante e dançando.

- Tenho. - Me deu um selinho molhado, tentando me convencer na covardia. - Mas se você me der mais um desse eu penso. - Tentou novamente. Covarde. Mordi seu lábio inferior antes que ela pudesse terminar seu ataque. - Eu vou ficar aqui, Becs. Meu estômago não está muito bom.

Rosnou.

- Eu disse pra não comer tanto doce. - Saiu emburrada e voltou para a pista. Olhei para minhas mãos trêmulas e fui atrás de outro cigarro. Já perdi as contas de quantos fumei hoje. Isso não podia ser bom para meu vício. E para minhas cordas vocais. E para meu corpo.

Me afastei tendo certeza de que Beca não estava vendo. Não estava. No momento ela se encontrava distraída em sua, acho que era dança, com Amy.

Puxei todo o ar de meu pulmão o sentindo falhar. Meu peito estava tão apertado e cheio de choro entalado que mal conseguia respirar sem conseguir evitar que a dor gritasse, escandalosamente e de uma maneira que eu não conseguia controlar.

Fechei os olhos enquanto tragava o cigarro, senti o vento em meu rosto e rezei para que ele levasse a agonia consigo.

- Achei que você estivesse parando. - Ouvi a voz de Ashley e me virei, a vendo fumar encostada em uma árvore, não muito longe.

- Não te vi aí. - Ela deu de ombros. Outra tragada.

- Tudo bem.

- E sim, eu estou parando. É só que...

- A morena. - Ela completou, rindo.

- A morena. - Concordei.

- Pelo menos agora você vai cheirar a cigarro e não a sexo. - Parou, pensando no que disse. - É, era melhor ter ficado cheirando a sexo.

Dei quase 3 tragadas em silêncio. A presença da Ashley era confortante, eu sabia que não precisava me abrir, mas ao mesmo tempo eu queria me abrir.

- Vou precisar ir embora amanhã.

- Uau. Achei que fosse embora daqui a três dias. - Concordei. - Problemas no trabalho?

- Sim.

- Que merda. Acho que entendi o cigarro.

Mais longos segundos de silêncio. Acho que ela estava pensando no que dizer, ou realmente não tinha o que dizer. Creio que Ashley já esgotou todos os seus conselhos comigo.

- Eu não sei se eu estou pronta pra isso. - Falei tão entalada de choro na garganta que minha voz falhou.

- É claro que está. Você nasceu pronta. Você já passou por isso, Chlo. Você achou que não estava pronta quando ela partiu, e adivinha? Doeu, e passou.

Impedi que qualquer lágrima escorresse, já chorei demais.

- Já teve que ficar longe de alguém que você amasse de verdade? - Não dei tempo para que ela respondesse. - Sabendo que vocês se amam e que querem passar o resto dos dias juntas, e mesmo assim você tem que ir embora, e provavelmente ficar anos sem vê-la novamente? - Ela respirou fundo, para responder. - Mesmo sabendo que ela pode se apaixonar por outra pessoa, montar a vida do lado de alguém que a beija como você beija?

Vi claramente seu maxilar tenso.

- Já pensou em alguém a tocando como você tocava? -Me aproximei, ela desvia o olhar. - Ela gemendo o nome de alguém que não é o seu?

- Não! - Alterou a voz. - Não, isso nunca aconteceu comigo. Para ser sincera me parece aterrorizante.

- É aterrorizante. - Concordei. - É insuportável. Entendo seu otimismo, e todo esse discurso sobre: "vai passar" "você consegue". Eu sinceramente só gostaria de curtir meu luto agora.

- Está bem. Se é o que você quer... Você, você já contou pra ela?

- Não.

-Se me permite pelo menos um conselho, conte. Curta seu luto ao lado do luto dela. - Finalmente algo bom de se ouvir sem ser toda aquela baboseira otimista. - Você vai se sentir melhor sabendo que tem alguém tão na merda quanto você.

A dei um rápido abraço, me senti tão culpada que não tive tempo de responder. Beca continuava na pista. Mais drinks, ela estava tão feliz. Seu sorriso iluminava mais que as luzes. Meu coração se aqueceu. Meu coração sorriu junto.

Como podia eu, atrapalhar sua alegria?

Eu não queria ser o motivo de suas lágrimas novamente.

Segui para o quarto, eu só compreendia realmente a gravidade da situação quando eu começava a encará-lo. Sendo assim, estava na hora de fazer as malas.

660 days afterOnde histórias criam vida. Descubra agora