Capítulo 30.

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Dei alguns detalhes sobre o show da Madonna para Chloe via SMS. Ela estava animada, contando sobre seu dia e como foi bem durante a visita da vigilância. Fiquei feliz por ela mas eu sinceramente não tinha mais energias para nada no dia de hoje. Desliguei o celular e deitei a cabeça para tentar descansar enquanto o taxi virava a esquina de casa.

Buzinas, poluição, cinza demais, barulho demais.

- Senhorita? Chegamos.

- Certo. Claro. Obrigada. - Dei uma nota de cinquenta, eu não queria ter que procurar troco agora.

- A corrida deu 25, senhorita.

- Sim, pra você também. - Peguei as duas malas sem pedir ajuda e caminhei em direção ao prédio. Assim que Dario me viu, correu em minha direção, arrancando as malas de minhas mãos. - Você é um anjo.

- Bem vinda ao lar, senhorita Mitchell.

Subi todos os andares com a cabeça encostada no espelho do elevador. Senti Dario tentar puxar assunto algumas vezes mas não o retribui. Pobre Dario, me pegou no pior dia de todos. Não que fosse a sua primeira vez. Nas primeiras tentativas falhas com certeza ele já sabia que eu estava no meu humor vermelho. Curtimos o mais belo silêncio até meu andar.

Liberei a porta com minha digital, Dario deixou as malas na porta e foi embora. Deixei as chaves caírem no chão com a bolsa, tirei os saltos sem usar as mãos, caminhei arrastando os pés pelo piso de mármore cinza e me aproximei da sala.

Cinza demais. Quieto demais.

Nunca pensei que eu sentiria falta do barulho das Barden Bellas, eu nunca senti. Sempre me senti feliz por estar em silêncio, sempre me senti feliz em ter poucas cores em casa, mas não hoje. Eu seria a mulher mais feliz do mundo se ao chegar, me deparasse com os resmungos das minhas amigas, todas as faladeiras extremamente altas e risadas, isso tornava o ambiente mais... familiar. E eu pensando que todo esse tempo depois, havia me acostumado a viver da maneira que eu achava que gostaria de viver. Estúpida.

Sentei-me na poltrona sentindo o meu corpo pesar, duvidei muito que não tivesse aberto um buraco neste estofado. Fechei os olhos sorrindo com a cena que eu projetava na mente. Por algum motivo, motivo que eu sabia muito bem, a trilha sonora destes pensamentos era a mais fantástica canção melancólica, mais conhecida como Mister Cellophane. A cor predominante de meu belo pensamento era o ruivo. Bom, como esperado ela me tocava. Eu sentia seus dedos sobre minha pele enquanto ela me conduzia no ritmo da música.

Ah Chlo, como eu sinto a sua falta.

Até seu cheiro está presente, como se nunca tivesse ido embora. Meus pés batiam no chão conforme o ritmo enquanto eu seguia seus passos sincronizados e melancólicos. 

- Sinto sua falta. - Era tudo que eu conseguia sussurrar em seus ouvidos. 

- Shhh... - Dedo indicador em meus lábios. - Aproveite a música.

Mais alguns minutos apenas sentindo sua pele na minha. Apenas nos movendo, cada vez com mais lentidão. Nunca temi tanto abrir os olhos na vida como temo agora. Por favor, esteja aqui. Por favor, por favor.

Bip, bip, bip.

O temido aconteceu. Olhos abertos, solidão. Olhei para a secretária eletrônica e apertei o botão azul.

Você. tem. 27. novas. mensagens.

Ouvi a voz robótica e grunhi em reprovação. Minha cabeça doía demais.

- Agora nã.... - Tarde demais. As mensagens começaram a passar. Parabenizações, mensagens de trabalho, Khaled vibrando, gerente de banco... Deletar, deletar, deletar. No entanto no último deletar, parei.

660 days afterOnde histórias criam vida. Descubra agora