Capítulo 28.

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O chão se abriu. Nunca acreditei quando disseram que em momentos de desespero, todo o mundo passava a ficar em câmera lenta. Sempre achei dramático demais. 

Aqui estava eu, vendo o carro de Chloe ir embora na maior lentidão possível. Juntei minhas mãos perto do peito sentindo-o doer. Minhas pernas fraquejaram, senti dois braços dos dois lados do meu corpo, Aubrey e Emily estavam ali por mim.

- Beca. - Aubrey disse calmamente. - Beca, olhe pra mim. - Vi a loira se ajoelhar enquanto a esposa continuava segurando meus braços. - Está tudo bem, você está bem.

- Eu deixei ela ir embora, bree. - Minha visão se embassou com as lágrimas se acumulando. - Que porra, eu não sabia que ia doer tanto.

- Sabia sim, querida. Você só não estava familiarizada com a dor. - Limpou meu rosto molhado. - Vamos pra dentro, ainda temos um tempo antes de pegar o avião, né amor? - Emily balançou a cabeça.

- Óbvio. Vamos deixar você com a Amy e ela vai te encher de comida e show da madonna. - Deu uns pulinhos de alegria.

Acho que Aubrey sabia muito bem o que estava acontecendo, em momento nenhum eu a vi tentando me colocar pra cima. Sua presença bastava. Ela me olhava com um sorriso de canto, olhos tristes, tão tristes quanto os meus. Seu toque era doce.

Aubrey era realista, Emily por outro lado não havia passado por tantas dores. Por pura sorte, privilégio. Fico feliz por ela, mas se ela tivesse passado por uma dor tão brusca quanto a de perder um amor, não tentaria me colocar pra cima de jeito algum. Pelo contrário, a melhor maneira é se deixar afundar, pelo menos por uma semana, após esses dias de sofrimento seu corpo se recompõe sozinho.

Tudo bem, pensei. Espero que ela nunca aprenda essa lição, sua inocência era invejável.

Caminhamos novamente até o apartamento, passei pela porta e o ambiente cheirava a ela. Cheirava a nós. Olhei para a janela onde tínhamos acabado de passar nosso último momento juntas, nosso último momento de amor e prazer. Meu corpo esquentou, todas as sensações voltaram piores do que da primeira vez em que nos separamos. Talvez fosse por que eu que havia partido, mas dessa vez eu fui deixada para trás.

Me sentei no sofá relaxando os músculos do corpo. Meu celular começou a tocar desviando toda a atenção para ele, já era dia 25, o que significava que minha pequena folga havia terminado. Sem mais férias, a paz acabou, Mitchell. De volta para seu mundo.

- Podem ir, eu vou encontrar com amy assim que eu terminar a ligação.

- Tem certeza? - Disseram em uníssono. Apenas concordei. Elas me beijaram no topo de minha cabeça. - Feliz Natal.

- Feliz Natal! - As vi fechar a porta. - Beca Mitchell. - Atendi.

- Senhorita Mitchell, bom ouvir sua voz. - Khaled.

- Bom ouvir sua voz, chefinho. - Respondi.

- Como foram as férias?

- Foram boas. - Olhei para a janela. Pontada no estômago. - Mas já estou com saudades de casa.

- Bom saber, não sei se você olhou as notícias, mas a nossa música bombou, muita grana, princesa.

- Uau. Isso é, uau. - Bombar com essa música era tudo que eu menos queria. Pelo menos eu já garanti meu salário e um adicional.

- Realmente é. E adivinhe só, grande oportunidade pra você.

- Qual seria?

- Alasca, princesa!

- Perdão? - Não pude deixar de rir.

- Estou me mudando para o Alasca por um tempo, quero ver como minha criatividade fica quando estou em lugares que colocam meu corpo à prova.

660 days afterOnde histórias criam vida. Descubra agora