Capítulo 23.

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Chloe Beale.

"É uma questão de aceitação, Chloe."

Depois de tê-la aceitado eu finalmente me senti bem, como em dias de viagem não havia me sentido. Apesar de estar muito brava com Theo, com suas palavras, eu sabia que não passavam de palavras. Vazias e sem sentido. Aliás, cheias. Cheias de ódio por eu ter o que ele queria. Ela.

- Elas vão chegar aqui só amanhã. - Beca resmungou do meu lado, incomodada com o vestido. Nunca vi alguém tão vaidosa e tão sem vaidade ao mesmo tempo. Não conti meu sorriso, a irritação dela era a mais bela junção de reações que eu já vi. Sobrancelhas juntas, nariz enrugado, bochechas vermelhas e mãos inquietas. - O que?

- Nada, eu só te amo. - Dei de ombros como se não fosse grande coisa. Ela sorriu e se aproximou de meus lábios com os seus, me beijando em meio a sorrisos. Sussurrou que também me amava, quase inaudível, som abafado pelos estalos do seu beijo.

- Esse é o melhor presente de casamento que eu poderia ter. - Ouvimos Aubrey pulando e gritando com Emily. Nos abraçaram tão forte que achei que meus olhos iriam pular para fora. - Eu amo amo amo amo vocês.

- Vocês estão lindas demais. - Beca segurou a mão de ambas. - Eu estou muito orgulhosa.

Eu iria as elogiar, mas algo maior me chamou a atenção por de cima dos ombros da loira. Seu pai, ainda com o mesmo buquê nas mãos, acanhado, se aproximando em passos de tartaruga. Ele sabia que não estava certo em fazer isso, se lembra muito bem de sua promessa pois me olhava com medo. Um olhar que pedia perdão. Meu maxilar se fechava com tanta força que meus dentes rangiam.

- Chlo? Está tudo bem? - Aubrey percebeu a tensão, e se virou para onde eu olhava. Não tive tempo de a impedir, e se quer acho que eu faria isso. Ela suspirou surpresa com uma de suas mãos no peito. Emily estava assustada, olhava desesperadamente para mim, depois para Beca, de volta para Aubrey e para seu pai. Nenhuma de nós tinha mais o que fazer a não ser esperar.

Beca me olhou. Li seu olhar.

A loira soltou de nossas mãos e na mesma intensidade de passos começou a se aproximar. Daqui conseguiamos enxergar o brilho no olhar de ambos, mas Sr. Posen além de tudo tinha um sorriso tímido, eu diria envergonhado, até arrependido.

Ele estendeu a mão com o buque para Bree que a segurou, levando-a até o nariz.

- Está tudo muito lindo. - Disse ele. Voz embargada, mais brilho no olhar. - Você..você está tão linda, filha. - Aubrey arfou, deixando algumas lágrimas escorrerem, assim como seu pai. - Me desculpe Aubrey.

Acho que agora todos tínhamos o mesmo brilho no olhar. Eles se abraçaram fortemente, ele parecia ter medo de soltá-la, medo de que ela voasse para longe como um pássaro indo embora do ninho.

- Eu te amo, eu te amo. - Era tudo que ouvíamos em meio aos abraços.

Beca segurou minha mão enquanto assistíamos Emily se aproximar e também ganhar um abraço apertado.

Ah, como eu queria estar naquele vestido branco com ela.

Fitei nossos dedos entrelaçados. Já não tinhamos vergonha de esconder. Pouco estávamos nos importando para o que iriam pensar, já que viemos acompanhados de outras pessoas. Só estávamos no nosso momento, enfiadas em uma bolha impossível de ser estourada.

Senti um beijo quente em meu ombro.

- Vamos, acho que eles precisam de um momento.

Nos afastamos e não deram por nossa falta, não por menos, esse provavelmente seria o momento mais feliz do dia de Aubrey e Emily, tirando o momento em que se tornaram um casal de verdade.

Nos sentamos afastadas, em um banco próximo ao lago, em silêncio. Apenas sentindo a presença da outra. Deitei minha cabeça no ombro de Beca enquanto observamos a festa, todos tão felizes, animados, talvez bêbados.

Por que eu não conseguia me sentir assim?

Os dedos delicados da morena acariciavam minha mão de um modo que me fazia esquecer de todo o resto. Suspirei.

- Theo falou comigo. - Decidi quebrar o silêncio que estranhamente era confortável.

- O que? - me olhou bruscamente, fazendo minha cabeça cair de seu ombro. - Falou o que?

- Basicamente que eu seria responsável pela sua infelicidade e ele teria que limpar minha bagunça. - Ela franziu a testa e resmungou algumas palavras sem sentido. Ameaçou se levantar mas eu não a permiti. - Está tudo bem, Becs.

- Não, eu não acho graça, não está tudo bem eu não o pedi que se intrometesse.

- Ei, eu não me importo. Sério. - A puxei para perto novamente, acalmando meu pequeno dragão. Passei a mão pelos seus cabelos a vendo fechar os olhos por alguns segundos ao meu toque. - Eu só falei isso porque.. Sabe, quando tudo voltar ao normal... - Tateei seu rosto, a linha debaixo de seus olhos, as maçãs do seu rosto, a ponta de seu nariz. Eu realmente precisava decorá-la. Ela é a canção mais linda que eu seria capaz de cantar, a melodia mais bela que passaria em meus ouvidos. - Quando cada uma seguir a vida novamente... - Um nó se formava a cada vez que tentávamos encarar esse fato. Senti seus músculos se contraírem já que estávamos tão perto, respirações se misturando, seus braços envoltos em minha cintura e minhas mãos decorando sua feição . - Quando cada uma seguir sua vida, e quem sabe com o passar do tempo achar outra pessoa para se relacionar... Se esse alguém for o Theo, eu vou te caçar pro resto da sua vida.

Beca explodiu em uma gargalhada.

Por alguns milésimos até eu achei que o que eu iria dizer era importante, sério, romântico talvez. Apesar de não entender o motivo das risadas, eu realmente estava falando sério.

Cruzei os braços e levantei uma sobrancelha tentando entender o motivo da graça.

- Então, deixa eu ver se eu entendi. - Ela colocou a mão na barriga assim que conseguiu parar de rir. - Estou autorizada a namorar qualquer pessoa, exceto Theo?

- Exatamente.

Ela desprendeu sua mão de minha cintura e me cumprimentou, selando uma promessa. Revirei os olhos. Levantei o mindinho. Afinal, essa era uma promessa séria. Ela riu, juntou seu mindinho ao meu e beijou. Promessa selada.

Toques insúportaveis. Meu celular tocou no meu bolso, tirando minha atenção do pequeno dragão.

- Tenho que atender.

- Seja rápida. - Brincou.

Levantei e me afastei alguns passos, o nome de Fiona, minha ajudante na veterinária em Vegas estava na tela.

- Fifi. - Atendi sorridente.

- Eai Chlo. - Voz fina, entusiasmada. - Desculpe atrapalhar suas férias.

- Não por isso. - Menti. Tudo que eu menos queria era assunto de trabalho agora. - Está tudo bem?

- É, eu acho. Sabe aquela vigilância pela qual tememos o ano todo? - Gelei. - Fiquei sabendo da agenda delas, estarão aqui daqui a dois dias.

- Dois dias!? - Falei um pouco alto demais, Beca me olhou preocupada. - Mas é natal.

- Eu sei. - Choramingou. - Eu sinto muito, mas você precisa voltar antes, Chloe. Eu não vou saber responder o que elas precisam saber.

Passei a mão na testa, sentindo os vestígios de suor começarem a surgir. Olhei para Beca, que continuava a me encarar preocupada. Meu coração se quebrou em mil pedaços.

Bolha estourada com sucesso.

- Estarei ai amanhã.

660 days afterOnde histórias criam vida. Descubra agora