Prendendo a respiração.

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NOTAS DA AUTORA: Agradecimentos especiais as betas que me ajudam demais, Teeh e Triz. <3

Músicas que recomendo/usadas para escrever essa atualização: Måneskin - I WANNA BE YOUR SLAVE e twenty one pilots - Doubt.

Boa leitura pra vocês e não se esqueçam de deixar um comentário! <3


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Eu tenho Medo. Eu o tenho bordado sob a epiderme, exposto na vitrine para quem quiser ler o meu manual de destruição. Já a Coragem, a Coragem me tem. Me tem por completo, voando livre pela derme, lançando-me do precipício e caçoando da minha longa queda. A Coragem é boa em construir simpatia, mas eu sou melhor ainda com meus castelos de areia. Eu sou personagem amador, apresentado nos melhores palcos só para não ter que enfrentar esse teu consultório com cheiro de audiência.

Ainda que eu sonhe com o Medo me esperando em cada fresta, me engolindo pelo olhar, me chamando pelo nome completo, ainda assim, a Coragem é logo ali. Logo ali onde o gelo reside, onde o sorriso é sempre bem-vindo, onde a minha Paz se amigou, mas fugiu assim que você riscou o primeiro fósforo. O Medo disse que se sopraria para longe, mas a Coragem afirmou que Sentimento não vai embora junto. Não se vá! Mas só o Medo aprendeu a ficar.

Medo e Coragem são as constantes mais variáveis que brincam dentro de mim até cansar a criança que ainda restou, correndo no meu interior. O Medo me remete a verde musgo, a Coragem, a loiro dourado. O Medo é madeira cortada, a Coragem, é fogaréu. O Medo nasce da necessidade de proteção, a Coragem, da sobrevivência. Eu persisto na sua insistência e você pede para que eu fique sem olhar para trás. Eu te alojo no meu coração, te deito nas minhas lembranças, te sirvo minhas palavras, te cubro com as nossas fotos e te calo com um beijo. Você me empurra mais a fundo, até que eu escape por entre os vãos dos seus dedos e fuja da tua visão. Fica que eu te arrumo um pequeno espaço, abro a porta, me apresento e te acomodo. Fica à vontade que a saudade é toda sua! E a Coragem, que de Medo não tem nada, agradece e vai-se embora, diz que com o Medo aprendeu a dar o devido valor. A de me proteger contra a sua partida, indo embora antes que o fogo me alcance.

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ESPANHA, BARCELONA


Nervoso. Era exatamente assim que eu me sentia. Nervoso pra caralho.

Me analiso no retrovisor e bolsas enormes residiam embaixo dos meus olhos como consequência das noites mal dormidas. Eu tive chances de voltar bem, mas a ressaca infernal mastigava meus miolos, querendo me cuspir de volta na cama. Às 6 da manhã, lá estava eu, na força do ódio, indo ao encontro da assinatura que meu pai almejava na mesma proporção que amava a sua própria vida.

Nada do que eu estava vestindo condizia com as roupas que eu costumava usar nas festas. Mas não havia nada que eu pudesse fazer, ainda não tinha conseguido arrumar um emprego e dependia unicamente do dinheiro que meu pai me concedia.

― É isso que você considera apresentável? ― meu pai comentou assim que fechou a porta em sua lateral, tomando grande parte do banco passageiro.

Me exprimi no canto e me mostrei incomodado.

― Não estamos indo para mais um dos seus cultos.

― Por que acha que ternos devem ser usados unicamente quando estamos na Associação?

― Porque se eu não uso, pessoas com a mesma mentalidade que você, ficam me encarando como se eu fosse de outro mundo.

― Eles sabem o que é certo, você apenas insiste numa coisa que não é.

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