A vida, o teto, as moedas, a terra e o casulo. Um grande empréstimo a curto prazo. Eu não tenho poder sobre nada, a não ser, sobre elas. As palavras. Estas fluem da minha mente para ecoar em qualquer vazio que queira me ouvir gritar: silêncio!
Eu crio, costuro, moldo, afio, lustro e apresento. Para mim mesmo, o único telespectador do meu espetáculo. Não aceito lances baixos, apenas olhares atentos. Minhas e só-mente-minhas. Nada! E elas se afogam. Alinhadas, desmembradas, temperadas com sentimentos. Passadas para o meu nome, casadas judicialmente em prol dos meus próprios bens. De minha propriedade, vivendo em patrimônio dentro da minha orbe. Letras apertadas, sufocadas, abandonadas para quem quiser resgatar o último suspiro de um Eu mofado que ainda restou.
Os quatro cantos do meu manuscrito, minha ouvidoria, meu espaço dilaceral. Sou as minhas palavras, todas Eras da minha história. Sou estória, com E de escoriado nas rimas e nos versos. Sou ênfase. Em fase.
Dane-se a formalidade! Brinco e converso sério com todos os meus monstros. Disciplino cada linha e coloco de castigo quando a metáfora acaba. Eu sou o meu próprio Rei e a força desse reinado começa quando o parágrafo me chama de Vossa Majestade. Sou cortê, afiado e meritíssimo, sou o Homem cujo Pai se assentou para me ouvir. Porque agora eu não me calo mais!
Sou obra demorada, reescrita, corrigida e revisada. Foi bom pra você esse versículo ou precisa de um metrônomo? Sou mudança, capítulo pós capítulo, graduado em múltiplos personagens. Sou a vírgula que pausa. Pausa pra um cafuné, porque de café essa sociedade ficou doente.
Se continuo, perco a linha. Me atropelo, cambaleio, até me jogo e finjo ter falecido. Falecido para todo o resto do mundo, sou das minhas interpretações, do meu contexto. Com texto, sem-ti-mentalmente falando. Volte mil vezes e seja bem-vindo para entender cada oração descrita, cada verbo informal e sentença perpétua.
Rimo e miro em cada alvo, capturando pelos olhos. Dono de universos, eu trabalho de casa. Limpo a bagunça e aspiro corações. Transformo meu lixo em desacato. Cato e taco pra bem longe, em forma de encanto pra no canto, lerem a minha amplitude. Emburra e me decreta condenado, diz mesmo que sou louco. Pra viver nesse teu reinado, os normais estão em falta.
Escorrego nas crases, esqueço o plural, dou show de sumiço e não escrevo o final. Sou o ponto, pontualmente atrasado demais para essa sua concentração à espera de erros. Imperfeito do começo ao fim, perfeitamente em sintonia com o meu próprio vocábulo. Eu poderia atravessar todas as fronteiras do mundo, conquistar muitas pessoas pelo caminho, experimentar todos os picos de vertigem, mas me permiti ficar imóvel, acumulando roteiro para a minha produção. Lá fora, eu não sentiria tamanha completude, tanto quanto eu sinto quando aprendo o meu próprio idioma.
Visto o Eu lírico, escondo pedaços de mim na mochila e permaneço seguindo. A metáfora, meu medicamento descontrolado, pronto e servido para não te servir. Talvez eu nunca me renda.
Recito e resido no meu tribunal, em modo ímpar para libertar a inocente existência de algo que nunca aconteceu. Porque sou dois, silenciado em um. E talvez, só talvez, um dia aprendam a me decifrar unica(mente) pelas margens.
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ESPANHA, BARCELONA.
Posicionando-se em minha frente e trazendo a cadeira junto, Baekhyun atrapalhou a minha concentração no vazio.
― No que está pensando? Sinta-se à vontade para desabafar comigo. Prometo não te julgar ou dizer que esse sentimento é passageiro. Pois eu, como ninguém, posso te afirmar que não é.
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CLIFF | ChanBaek
Fiksi PenggemarByun Baekhyun odiava perder. O pseudônimo repetido pelos torcedores era o mesmo. Serpiente Azul, o prodígio em motocross, luta de rua e a persona que Baekhyun tinha criado. Em busca de um corpo para treinar suas técnicas de tatuagem, além de um quar...