Prólogo

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𝕺 céu estava escuro, nebuloso, ouvia se de longe o típico som dos pássaros voando para acharem um lugar seguro, eles eram tantos que quase tampavam como uma cortina o céu cinza, minha única túlipa vermelha estavam sobre minha mão descoberta, eram as favoritas de papai, ele ia gostar de ser uma túlipa a última flor depositada no seu caixão antes que ele fosse soterrado.

" vieram ao pó iriam"

Nunca fui religiosa, más hoje, justo hoje, essa frase não saia da minha cabeça. E assim ele será esquecido, daqui a duas gerações muito provavelmente ninguém se lembrará de Diego Andrade, ele veio, viveu e será esquecido, irá virar pó.

Talvez a vida não seja justa, não?

Com tanta gente má por aí viva e meu pai, alguém sempre tão bom está agora debaixo da terra, pronto para apodrecer e não ser lembrado.

Ele merecia ser lembrado, não é?

É, a vida não é justa.

Todos vamos morrer um dia, sei disso, mas meu pai tinha uma vida inteira pela frente, era jovem ainda.

Mas ele se foi.

Me deixando sozinha nesse mundo, sem mais nenhum parente vivo.

Senti um leve toque sobre meus ombros, não precisei me virar para saber quem era.

A mulher do meu pai.

Minha madrasta.

- Você tem que deixá-lo ir, querida - sua voz, calma e neutra invade meus ouvidos, como ela poderia estar tão calma? Ele não era o marido dela? O amor da vida dela? As pessoas se casam por isso, não?

Ela estava com um chapéu preto com uma renda cobrindo seu delicado rosto, além de um grande óculos para evitar que as pessoas vissem seus olhos inchados de tanto chorar, ela estava cabisbaixa durante todo o funeral, não falou quase com ninguém, só alguns apertos de mãos, más porque a voz dela estava tão calma? Como se ela estivesse em um jantar de negócios de papai?

Ela devia estar em choque como eu estava, apesar de meus olhos não conseguirem segurar as lágrimas que caiam sem eu nem ao menos perceber, minhas mãos tremiam assim como meus lábios, com meu coração apertado e não podendo evitar que alguns soluços saíssem de minha garganta, eu peguei a frágil túlipa e coloquei sobre o colo do meu pai, logo em seguida me abaixei para dar um último beijo nele.

Meus lábios tocaram a pele fria de seu rosto, sem vida e pálida, embargada pelo choro e entre soluços, disse:

- Sinto Muito pai! Você não merecia isso! Mas mesmo estando sozinha estou feliz pelo senhor, sei que vai encontrar a mamãe, meus avós e todos os nossos familiares que não chegou a conhecer, sei que vai para um lugar que merece o senhor muito mais que aqui, sim? Vou ficar bem, eu me cuido, sou sua menina valente, lembra? - engoli em seco - Te amo muito pai! Guarda um lugar aí pra mim, ok? Pode demorar mas eu vou encontrar o senhor e a mamãe... - respirei fundo - até algum dia meu velho - larguei sua mão fria e com lágrimas nos olhos me afastei do caixão, Juliette não tardou em me puxar para um abraço e eu não pude fazer algo além de agarrar forte sua cintura e enterrar meu rosto no seu peito, molhando seu vestido preto com minhas lágrimas, ela me apertou com força e não demorou muito para ela me tirar do cemitério para me levar ao carro.

Eu tinha que aprender a deixá-lo partir...

Más como deixar partir a única pessoa que você tem na vida?

A Má-Drasta (Sariette)Onde histórias criam vida. Descubra agora