O inicio.

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Lá estava ele, magnífico como sempre, ele a encarava com seus olhos azuis, os olhos que eram como espelhos da alma, que transmitiam tanto sentimento, como se quisessem lhe dizer algo, como se pudessem lhe dizer algo, mas como poderia, ele era um animal selvagem, seu lobo negro, seu amado lobo negro, ele era gigantesco qualquer pessoa em sã consciência, iria correr completamente apavorada em pânico, mas não ela, pois ela o amava e amava de uma forma tão intensa e desesperadora, que sabia, que nada, nem ninguém nesse mundo, seria capaz de destruir esse sentimento.
Devagar ela começou a caminhar em sua direção, lentamente com medo, que se corresse, sua imagem se desvanecesse, que se apagasse tal qual uma miragem.
Ela precisava tocá-lo, sentir seu cheiro, seu calor, precisava dele como precisava do ar para respirar, enquanto se aproximava, lentamente, passo a passo, se perguntava; como podia amá-lo, não tinha resposta, mas o amor que sentia era um amor inimaginável, daqueles que só existiam em contos de fadas, livros, sonhos, que, só aconteciam na imaginação dos amantes;
Como a lua e o mar, como o dia e a noite.
Sim, o que ela sentia parecia certo, na verdade, o que ela sentia era real, a única certeza que tinha na vida era que o amava. Ela continuou seguindo em sua direção e quando estava quase o tocando, sem desviar seus olhos dos dele, ela viu uma lágrima solitária cair dos olhos do seu lobo e nesse mesmo momento, ele uivou, um uivo tão triste que lhe doeu no fundo da alma, um lamento tão intenso, que a fez cair de joelhos na sua frente, ela levantou a mão lentamente para tocá-lo, mas no momento em que ia senti-lo, Nix despertou sobressaltada e com a sensação de desespero, a dor em seu peito era tão escruciante que parecia real, como se alguém ou algo primordial em sua vida, lhe tivesse sido arrancado de forma abrupta e cruel, tentando controlar a respiração e se acalmar, ela pegou a garrafa de água que estava ao lado da cama e bebeu um grande gole em seguida, olhou o relógio 2:30 da manhã.
Era noite de lua cheia e como sempre acontecia, desde que se lembrava de existir, ela teve esse sonho, sonhou com seu lobo negro, sua amargura era enorme, pois nunca se lembrava de muita coisa, apenas fragmentos dos sonhos, o principal era que nunca conseguia tocá-lo e que ele parecia tão real quanto ela, com seus olhos azuis repletos de amor e dor.
Nix tinha 23 anos e não havia uma lua cheia em que ela não houvesse sonhado com ele e por incrível que parecesse, ela se sentia comprometida de corpo e alma e por esse motivo até tinha tentado, mas nunca tinha se relacionado com ninguém não conseguia imaginar tocar ou ser tocada por alguém que não fosse ele.
As vezes achava que era completamente louca por se manter fiel à um sonho, à uma linda ilusão, mas se mantinha e, era intocada. Nem sequer um beijo roubado havia dado ou recebido, sua vida amorosa se resumia a esperar a lua cheia para sonhar com ele.
Ah Deus, daria tudo para poder tocá-lo e senti-lo ao menos uma única vez – Ela pensou.
Frustrada e exausta, afundou nos travesseiros e tentou voltar a dormir, afinal a vida seguia e as contas não esperavam, então teria que levantar em poucas horas para ir trabalhar. Ela vivia sozinha em um pequeno apartamento, com pouca mobília, tinha poucas posses, mas se sentia feliz, pois até pouco tempo não tinha absolutamente nada. Bem, ao menos mandava em si mesma ou gostava de pensar que era verdade. Não tinha parentes, pelo que lhe foi contado, foi encontrada na porta de um orfanato em uma cesta, quando era recém nascida, os únicos pertences que a acompanhavam eram; um colar com pingente de lua e estrela e um bilhete com o nome que lhe foi dado, Nix Devon e nada mais. Toda sua história se resumia à um colar com pingente e um nome, seu nome.
Já tinha pensado em procurar por alguém de sua família, mas estava evidente que não queriam saber dela, afinal a haviam abandonado e nunca mais a procuraram. Sua única amiga se chamava Luna e também fora abandonada ao nascer, no orfanato. As duas eram inseparáveis, faziam tudo juntas embora Luna fosse 3 anos mais velha que Nix, a amizade delas era linda, eram como irmãs e planejavam morar juntas quando chegasse a hora de sair do orfanato, quando Luna saiu, ainda se corresponderam durante alguns meses, depois Luna simplesmente desapareceu sem deixar pistas. Quando Nix saiu do orfanato, 3 anos depois, até tentou encontrá-la, mas sem conhecer muitas coisas ou lugares sua busca foi curta. O orfanato não havia sido tão ruim, pois lá os dias eram repletos de atividades físicas e intelectuais para desenvolver conhecimento em todas as áreas possíveis. Quando saiu do orfanato diziam que ela era um prodígio em tudo que se propunha a fazer. Descobriu depois de um tempo que nenhum orfanato tinha essas regalias e que esse em que foi criada, só as tinha devido à um doador misterioso que patrocinava todas essas atividades. Não que reclamasse, é claro, mas fora do orfanato a vida não era tão fácil. Não conseguiu voltar à dormir e às 6:00 da manhã, quando o relógio despertou ela levantou, tomou uma ducha rápida para clarear seus pensamentos, escovou os dentes, se vestiu, passou um pouco de maquiagem para esconder as olheiras das noites mal dormidas e saiu para o trabalho. Trabalhava em uma lanchonete não muito chique mesmo sendo muito bem instruída, lhe faltava o principal; experiência. Portanto, até conseguir alguma indicação ou uma vaga melhor, precisava pagar as contas, então lá estava ela para mais um turno de trabalho.
O dia parecia normal, como qualquer outro, mas de repente uma sensação estranha começou a pairar no ar, um aperto estranho no peito começou à lhe incomodar; como se alguma coisa grande ou algum perigo estivesse à espreita, só aguardando o momento certo para acontecer, mal sabia que sua vida estava prestes a mudar para sempre, que seu mundo iria virar de ponta-cabeça.
Quanto mais as horas passavam, mais o aperto em seu peito e a sensação de que algo estava errado aumentavam. Faltando duas horas para o término de seu turno, um homem enorme, aparentando uns 30 anos e simplesmente lindo, entrou na lanchonete. Tinha cabelo comprido e loiro, olhos azuis e uma expressão de poucos amigos. Vestia jeans surrado e uma camiseta com uma jaqueta de couro por cima, com certeza devia ser integrante de alguma banda de rock. O jeans deixava transparecer as coxas que com certeza praticavam bastante exercício físico, a camiseta justa evidenciava o abdômen liso e os braços fortes. O homem parecia um guerreiro antigo, do tipo que só existia nos livros que gostava de ler. Foi a primeira vez na vida que um homem chamou sua atenção.
Quando seus olhos se encontraram, ela teve a estranha sensação de conhecê-lo de algum lugar, o que era um absurdo, pois se conhecesse um deus desse jamais esqueceria. Ele continuou olhando para ela, de forma intensa o que a fez corar e ficar sem reação. Sabia que era bonita e que chamava atenção, mas nunca tinha se preocupado ou se incomodado com sua aparência até este exato momento. Seus cabelos tinham uma cor incomum, que todos pensavam ser tintura, porém era natural, sua cor era vermelho sangue. Possuía lábios grossos e sensuais, seus olhos eram de um azul intenso, seu corpo era curvilíneo, mas normal, nada extravagante, mas o conjunto da obra era aprazível aos olhos,  mas nunca tinha se preocupado se o era ou não, até esse momento.
O estranho continuou a encarando sem se aproximar, e ela estava paralisada, não conseguia se mover, um estranho torpor havia se instalado em seu corpo e mente e seu raciocínio simplesmente havia desaparecido, desvanecido. Ao longe, ouviu mulheres suspirando e comentando, sobre a beleza viril do estranho, tentou fugir do contato daquele olhar, mas foi impossível e mesmo que tentasse, seu corpo não lhe obedecia, não conseguia ir até ele, só conseguia olhar para o estranho, que a olhava de volta, lentamente ele começou a andar em sua direção e conforme ele se aproximava, ela ia sentindo uma necessidade louca de correr. Ela sentia, ou melhor, no fundo ela sabia que quando ele chegasse até ela, tudo que conhecia iria mudar, a estranha sensação e o aperto no peito, com certeza tinham algo haver com esse homem.
Quando finalmente chegou até ela, sem desviar seu olhar, Nix quase desfaleceu ao reconhecer o mesmo olhar de seu lobo; a mesma cor; o mesmo brilho; a diferença era que o olhar de seu lobo era repleto de amor e dor, enquanto o desse estranho era cheio de arrogância fria e algo mais que ela não conseguiu identificar, mesmo assim eram os olhos de seu lobo. Ela pôde sentir seu coração errar uma batida, um arrepio lhe percorreu a espinha.
Será que estava sonhando? Ela pensou. Um tremor tomou conta de seu corpo quando ele perguntou:

A Deusa do loboOnde histórias criam vida. Descubra agora