Cap 16

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Quando abri meus olhos, o carro estava parado. Endireitei as costas e me espreguicei.

Melissa pigarreou.

— Acordou.
— Cadê John B?

Ela apontou para a janela, John B e Nicholas em pé ao lado de uma bomba de combustível.

— Ah. - peguei minha carteira e tirei uma nota de cinquenta.

Melissa olhou para o dinheiro por um instante e disse:

— Seu irmão é um babaca, Sarah. Não estou falando porquê estou com pena, é verdade.
— Tudo bem. - disse.
— Não está. Você não é superficial do jeito que ele tentou fazer você parecer. Eu achava antes de te conhecer, confesso. Mas estamos todos tentando melhorar a cada dia, você fingiu namorar meu irmão para ajudá-lo com Daniella. Falou comigo na escola na frente da sua amiga sabendo que poderia estragar o seu disfarce. Pense, Sarah. Estamos nessa viagem juntas faz horas e eu ainda não quis te matar, isso significa algo.

Sorri.

John B voltou ao carro e se sentou diante do volante e me olhou. Ainda parecia preocupado. Odiava isso.

— Toma. - coloquei o dinheiro em sua mão.
— O que é isso?
— Pela diversão que foi essa viagem. - tentei fazer brincadeira com a situação, eles riram mas parecia forçado.

Meu telefone tocou.

— Oi, mãe. - atendi e logo me lembrei que tinha prometido ligar pra ela. — Desculpa. Esqueci de ligar. Estou voltando para casa.
— Estava preocupada. Pensei que tinha saído com seu irmão para comemorar. Como não me ligou, liguei pra ele.

Droga. Droga.

— O que ele disse?
— Não atendeu. Eu deixei um recado.
— Que recado você deixou? - tinha esperança que ela não tivesse mencionado que eu fui até a cerimônia.
— Só perguntei se você estava com ele.
— Desculpa. - repeti mas agora só conseguia pensar que meu irmão sabia que eu estava lá, e que eu tinha visto o vídeo.

O que ele diria para mim?

— A gente se vê daqui a pouco.

Desliguei.

— Ele sabe? - Melissa perguntou assim que eu desliguei o celular.
— Não. Mas vai saber em breve.

Uma hora mais tarde, depois de deixar o Nicholas, paramos na casa de John B e eu olhei para ele, tentando entender porquê não tinha me levado para casa.

— Tchau. - ele falou para Melissa. Eu sai do carro e a abracei antes que ela se afastasse.
— Disse que não queria te matar, isso não significa que quero te abraçar. - a voz dela sugeria um sorriso.

Eu sabia porquê um segundo depois ela me abraçou de volta.

— Obrigado por me ajudar com Nicholas. Eu percebi seus planinhos. - ela disse antes de entrar.

John B também tinha saído do carro e fez um gesto para segui-lo. Em vez de me levar a porta principal ele deu a volta e entrou na garagem.

— Meu estúdio. - ele sorriu.

Entrei no local e observei tudo, era maravilhoso. Tinha um ar meio "vintage", posters de bandas na parede, algumas fotos e sem contar todos os aparelhos de música. Sorri imaginando John B gravando músicas aqui, era um lugar aconchegante.

— Senta. - ele apontou para o sofá enorme no canto.
— Você ainda acha que é responsável por mim? Eu já disse que estou bem.
— Odeio quando as pessoas falam isso. Minha mãe sempre disse que é a mentira mais contada no nosso século. Você não precisa estar bem depois do que aconteceu hoje.
— John B. - me levantei. — Obrigado, mas não quero falar sobre isso.

O jeito que ele me olhou fez meu coração doer. Piedade, de novo.

— Só quero que fale sobre isso. Desabafe.
— Não é assim que eu lido com as coisas.

Ele ficou quieto.

— Você passa muito tempo aqui? - mudei de assunto.
— Sim. Ás vezes gravo algumas músicas. Você canta?
— No chuveiro. - ri.

Ele olhou para mim e quando eu comecei imaginar que ele já pensava em outras coisas, coisas que me fariam esquecer o dia de hoje, ele franziu a testa com o suspiro frustado.

— Você está sorrindo.
— É bom, não é?
— Sarah. - ele segurou minha mão. — Não combina com o que está sentindo.
— Eu não choro.
— Está tudo bem. Você não precisa ser forte o tempo todo.

Eu não ia chorar na frente de John B.
Me sentei no sofá de novo e suspirei.

— Eu pedi para você fingir ser meu namorado só porquê não queria escutar críticas da Alice. Necessidade de aprovação. - citei a última coisa que Rafe tinha falado em seu discurso.
— Todos temos. É um saco. Mas é por isso que ele ganhou um prêmio, todos se identificam. Aliás, se você não tivesse pedido para mim fingir ser seu namorado a gente não teria se conhecido. Eu gosto da sua companhia, seria um saco viver em um mundo sem te conhecer.

Ele me abraçou.
Não lembro por quantos minutos ficamos assim.
Só sei que era muito bom.

— Quero ir pra casa. - disse e ele assentiu, se afastando.
— Vou chamar minha mãe para te levar. Ela é boa pessoa para conversar.
— O que?

Sem responder, ele saiu do estúdio. Não podia estar falando sério, eu não ia falar com a mãe dele. Mas alguns minutos depois, ela entrou e se sentou ao meu lado.

— Seu filho é louco. Desculpa.
— Tudo bem, vou te levar embora. Vem. - ela me puxou e logo chegamos ao carro. — O que aconteceu?

Eu sabia que provavelmente Melissa ou John B já tinham contado alguma coisa para ela, mas ela queria que eu contasse com minhas palavras. E eu não sei a certo, mas assim que ela me olhou eu sabia que poderia contar todos os meus problemas. Era como se John B soubesse que sua mãe era uma pessoa fácil de desabafar porque depois de dizer a ela onde morava, não demorou nada até eu começar a falar sobre como aquele filme me fez sentir.

— Sou superficial? Não tenho nenhuma profundidade e vivo pela aprovação dos outros. Não tenho sabedoria ou grandes conclusões para oferecer - olhei para ela e ela riu.

Não uma risada debochada, uma risada afetuosa. Isso me fez relaxar.

— Ah, Sarah. Você tem 18 anos, ainda vai ter muitas preocupações durante a sua vida, não precisa desejá-las agora.
— Eu sou cheia de defeitos.
— Todos somos. E isso nos faz perfeitos. - ela sorriu.
— Olha. Todos nós temos nossa história por trás do que mostramos aos outros. Tem pessoas que você quer compartilhar essas histórias, e algumas pessoas querem compartilhar a história dela com você. Você descobre coisas que te preenchem, aumenta a sua compreensão. E acrescenta coisas à sua vida, à sua alma.

Ela parou em frente da minha casa.

— E o que o seu irmão fez foi errado. Ele deveria ter pedido permissão.
— Ele pediu, no filme.
— Sabemos que ele deveria ter pedido de outro jeito. Debochar de alguém, editar imagens para parecer inteligente e profundo só prova o contrário.
— Ele sabia que ia me incomodar, por isso não queria que eu fosse.
— Sinto muito. Espero que fale com seus pais sobre isso.

Ri sem humor e desci do carro.

— Obrigado, por tudo. Você e sua família são incríveis. - ela sorriu.
— Sarah?
— Sim? - me virei.
— John B. Ele não gosta de garotas superficiais e sem profundidade. Portanto, deve haver muito mais em você do que você acha.
— John B não gosta de mim.
— Ah minha querida, eu sou mãe dele. Sei mais que você e do que ele mesmo sabem.

Between Us - JarahOnde histórias criam vida. Descubra agora