Cap 20

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Andamos uns 20 minutos de carro até que chegamos em um bairro afastado. Melissa desceu do carro animada segurando o balde de bolas de beisebol e John B riu. 

— Vem, eu te ajudo. - ele estendeu as mãos e eu segurei um pouco nervosa. 

Ele subiu uma alameda de terra que era a entrada de uma propriedade, um terreno cheio de árvores entulhos e tinha alguns carros velhos também. 

— Vocês vão me matar? - perguntei rindo. 
— Se eu fosse, não diria sim. - ele respondeu e eu dei uma tapa em seu braço. — Cada dia que a gente sai você bate no meu braço, acho que um dia vou ficar sem ele. 

Vários cachorros começaram a latir assim que chegamos, latindo e correndo atrás de nós. 

— Ah, os cachorros que vão nos matar. Entendi. 
— Cala a boca, aqui é a casa do Will. - ele apontou para uma casa que eu não tinha reparado antes. — Por vinte dólares ele deixa a gente jogar as bolas de beisebol no terreno dele. 
— Vinte dólares? Porque você não joga no quintal da sua casa? 
— Ele deixa a gente jogar nas coisas dele. O efeito é melhor. 

Olhei pra frente e vi Melissa conversando com um senhorzinho, provavelmente Will. Ela veio até nós com um sorriso enorme. 

— Ele está de bom humor. 

Olhei para o senhorzinho novamente e ele tinha uma careta que sugeria que ele não queria a gente ali. Melissa riu assim que percebeu que eu estava confusa. 

— Esse é o bom humor dele, Sarah. 
— Na verdade é porque estamos pagando. - John B acrescentou. — Ok Sarah, isso foi horrível. - ele disse assim que viu minha tentativa horrível de arremesso. 

— Imagina o rosto do seu irmão no vidro. - Melissa sugeriu. 
— Imagina que ele está com a filmadora na mão. -  John B disse. 
— Vocês guardam todas essas bolas de beisebol só pra isso?

Perguntei enquanto jogava mais uma bola no carro velho. 

— Temos as bolas porque John B tentou jogar beisebol no colégio com todos amigos dele. Mas ele é péssimo. Sério, muito ruim. 
— Obrigado, Mel. - ele sorriu ironicamente. — Eu não estava interessado de verdade.

Ele olhou pra mim tentando se explicar e eu ri. 

— É porque todos amigos deles são atletas e ele quis virar um. Mas em vez disso ele virou... 
— Não. - John B apontou o dedo para Melissa. 
— Solitário. E excluído. Por isso tentou entrar no time. 

Solitário. Será que era por isso que ele me achou solitária no dia do baile?
Como se adivinhasse o que eu estava pensando ele colocou a mão no meu braço e disse: 

— Não sou solitário. Agora joga a bola. 

Eu me preparei para um arremesso e ele suspirou. 

— Vem. Você definitivamente precisa de ajuda. 

Ele me puxou para mais perto e se colocou atrás de mim.  Melissa deu uma risada divertida. 

— Belo truque, John B. 

Eu não conseguia ver a cara de John B mas sabia que ele estava tão vermelho quanto eu. 
— Não. Ela realmente precisa de ajuda. 
— Ei. - dei uma cotovelada em seu estômago. 
— Sério. Se fosse um truque, faria alguma coisa assim. - ele pôs a mão na minha cintura, me puxou contra o seu peito e aproximou a cabeça da minha orelha. — Ei, você precisa de ajuda? - falou em voz baixa e rouca. 

Congelei. Minha nuca e orelha se arrepiaram.
Filho da mãe.

Melissa deve ter visto a expressão no meu rosto pois começou a rir muito. 

— Não funcionou? - John B perguntou. 
— Não foi tão bom assim. - menti. 
— Ok. Agora vamos a verdadeira lição. - ele colocou suas mãos em minha cintura novamente. — Você precisa inclinar um pouco o corpo. Depois apoie um pé na frente e arremesse... - John B explicava detalhe por detalhe e eu senti vontade de fingir que não tinha entendido só para ele explicar de novo. 

— Não acho uma boa ideia ouvir conselhos de alguém que não conseguiu entrar no time de beisebol. 
— Cala a boca. - ele riu. 

Eu sorri e arremessei. 

— Você precisa gritar alguma coisa enquanto arremessa.

Melissa pegou uma bola e gritou: — OLHEM O QUE ESTÃO PERDENDO! - e então arremessou. 

John B levantou as sobrancelhas. 

— O que foi isso? 
— Para garotos sem noção. - eu disse e Melissa me olhou sorrindo. John B nos olhou confuso. 
— Ok. - ele me deu outra bola.  — GRITE! 
— É TÃO DIFÍCIL PEDIR DESCULPAS? - arremessei.  — John B. Você tem algum demônio para exorcizar? - Melissa perguntou e entregou uma bola em sua mão. 

Ele olhou para o para-brisa por um momento e arremessou uma. Depois outra. E outra. Diferente de mim e Melissa ele não gritava nada mas a velocidade e a força em que ele jogava as bolas no carro me fazia pensar que ele tinha alguns demônios sim. O vidro estalou alto e várias linhas se formaram em torno do ponto de impacto, desenhando uma teia. Foi minha vez de levantar as sobrancelhas. 

— O que foi isso? 
— É divertido quebrar as coisas. - ele respondeu mas nem eu e nem Melissa tínhamos acreditado. 

Todos nós continuamos arremessando as bolas até que John B gritou. 

— Parem! 
— O que foi? 
— Vai estilhaçar. - Melissa respondeu por ele. 

John B sorriu e me entregou uma bola. 

— É toda sua! 
— Se eu errar vou me sentir muito envergonhada. - eu disse. 
— Você não vai errar. 

Inclinei um pouco, dei um passo para frente e arremessei. O vidro quebrou na hora e fez um barulho alto.
Era maravilhoso. Libertador. 

— Isso foi incrível. - John B sorriu e me abraçou me levantando do chão e rodando. 
— Eu vou brincar com os cachorros, já volto. - Melissa disse pegando algumas bolas do chão e sumindo da nossa vista. 

— Vocês fazem isso sempre? - perguntei. 
— Só em casos extremos, você era um. 
— Ele trouxe aquele carro faz pouco tempo? - apontei para um automóvel enferrujado, mas em boas condições parado embaixo de uma árvore. 
— Não. Não tocamos naquele. Eu estou tentando convencer Will a vender aquele carro para mim desde que começamos a vir aqui. Mas ele é chato demais. 
— Mas ele não gosta do dinheiro? - me lembrei do que ele tinha dito mais cedo. 
— Estava zuando. Ele gosta de visitas, na verdade. Vem, você precisa ver esse carro.

Between Us - JarahOnde histórias criam vida. Descubra agora