Cap 17

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Meus pais me cumprimentaram quando cheguei em casa.

— Como foi? - minha mãe perguntou.

Senti vontade de dizer tudo o que tinha acontecido mas acho que Rafe merecia uma chance de se explicar.

— Legal. Eu to cansada, vou subir.

Não esperei por resposta, apenas subi as escadas. Assim que entrei no meu quarto meu celular apitou mostrando uma mensagem de John B.

"Não assista o vídeo. Não é legal"

O conselho dele não me impediu, precisava ver o que tava disponível na internet para todos verem. Depois de um minuto do vídeo eu fechei o notebook rapidamente, não conseguia ver o resto. John B estava certo. Enfiei a cabeça no travesseiro e logo adormeci.

No dia seguinte Rafe me ligou por volta das nove horas da manhã. Eu não queria atender mas queria ouvir suas desculpas.

— Alô.
— Sarah. Disse pra você não ir.

Se isso era um pedido de desculpa, não era bom. Não consegui falar nada.

— Eu disse no vídeo que ia usar para um projeto. - sua voz se tornou defensiva.

As lágrimas finalmente rolaram. Não conseguia segurar por mais tempo.

— Achei que você estava falando comigo porquê se importava, não por causa da droga de um vídeo.
— Eu estava tentando te ajudar. Você não pode ter essa necessidade de aprovação. Não é bom para sua saúde mental.
— Você editou as imagens e me fez parecer uma idiota. Talvez eu tenha essa necessidade de aprovação porquê você nem nossos pais, sequer uma vez me apoiaram na dança. Seu vídeo me fez mal. Me fez me sentir um lixo. Não foi a melhor coisa para minha saúde mental também, então para de tentar justificar. - foi difícil para mim dizer tudo isso mas eu sabia que era necessário.

— Eu queria que as pessoas se identificassem.
— Você falhou, porquê riram de mim na cerimônia.
— Eram idiotas.
— Tá. Isso não parece um pedido de desculpas.
— Eu devia ter te avisado sobre o filme.

Também não era um pedido de desculpas.

— Quando foi que você virou um babaca?
— Sarah...

Desliguei o telefone. Era isso ou xingá-lo com todos os palavrões que eu conhecia.

Peguei um papel e escrevi o link que o filme poderia ser encontrado. Por mais incrível que pareça eu tinha memorizado cada detalhe. Depois disso, desci as escadas e fui até a cozinha. Meu pais e minha mãe estavam sentados na mesa conversando, pus o pedaço de papel na mesa com uma pancada forte e os dois levantaram a cabeça assustados.

— O que é isso? - meu pai perguntou.
— O filho de vocês é um babaca. Achei que deveriam saber. Vou sair. - Rafe teve a chance de se explicar e não adiantou nada.

Me senti infantil mas meus pais tinham que ver, eles apareciam no vídeo também. Peguei minha bolsa em cima do sofá e sai. Não sabia onde ia. Só queria esfriar a cabeça, não podia ficar mais um segundo dentro de casa.

****

Sweet Escape era meu lugar favorito da cidade. Era uma lanchonete e karaokê. Eu, Kiara e Mia sempre vínhamos aqui quando éramos mais novas, mas depois começamos a ficar com preguiça de atravessar a cidade para vir então acabávamos frequentando só lugares mais perto. Mas eu precisava pensar, e eu amava esse lugar então não conseguia imaginar um lugar melhor.

— Só você hoje? - Diana, a dona da lanchonete perguntou assim que me viu entrar sozinha. — Sem Kiara e Mia?
— Sim. - sorri fraco. — Preciso pensar. Vou querer um milk-shake só.

Meu celular apitou e logo vi uma mensagem de John B.

"Tudo bem?"

"Você sabia que Wonderwall é uma das músicas mais cantadas nos karaokês?"

"O que? Você ta onde?"

"No Sweet Escape. Pensando"

"Você ta bem?"

"Mostrei o filme para meus pais"

"O que eles disseram?"

"Não sei. Vou descobrir logo"

Era isso que eu temia. Eu já estava com raiva do meu irmão e ficaria mais ainda quando visse a mágoa dos meus pais também, eles não mereciam isso mas precisavam saber. Meu celular vibrou e eu atendi tampando o outro ouvido na tentativa de escutar melhor.

— Alô?
— Que barulho é esse?
— Estou no Sweet Escape. É uma lanchonete e karaokê. Sério que você não conhece?
— Não.
— Espera um pouco. - sai do meu lugar e caminhei até a porta, abri e senti o vento fazendo meu cabelo voar para trás e me sentei na guia da calçada. — Primeiro: Isso é um absurdo, é o lugar mais legal dessa cidade. Se eu pudesse eu morava aqui. Segundo: Tudo bem? Porque está ligando?
— Nada. Liguei porque você não respondeu a mensagem.
— Respondi todas. - fiquei confusa.
— Você evitou a pergunta mais importante. Você está bem?
— Ah. Sim. Não sei. Acho que sim. Talvez?
— Isso é múltipla escolha?
— Meu irmão é um babaca. - suspirei.
— Eu sei. Sinto muito, Sarah. De verdade.
— Ele nem pediu desculpas. Você não tem nada a ver com isso e já disse que "sinto muito" mil vezes. - desabafei e num impulso acrescentei. — Está ocupado?

— Só estou ensaiando uma cena para minha próxima peça.
— Quer me encontrar aqui para comer algo? Te ajudo com a cena. Ainda acho um absurdo que você não conhece a Sweet Escape. Melhor lugar da cidade.

Ele pensou por um tempo.

— Tudo bem. Manda o endereço por mensagem.

****

Comecei a ficar nervosa no momento que percebi que ia encontrar o John B e nem sequer estava vestida para um encontro. Quer dizer, isso não era um encontro. Não tinha com o que me preocupar. Né?

— Adivinha quem é. - senti duas mãos tamparem meus olhos.
— Hum. Se não for o John B acho melhor sair logo daqui porque vou começar a gritar por socorro.
— Idiota. - ele me estendeu as mãos me fazendo levantar.
— Você está de óculos. - eu sorri.

Ele ficava muito fofo com óculos.

— Estava lendo a minha cena. Sério, preciso da sua ajuda depois.
— Tudo bem. - entramos na lanchonete de novo e logo John B fez seu pedido.

John B era uma pessoa super fácil de conversar, sério, eu sentia que podia falar sobre tudo com ele. Olhei no relógio e já tinha se passado quase duas horas. Arregalei os olhos.

— Meu Deus. Eu falei que ia te ajudar, vamos lá. - peguei o roteiro em cima da mesa e ele assentiu enfiando a última batata frita na boca.

O lugar que estávamos sentados era meio afastado de todas outras mesas então o barulho não atrapalhava.

— Hum. Um estranho casal. É aquela história de uma pessoa muito bagunceira com a outra neurótica por arrumação?
— Sim.
— Você é qual?
— Bagunçado. - ele suspirou e então olhou para o roteiro em minhas mãos. — Ah, você quer saber na peça? Meu amigo JJ é o bagunçado, eu sou o maluco por organização.
— Espera JJ Maybank?
— Você o conhece?
— Sim, ele dá ótimas festas! Eu, Kiara e Mia íamos sempre.
— Como eu nunca te vi?
— Essa é uma coincidência infeliz.

Ele sorriu.

— E a bagunça é na vida real?
— Você não notou?
— Você parece um cara limpinho. - arqueei as sobrancelhas e ele riu.
— Eu sou. A bagunça é de outro tipo.
— Como assim?
— É mais complexo do que você imagina.
— Bom, se você é uma bagunça, eu sou um desastre.
— O mais lindo que eu já vi.

Meu rosto ficou quente e eu desviei o olhar para o roteiro.

— Tudo bem. Segundo ato, cena um.

Between Us - JarahOnde histórias criam vida. Descubra agora