Cap 18

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— Eu não vou cantar, sério. - disse pela milésima vez — Você que tem a voz de anjo aqui. 
— Da próxima vez eu vou te obrigar. -  John B disse rindo e olhamos para a menina que cantava, sua voz não estava sincronizada com o vídeo e ela parecia um pouco alterada e isso tornava a cena mais engraçada que o normal. 

— Só canto se eu estiver bem alterada que nem ela. Provavelmente depois de uns 12 shots de Tequila.
— Qual é. - ele riu e fez um biquinho parecendo decepcionado. 

— DON'T YOU KNOW THAT YOU'RE TOXIC??? - a menina que estava cantando deu um grito e eu e John B rimos. 

— Olha, uma música sobre a sua amiga. - eu dei um tapa em seu braço. — Enfim, obrigado por me ajudar com a cena. - eu assenti sorrindo, tínhamos passado a cena duas vezes e eu só tive que ajudá-lo com algumas falas. Ele era bom. 

— Você interpreta muito bem o cara doido. 
— Obrigado. 
— JJ que vai interpretar o outro é tão bom ator quanto você? 

Ele me encarou sorrindo. 

— Bom, se eu disser que não vou parecer arrogante. Se eu falar que sim, você vai achar que eu não sou nada especial. -ele pensou por um tempo. — Na verdade, JJ é um ótimo ator.

Girei a colher no copo vazio de milk shake. 

— Eu nunca fui ao teatro. 
— O que? Sarah, não podemos ser amigos. - ele colocou a mão no coração se fingindo muito ofendido. 

Quando eu me preparava pra falar algo ouvi uma voz atrás de mim que fez meu coração pular. 

— Sarah? 

Fechei os olhos  tentando fazer aquilo desaparecer mas quando eu abri os olhos ela ainda estava lá. Alice. 

— Oi. 

Ela sorriu para John B. 

— Josh, certo? 

Eu me encolhi, respirei fundo e disse:

— Nã...

John B ficou de pé e me interrompeu. 

— Sim, e você é...? 

Ele sabia quem ela era, mas a aparência inocente em seu rosto mostrava ao contrário. Eu queria rir mas me controlei. 

— Alice. Nos conhecemos no baile mas você estava ocupada com outras...coisas. - ela sorriu irônica.
— Não sabia que tinham voltado. Sarah disse que estava saindo com outro cara. 
— Não estou saindo com outro cara. - interferi rapidamente.

Ele era o outro cara e eu não queria que ele pensasse que eu estava dizendo para as pessoas que estávamos saindo.

— E também não voltamos. Estamos conversando. - ela queria me encrencar com o "Josh" caso realmente estivéssemos tentando voltar. 

Alice me mediu da cabeça aos pés. 

— Acabou de sair da academia? Está tão...natural. - ela fez cara de nojo. 
— Tem razão. A beleza de Sarah é natural. - ele realmente tinha entrado no personagem porque agora até segurava minha mão.

Apesar de eu ter acabado de dizer para Alice que não tínhamos voltado. Olhei para ele o repreendendo mas não soltei sua mão. Alice olhou o roteiro em cima da mesa. 

— De quem é isso? Sarah disse que você fazia administração. 
— Também faço teatro. 
— Hum. - ela ajeitou a bolsa no ombro. — Você usa óculos. - ela comentou como se estivesse fazendo uma lista. 
— É o que as pessoas com dificuldade de enxergar usam quando não estão usando lente de contato. 
— Sarah nunca disse isso. 
— Porque eu deveria dizer? - perguntei franzindo a testa. 
— Nada. - ela deu de ombros.
— Tenho que ir, só vim pegar comida pra mim mãe. Sabe como ela é. Liga pra mim, Sarah. 

A gente nunca ligava uma pra outra.

Alice foi até o balcão, pegou uma sacola e logo saiu. John B ainda a observava enquanto segurava a minha mão. 

— Não gosto dela. - ele finalmente disse.

Soltei as nossas mãos, provavelmente nós continuaríamos daquele jeito mas seus olhos brilhavam como se ele tivesse acabado de fazer uma apresentação digna de Oscar e eu não queria ser uma coadjuvante nessa encenação.  Ele pegou o roteiro em cima de mesa. 

— Ela anota tudo o que você fala? 
— Pra usar contra mim no futuro, sim. 
— Porque você anda com ela? Não entendo. 
— Minhas amigas gostam dela. 

Ele olhou para rua, Alice ainda estava parada conversando no telefone com alguém. 

— Eu piorei a situação? 
— Tudo bem, John B. Não tinha como piorar. Eu só ia contar toda a verdade agora. 
— Sim, eu percebi. Te interrompi porque acho que você deveria contar as outras primeiro. 
— Vou fazer isso. - olhei para Alice do lado de fora da lanchonete.
— Já volto. 

Eu tinha diferenças com a Alice mas queria que a gente tivesse uma boa convivência, a pior coisa do mundo era rivalidade feminina, eu não era melhor que Alice e ela não era melhor que eu. Vivemos num medo que os homens vivem tentando colocar mulheres contra as outras e eu não podia facilitar esse trabalho. 

— Alice! 

Ela parou e se virou. 

— Tudo bem? - apontei para o telefone, ela parecia irritada com algo. Kiara já tinha me contato que ela tinha problemas com a família, fiquei imaginando se não tinha a ver com isso. 

— Eu... - ela parecia prestes a contar algo mas sua expressão mudou.
— Kiara te falou algo? 
— Não... 

Ela parecia brava e olhou para a sacola com caixas de comida em cima do capô do carro. 

— Minha mãe é uma pessoa difícil. Só. 
— Sinto muito. Só queria saber se estava bem, se precisar de qualquer coisa estou aqui. 

Ela riu. 

— Está fingindo que se importa porque está preocupada comigo ou com medo do que eu sei? 
— Que? 
— Fica esperta, Sarah. Estou quase descobrindo. - ela forçou um sorriso e se virou entrando no carro. 

Fiquei parada sem entender nada. O que diabos tinha acontecido? 

****

Assim que cheguei em casa encontrei meus pais sentados em frente a TV, eles não pareciam bravos, pelo contrário, eles estavam rindo muito. 

— Sarah. - meu pai pigarreou e minha mãe se endireitou e desligou a TV. — Você não pode sair desse jeito nunca mais. 
— Assistiram o filme? 
— Sim. 
— E? 
— É um vídeo muito interessante. Um experimento sobre a sociedade. 
— Ele nos usou no vídeo. A própria família dele. 
— Qual outra família ele usaria? Ele só tem uma. 
— Ele poderia usar uma família que aceitasse fazer parte de um documentário e ser alvo de deboche. 
— Não foi deboche. - minha mãe protestou. 
— Eu me senti ridicularizada. 
— Nós lamentamos por isso. A intenção dele com certeza não foi te ridiculizar. 
— Bom, não foi o que pareceu depois que riram de mim. Vocês não vão fazer nada? 
— Já falamos com ele. Ele devia ter te avisado sobre o que era. 
— E? 
— Que estamos orgulhosos dele. 
— Orgulhosos? 
— Você não está? - meu pai parecia confuso. 
— Não. Estou furiosa. 
— Entendo. Espero que passe logo. - meu pai deu de ombros e meu queixo caiu.

Tinha tantas coisas que eu queria dizer e soltar todos palavrões que eu conhecia mas eles ainda eram meus pais e não tinha culpa de serem manipulados. 

— Vou visitar uma amiga. - tentei parecer calma. 
— Kiara? 
— Sim. 
— Ok. Não volte tarde. 

Sai de casa e pensei em ir até a casa de Kiara mas mudei de ideia. Eu precisava liberar minha raiva, estava me sentindo sufocada. Por um momento, senti que não conseguia respirar. Mesmo assim, continuei andando e depois de um bom tempo cheguei na casa que eu queria. Precisava fazer algo rebelde e inesperado e conhecia a pessoa perfeita pra isso.

Between Us - JarahOnde histórias criam vida. Descubra agora