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   Arien..

- Certo Lucien, posso te levar de volta rápido, mas preciso ir em casa pra isso - não atravessava e ir andando daqui até às terras humanas gastaria muito tempo, e ele tava visivelmente acabado. Ele me olhava com cautela, também acharia suspeito se estivesse no lugar dele, ele está sendo mais calmo do que eu imaginava.

- Desculpe a pergunta, mas como saberei que não é uma armadilha? - ele tinha um bom ponto, mas não havia nada para lhe provar que era seguro, só minha palavra.

- Não há como saber, mas eu já te salvei e cuidei da sua ferida, te deixar sozinho na floresta é o mesmo que jogar todo meu esforço fora não acha? - queria ajudá-lo, mas não o obrigaria a ir comigo.

- Não tenho nada a perder de qualquer forma - ele disse depois de um tempo considerando meu argumento, ergui uma sombrancelha para ele, alguma coisa nesse feérico me intrigava.

- Então vamos.

...
A maioria de minhas coisas tinham sido levadas por Éolo ainda a noite. Depois de ajudar Lucien a se levantar e caminhar para fora da caverna apaguei minha esfera de luz e saímos caminhando para minha casa, não deveria estar o levando até lá, mas sinceramente me cansei de viver nas sombras, me escondendo de tudo, sou muito mais forte que antes, e não tenho medo de lutar. Não sabia porque mas confiava em Lucien, e realmente acredito que ele não me traria nada de ruim.

Caminhamos em silêncio, ele observava atentamente cada detalhe da floresta, a floresta era linda na verdade, mas poucos conseguem ficar aqui dentro o tempo suficiente para ver, as criaturas que moram aqui não são exatamente todas sedentas de sangue e monstruosas, conheço algumas bem simpáticas, geralmente os que são considerados "aberrações" ou não se sentem bem-vindos em nenhum lugar buscam se refugiar aqui, onde não precisam se preocupar em seres diferentes demais. A maioria que conheço já foram caçados ou enxotados, de certa forma eu também, todos nos nos sentimos seguros aqui, a floresta reconhece nossa dor e nos protege da podridão de lá fora.

- É bem diferente do que eu imaginava - ele disse enquanto passávamos por uma trilha de madeira, como uma ponte.

- É diferente pra quem é de fora, é como instinto de proteção - respondi simplista, todos aqui buscam um lugar seguro, é mais fácil manter todos longe.

...
Estavamos quase chegando em minha casa, mas senti que estávamos sendo observados, então mandei Lucien se abaixar perto de uma grande árvore enquanto eu olhava ao redor, Éolo estava monitorando por cima. Uma brisa veio a minha esquerda e senti seu cheiro, achei. Um Naga.

- Você pode sair, eu sinto seu cheiro putrído.

Ele soltou uma gargalhada sem graça, que ressoou pelo espaço, irá se arrepender muito se tentar cruzar meu caminho.

- Olha, olha só.. parece que encontrei uma preciosidade não é mesmo - era mais horrendo do que me lembrava, parecia um cadáver envolvido por sombras tão sem vida como seu corpo.

- Estou avisando, se quiser continuar com essa cabeça horrenda ainda presa no corpo é melhor ir agora - não estava com paciência, estava com fome, precisava de um banho e tinha passado a noite acordada, sem contar que o dia anterior tinha sido exaustivo.
Minha postura era rígida, estava em posição de ataque, meu rosto portava uma expressão neutra e indiferente. Mas ele começou a se aproximar devagar, rindo como se eu tivesse acabado de dizer algo estúpido.

- Eu avisei.

Disse sem esboçar nenhuma emoção, ele começou a correr, vi pela visão periférica Lucien ficar tenso e parecia estar preparado para enterver caso nescessário, mas não seria.

Tinha os melhores treinamentos que um guerreiro poderia ter, queria estar preparada para tudo que poderiam fazer contra mim, então fui ao acampamento iliriano logo após aprender as táticas seráficas, participei do rito de sangue e sobrevivi, era forte, era uma guerreira.

O Naga estava sozinho, não era algo muito comum então ficaria alerta para qualquer emboscada, ele não era daqui, por mais desconhecido que seja para as terras exteriores, tinham regras na floresta, para manter a ordem, e isso era uma violação. Receberia sua punição o mais adequadamente possível.

Peguei minha adaga, a girando em meus dedos enquanto caminhava calmamente em direção ao Naga, ele pulou em cima de mim e segurei a adaga firmemente, me abaixando e levantando minha mão na altura do rosto, sorri de lado e desviei de seu ataque tão rápido que ele se chocou com toda força no chão, estava espumando de raiva, me agachei ficando bem perto dele, qualquer um me acharia maluca.

- Você cometeu um grande erro entrando em meu caminho, coisinha nojenta.

Ele ficou no estopim do ódio, tão fácil. Se virou rapidamente levando a mão para meu pescoço e antes que pudesse sequer encostar direito eu  passei minha lâmina em seu pulso, cortando sua mão fora, sua pele parecia estar em decomposição e o cheiro era horrível. O Naga gritou e rugiu de raiva e dor, caindo para trás e segurando o braço.

Me levantei, limpando com a barra do vestido os respingos de sangue negro do meu rosto.

- Vadia dos infernos, irei acabar com sua vida - não me importava com xingamentos e ameaças, mas não queria que esse idiota me trouxesse uma dor de cabeça futuramente.

- Vai desejar ter pedido misericórdia quando ver o que te espera.

Ele estremeceu ao ouvir minha última frase, o segurei pelo braço inteiro o arrastando para mais longe, deixei ele sentado ao pé de uma árvore e liberei um pouco de poder para fazer as raízes e folhas o envolverem junto a árvore, o deixando completamente preso, a espera da morte.

- O que é isso? O que pensa que está fazendo sua vadia maldita?

- Bom, você não foi muito educado.. então esse será seu castigo, aqui perto a uma besta bem cruel, aposto que se divertirá bastante quando ela chegar.

Minha voz era sombria e meu sorriso mortal, a criatura a minha frente estava congelada no lugar. Já tinha perdido muito tempo, me levantei e fui andando para onde havia deixado Lucien, o Naga gritava para que eu voltasse e o tirasse de lá, junto com outros vários xingamentos, apenas revirei os olhos e segui em frente.

...

- Você é bem rápida - foi tudo que Lucien disse depois que o encontrei no mesmo lugar em que havia o deixado, ele estava com uma flor nativa nas mãos.

Ofereci um sorriso desajeitado para ele e o mesmo devolveu com um sorriso de lado, estendendo a flor para mim, fiquei surpresa e levantei um pouco minhas sombrancelhas, ele continuava com seu sorriso, aceitei a flor e a levei até o rosto, para sentir seu aroma, fechei os olhos levemente e inspirei o perfume magnífico da flor.

- Obrigada.

- Eu que devo lhe agradecer.. obrigado por ter salvo minha vida.

Não sabia o que lhe responder então lhe ofereci um breve sorriso e assenti.

- Venha - disse o ajudando a se levantar, precisava comer algo percebi. - Você precisa comer algo, e eu necessito de um banho.

Nois dois rimos um pouco enquanto começavamos a andar.

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Olá, espero que tenham gostado do capítulo ☺️

Desculpem qualquer erro 😅

Amor entre ChamasOnde histórias criam vida. Descubra agora