Dueto a Um

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  Ao chegar à ponte, uma ofegante Marinette avistou o namorado sentado em um banco. O garoto, que sempre estava por trás do violão ou cantarolando algo, desta vez apenas fitava o horizonte, e nenhum violão estava a vista. Ver Lukka assim, sem nenhuma melodia o acompanhando, seja um som de guitarra ou um murmúrio de uma canção, era como ver um peixe voar. E Marinette percebeu, porém não parou de correr até conseguir alcançá-lo.

  - LUKKA! - ela gritou, ainda bem ofegante. - Me desculpe! Eu estava... É que... - a garota parou, de repente, ao perceber o olhar do músico. Ela achou que ele estaria irritadíssimo, mas os olhos dele transmitiam muito mais cansaço e desapontamento do que raiva. Pareciam reflexivas e... tristes.

  - O pessoal foi embora. Parece que iam ao cinema, ou algo assim. - Lukka dissera, sem desviar o olhar, e sua voz não era nada mais do que um sussurro.

  - Lukka... - a garota tentava se explicar, mas o músico a interviu logo em seguida.

  - Marinette, o que houve? Eu achei que você tinha dito que hoje estava com o dia livre, mas ainda assim... Eu juro que tento entender o porquê, mas não sei mais. Parece que você está me evitando, ou sei lá. - a garota sentia a voz dele pesada, como se doesse só dizer aquilo. Além disso, parecia crua e sem vida, sem a costumeira poesia em cada detalhe. Era como se o mundo dele estivesse desbotado, ou como se sua alma tivesse machucada demais para cantar.

  - Lukka, não é isso. - a azulada tentou interromper, mas seu coração estava pesado e um nó começava a surgir na garganta. O músico, por outro lado, desabafava tudo em cima dela. Ele havia guardado aquilo tudo por muito tempo.

  - Você está sempre cancelando os encontros, saindo às pressas de tudo como se o mundo dependesse disso. - A sinceridade em sua voz era inegável. - E as desculpas... bem, eu acreditei, mas não sei se acredito mais. Parece... - dessa vez, ele parou um pouco para observá-la, antes de continuar - Que a sua melodia não está mais tão sincera.

  Lukka havia se calado e só observava a namorada. Marinette, porém, não conseguia levantar o olhar. Ela sentia suas bochechas queimarem de vergonha quando o garoto finalmente parou para observá-la. Afinal, ele estava certo. Sim, ela mentira. E sim, ela inventara mil desculpas. Mas sim, o mundo dependia dela! Só que ela não podia simplesmente revelar sua identidade secreta, mesmo que a Lukka.

Depois de longos minutos de silêncio, ele suspirou e se levantou do banco. Agora, frente a frente um do outro, o músico reparava em cada detalhe na garota pelo qual se apaixonara. Isso geralmente fazia seu coração bater como um tambor, e a música mais linda que ouvira ecoar dentro dele. Mas naquele momento, a sensação era outra. O tambor lhe doía no peito. A música ainda tocava, mas lenta, como se esgotado para acompanhar cada batida. Ele havia feito o impossível para continuar ouvindo a melodia, mas agora, estava cansado demais para continuar. Ele sozinho havia cantado todo o dueto.

   - Sabe, Marinette, você ainda é minha canção, mas acho que está um pouco fora do tom. E eu não posso tocar essa música sozinho. - Ele fez uma longa pausa, suspirou e a encarou. - Eu... acho que precisamos de um tempo.

   - An? - a azulada tomou um choque e seus ouvidos pareciam adormecidos por um instante. - Um... tempo?

O músico confirmou com a cabeça. Seus olhos pareciam tristes para a garota, mas, ainda assim, confiantes. Marinette só conseguia o encarar, num misto de surpresa e confusão estampados na cara. As palavras ainda não faziam sentido em sua cabeça.

Lukka, com o silêncio como resposta, deu-lhe um suave beijo de despedida na bochecha e saiu, caminhando para cada vez mais longe da ponte.

Chat Noir DesaparecidoOnde histórias criam vida. Descubra agora