A Busca

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Ladybug corria pelos telhados, apenas com a brisa noturna como companhia. Suas pernas ardiam, suplicando por uma pausa da busca interminável que começara horas atrás, mas sem nenhum sucesso. O ar já lhe escapava dos pulmões, e ela sabia que teria de parar a qualquer momento, pois pontinhos brancos começavam a aparecer ao seu redor.

  Relutante, a garota parou em uma laje perto do rio. Enquanto arfava por ar, ela se apoiou em seus joelhos até que os pontinhos sumissem de seus olhos. Novamente, ela ergueu o olhar e rondou ao redor em busca de pistas. Essa devia ser a décima vez que a heroína tinha rondado a cidade por pistas de onde Hawk Moth escondera seu parceiro. Ao desaparecer com o garoto, o vilão instalou um pânico em toda Paris. Uma sensação de insegurança foi tomando as ruas e as pessoas tinham medo de serem akumatizadas a qualquer instante. Numa tentativa de acalmar as coisas, Ladybug prometeu que traria Chat de volta e manteria a segurança de Paris. E assim ela fez, ou pelo menos tentou. Durante horas a fio, a heroína revirou cada esquina, cada rua, cada telhado, mas não encontrou absolutamente nada. O dia virou noite, e sua busca continuou, mas sem nenhum resultado.  Seja lá qual fosse o plano que o vilão estava planejando, ele não incluía atraí-la para dentro dele, não esta noite.

  Ainda ofegante, Ladybug se amparou numa coluna atrás de si, apertando os punhos em frustração. Ela precisava achá-lo. Não apenas por Paris. Mesmo relutante em admitir, uma parte de seu coração se quebrou no momento em que viu seu gatinho desacordado desaparecendo no chão. Um vazio tomou conta do seu peito e ela sabia que nada mais iria preencher esse vazio a não ser trazê-lo de volta. Nem uma conversa com Tikki. Ou sua cama quentinha.

 Talvez ela apenas precisava relaxar um pouco. A joaninha tentou desfrutar da bela noite que lhe cercava, mas não conseguia. Era impossível olhar ao redor e não lembrar do garoto. A lua alta no céu e o desligar das luzes dos prédios, que geralmente eram apenas um pequeno lembrete da hora de acabar a patrulha e voltar pra cama, agora lhe lembravam de como ele sempre fazia uma pequena reverência antes de ir. As estrelas parecia imitar o brilho de seus olhos. Até mesmo a pequena parede atrás de si a lembravam da vez que o encontrara no meio da noite sentado bem ali, enxugando as lágrimas. Ela se sentou ao seu lado e perguntou o que tinha acontecido. Ele lhe dissera que seu pai era meio difícil de lidar. Por medo de descobrir sua identidade, ela fechou o bico e ficou a noite inteira ao seu lado, os dois amarrados num abraço até o céu pintar laranja. Como ela queria ter perguntado mais, ter ajudado o pouco que fosse. Ela se perguntava como o pai dele estava agora. Será que estava preocupado? Será que estaria procurando por ele? Bem, com certeza ele não imaginaria que Hawk Moth o teria sequestrado.

 Ela suspirou. Pelo visto não tinha como mudar de assunto. A azulada tentava focar a mente nas cenas que ainda flutuavam diante de seus olhos. Talvez tentar entender o plano ajudasse a compreender seu próximo passo. Mas o sentimento que tentou evitar a noite inteira parecia voltar a escavar um buraco dentro dela. A sensação que o sumiço dele tinha causado em seu peito era bem maior do que ela imaginou que seria. Em todas as batalhas, todas as vezes que algo acontecia a Chat, uma pontada de preocupação lhe atingia o peito. Incomodava, claro, mas não por muito tempo. Ela se acalmava assim que lembrava que o talismã consertaria tudo. Só que, naquela tarde, a preocupação parecia tirar o ar de seus pulmões, e a razão de sua cabeça. No começo, ela pensou que fosse por ter perdido a situação do seu controle. Ou porque seu talismã não podia simplesmente resolver isso. Mas, o ar da madrugada parecia acelerar sua mente e esclarecer seus sentimentos.
Afinal, o que Hawk Moth conseguiria com isso? Por quase dois anos, o vilão ambiciosamente desejava os Miraculous de Ladybug e Chat Noir em suas mãos. Infinitos planos e esquemas foram bolados, e todos falharam. Menos esse. Ele finalmente tinha conseguido metade do poder e não deixaria isso lhe escapar pelos dedos. Não, ele agarraria a oportunidade bem firme e forte, e utilizaria a sua única chance de conseguir a outra parte. Para isso, ele precisaria de alguma forma atrair a garota, oferecer uma barganha por algo que ela não poderia recusar. E Chat Noir claramente seria sua isca.

 Essa ideia estava flutuando em sua mente durante todo a noite, incompleta, quase pedindo para ser lida. Agora que os pontos se haviam ligado, adrenalina fluía em seu sangue como combustão para suas pernas cansadas continuarem correndo. Se a azulada pretendia salvá-lo, não podia esperar Hawk Moth colocar seu plano em ação. Ela precisava estar um passo à frente.

 Mas nem todos os pontos tinham sido ligados. Ainda faltava um detalhe. Ela precisava descobrir onde o vilão havia escondido Chat, afinal. Seus olhos percorreram rapidamente os arredores até pararem na magnífica Torre Eiffel. Seus olhos brilhavam com a ideia. Talvez ela precisasse voltar para onde tudo havia começado.

Chat Noir DesaparecidoOnde histórias criam vida. Descubra agora