Chat Noir Desaparecido

Coração de Esgrimista

  Do outro lado da cidade, Chat Noir deixava a vítima do akuma e sua neta em segurança em casa. Logo após se despedirem, o anel dele apitou. Chat correu pelos telhados até um beco isolado perto da escola e se transformou de volta.

  Esgotado, o garoto sentou no chão e tirou da pasta uma fatia bem gorda de Camembert, a qual entregou para Plagg. Enquanto seu kwami se deliciava com seu queijo fedido, Adrien verificou as horas. 15:45. Ele tinha quinze minutos para recuperar o fôlego e encontrar Gorilla na porta da escola, que o levaria para seu encontro com Kioko.

   - Não demora muito com esse queijo, Plagg, ainda tenho que encontrar com a Kioko.

  - Não se apressa a arte, garoto. - o kwami disse, enquanto engolia o queijo em uma mordida e esticava a mãozinha em sua direção. - Mais.

  Adrien revirou os olhos. Além de não estar com a menor paciência de lidar com Plagg, o loiro começava a sentir o corpo moído pela luta. Ele só queria se jogar na cama e dormir o final de semana inteiro, mas, como sempre, uma agenda lotada o aguardava.

  Pelo menos ele pudera ver sua Buga... Ladybug. Já havia meses que ele se policiava para só chamá-la assim, e ele tinha boas razões para isso. Eles haviam se aproximado muito recentemente, estendendo por mais alguns minutos depois de terminarem um resgate ou uma luta e até marcando outros horários para se encontrar. Nos tais "encontros", ela o ajudava a entender e aprimorar seus poderes - graças aos conselhos e instruções que o Mestre Fu deixara em cartas; e ele a ajudava a procurar outros portadores de Miraculous e em outras responsabilidades como guardiã. Sem revelar suas identidades secretas, os dois super-heróis até davam conselhos uns aos outros sobre problemas mais pessoais, como problemas familiares e de relacionamento - fora assim que o garoto descobriu que ela estava namorando. Ele, porém, não conseguia tocar nesse assunto com ela, ainda doía demais. Eles haviam se tornado amigos tão próximos que não podia correr o risco de estragar isso, seja a chamando de Bugaboo ou soltando uma cantada sem graça.

   E, além do mais, ele tinha namorada. Desde que a conhecera, os sentimentos de Adrien por Kioko sempre foram mais do que amizade. E no dia da Batalha dos Miraculous ele compreendeu que ela também sentia algo por ele. Depois de levar tantos foras da Ladybug, Adrien percebeu que talvez fosse melhor tentar com alguém que, não só ele amasse, mas o amasse de volta. E assim ele fez. Mas, tão rápido quanto tinha surgido, o encanto se desfez, e o garoto se viu marcando encontros para evitar compromissos com o pai e comemorando quando um akuma atrapalhava os planos dos dois. Mas, não, ele não podia simplesmente terminar com ela. Os pais dos dois eram totalmente a favor do relacionamento deles, e tinham até liberado mais os filhos de tanta segurança e autoritarismo - um término só traria mais muros e controle na vida deles. Além disso, o garoto tinha medo de quanto isso poderia magoá-la. Era muito fácil de perceber que os sentimentos dela não haviam mudado nem um pouco, e a garota havia se soltado mais e feito muitas novas amizades desde que os dois começaram a sair. Adrien temia que se terminassem, a menina voltasse a ficar isolada e solitária, e ele não desejava isso a ninguém, muito menos a Kioko.

   Domando um pouco o coração, o garoto suspirou, e mandou uma mensagem para a esgrimista confirmando o encontro.

   - Você ainda pode cancelar. - o kwami disse por trás do celular, com a boca cheia de Camembert fedido. - E nós podemos ir para casa assistir TV. Ou talvez espionar sua Lady nos telhados como ontem... - agora finalizando com uma voz mais cantada.

   - Plagg! - Adrien se sobressaltou com a resposta do kwami e rapidamente se levantou e arrumou as coisas na pasta.

  Ele não havia ido espioná-la. Não. Ele só estava pensativo, como quase sempre, e saíra para um ar noturno. Uma vida dupla, um pai superprotetor e ausente e um relacionamento forçado às vezes exigiam um escape. Por acaso - ou destino - a viu sentada numa laje e parou para observar. Só isso. Foram só alguns minutos, e ela nem percebeu sua presença, mas foi o suficiente para fazer o coração do herói palpitar mais forte. A mera lembrança da sua não-tão-antiga paixão e seus cabelos azulados reluzindo à luz fraca da lua lhe tirou um breve suspiro, mas recobrando a razão, o garoto sacudiu a cabeça e caminhou para as escadas em direção a mais uma batalha. Dessa vez, não contra vilões, mas contra seu coração.