Chat balançava seu corpo, se pendurando nas correntes que nem um pêndulo. A canção que sua mãe cantava para ele dormir lhe escapava baixinho pelos lábios, acompanhando seu vai e vem. Talvez parecesse que ele estivesse em algum jogo sádico, mas aquela foi a única forma que o loiro encontrou para distrair a cabeça que finalmente havia parado de latejar. Já fazia horas que Hawk Moth o havia deixado sozinho com seus pensamentos e, sinceramente, eles não estavam sendo uma boa companhia.
Primeiro, ele havia pensado num plano de fuga. Considerando as correntes e a sua situação, ele não poderia simplesmente usar o Cataclismo. Ele até pensou em aproveitar que estava só, destransformar e deixar Plagg cuidar da situação, mas quando ia dizer as palavras, seus olhos avistaram uma das cinco câmeras de segurança que praticamente cercavam o lugar - para um garoto acostumado a ser sempre vigiado, ele até que demorou a encontrá-las. Com seu plano de fuga indo por água abaixo, ele percebeu que sua única opção seria esperar.
Mas, como sabia parte do plano de Hawk Moth, esperar era praticamente uma tortura. Sua mente ia e vinha, rondando os mesmos pensamentos. Dessa vez, eram as palavras de seu inimigo que lhe reverberavam nos ouvidos. Eu sei. Conto com isso. Não foi difícil para o loiro entender que era uma isca - um pedaço de queijo para atrair Ladybug para a ratoeira. Mas não estava sendo tão fácil esquecer. Seu coração disparava enquanto sua imaginação previa a cena que logo viria: Hawk Moth pressionando uma faca em seu pescoço enquanto a joaninha, em lágrimas, tirava os brincos. Continue a balançar, ele ordenava ao seus joelhos trêmulos, murmurando pesadamente a canção. Mas a imagem era inevitável. Ele sabia que mesmo que a garota não o amasse, ela não deixaria nada acontecer com ele.
Ladybug. Por que todos os seus pensamentos sempre tinham que ir parar nela? A garota com seu traje vermelho e preto parecia morar em sua mente, aparecendo em cada brecha de seus pensamentos. É claro que agora era mais do que certo que sua mente fosse parar na joaninha, já que ela representava sua única chance de salvação e, de certa forma, estivesse em perigo. Mas ainda lhe parecia cômico que, na situação que estivesse, sua cabeça e coração fossem direto para ela. Como tudo parecia voltar a ela, até mesmo a canção de ninar de sua mãe. Era impossível tirar a joaninha de sua cabeça.
Um vento gélido vindo do vitral fez seu nariz pinicar. Ele parou um momento e mirou através da pequena janela no vidro em forma de borboleta. Apesar de estar parcialmente coberto, ainda dava pra ver as luzes desligando em Paris, e a lua já bem alta no céu. Já devia passar da meia noite. A pequena sensação de que esquecera algo, que lhe acompanhara horas atrás o acertaram em cheio quando um rosto familiar, mas inexpressivo, lhe veio a mente. Nathalie havia sido bem claro para que o garoto não deixasse o encontro lhe atrasar para o evento de caridade daquela noite. E ele fez questão de não esquecer; mas agora ele precisaria de uma boa desculpa para evitar o carão que iria receber; não dela, mas de seu pai. O loiro até conseguia ver sua rotina triplicando de tamanho, o controle cercando as garras ao seu redor, e com um pouco de razão. Não que o modelo não tivesse desaparecido antes, ele já havia escapado pelas frestas de sua rotina mil vezes com seus amigos, mas nunca por tanto tempo - e nem perdido nenhum de seus compromissos de trabalho. Um peso lhe caiu nas costas ao lembrar que seu pai aumentaria o controle em sua vida, e que as patrulhas e saídas noturnas seriam quase impossíveis, mas o garoto tentava focar seus pensamentos para sair de lá. As consequências disso teriam que esperar.
Tentando espantar a preocupação, o gatinho voltou a cantarolar. Com o brilho cálido da lua em seu rosto e a doce melodia de volta aos seus lábios, Adrien relembrou de uma noite, anos atrás. Ele havia acordado em prantos de um pesadelo, coisa comum pra um garotinho de sete anos. Sua mãe apareceu segundos depois, quase flutuando em sua camisola branca. Seu doce sorriso e o abraço caloroso que seguiram eram as únicas coisas que faziam Adrien parar de chorar. A mulher cantarolava baixinho uma canção sobre um gatinho, canção bem familiar ao garoto, enquanto lhe acariciava as mechas loiras até que ele caiu no sono. Uma sensação nostálgica lhe aqueceu no peito. Tal sensação fazia Adrien imaginar o que não faria para ver seu sorriso mais uma vez. Movido pelo calor que a lembrança de sua mãe trazia, o garoto se deixou levar por ela. Sua voz rouca acompanhava a doce cantoria que agora ecoava em seu coração, enquanto a brisa noturna lhe acariciava o rosto cansado. Por um breve momento, lhe parecia que ela estava ao seu lado mais uma vez, lhe secando as lágrimas e lhe acalentando de seus pesadelos.
Depois de tantos pensamentos e arrepios aterrorizantes, Chat ouviu seu corpo cansado e deixou a única boa memória do dia lhe colocar para dormir.
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Chat Noir Desaparecido
FanfictionAcorrentado em um átrio, com um desespero crescente acorrentado no peito e uma dor de cabeça insuportável, Chat Noir usava todas as suas forças para se lembrar do ocorrido - apertando os olhos com toda força para resgatar qualquer lembrança. Uma ima...