5.2 - Vivendo Um Pesadelo.

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C A I O

Abro meus olhos com dificuldade, a claridade me incomoda, sinto o cheiro clássico de hospital que me embrulha o estômago.

Olho tudo a minha volta, tinha uns balões de gás hélio no canto do quarto, coloridos. Tinha também um vaso de flores amarelas na ponta da cama, em cima de onde colocam as bandejas de comida.

Vejo o botão de chamar a enfermaria, e aperto, eu estava sentindo meu corpo todo anestesiado. Uma senhora baixinha e gordinha entra, cabelo na altura do queixo e um sorriso de orelha a orelha.

-Bom dia! - Diz animada e eu me forço a tentar dar o meu melhor sorriso.

-Bom dia.

-Como está se sentindo? - Ela pergunta checando uns aparelhos que estavam ligados em mim.

-Bem, um pouco anestesiado. 

-É porque você está. - Diz ainda toda feliz. - Você está ótimo, que bom que acordou. Eu vou chamar o médico responsável para vir te ver.

-Muito obrigado, eu posso tomar água? - Pergunto com os lábios trincados de secos.

-Claro, já trago para você, e vou ver também se você já pode receber sua família.

-Obrigado. 

(...)

Eu conversei com a minha mãe, com a Camila e com o Bruno e a Rafa, e a última agora era a Liz. Na verdade eu quem pedi pro Bruno chamar a Liz, ele me contou que ela passou o mês todo aqui esperando eu acordar e que as coisas que estavam no quarto foi ela quem trouxe.

Ouço batidinhas leves na porta e ela abre mostrando só um pedacinho do rosto da Liz, que assim que me vê acordado, abre um sorriso imenso e respira aliviada.

-E aí, resolveu me matar de susto? - Pergunta dando risada enquanto fecha a porta do quarto.

-Desculpa. - Falo rindo e ela fica em pé ao meu lado.

-Eu vou pensar se aceito. - Brinca e passa a mão pelo meu cabelo. 

É inevitável quando nossos olhares se conectam e tudo ao nosso redor congela, esses olhos dela me deixavam maluco, eram perfeitos, nunca tinha visto cor igual.

-Eu pensei que fosse perder você... - Diz quebrando o silêncio que havia entre nós.

-Você não vai me perder nunca Liz. - Desvio nossos olhares e foco na lâmpada do teto. - Eu não ousaria morrer sem antes me resolver com você. - Falo em tom de brincadeira e ela revira os olhos enquanto abre um sorriso.

-Eu queria te pedir desculpas pela forma que eu agi com tudo, é que, eu sempre preciso do meu tempo para pensar e ficar bem comigo mesma antes de qualquer decisão.

-Relaxa, tá tudo certo, vamos começar do zero. 

-É, do zero. - Repete o que eu falei e beija minha testa. - Bom, eu vou ir, não posso ficar muito tempo, não sou família. - Dá risada da própria fala.

Mas quando ela sai do meu lado a porta se abre com alvoroço e o médico entra na sala, fazendo Liz voltar ao meu lado.

-Bom dia senhor Caio, eu sou o médico que está cuidando do seu caso, meu nome é Pedro, e eu já dei uma lida nos seus exames, está tudo em perfeito estado.

-Que bom, obrigado! - Agradeço e vejo que o sorriso dele se fecha.

-Entretanto, nós precisamos conversar sobre algo muito sério que aconteceu.

-Eu acho melhor eu deixar vocês a sós. - Liz diz indo em direção a porta.

-A senhorita é o que dele? 

-Namorada. - Respondo antes dela, e ela nem consegue disfarçar que eu estava mentindo.

- Bom, então acho melhor ficar. - A feição dele me preocupa.

-O senhor está me assustado um pouco. - Digo brincando, mas vejo que ele não ri, o assunto deveria ser realmente sério.

-Vamos lá Caio... - A cada palavra dele sobre meu tornozelo, meu coração gelava.

E quando ele chegou na parte da recuperação, eu já não sabia nem mais quem eu era.

-Para. - Peço quando ele diz que com muita fisioterapia eu melhoraria. - Sabe quando o liverpool vai me querer? Nunca mais. - Digo pra Liz que engole seco e segura minha mão apertado.

-Eu vou te ajudar Caio. -Me responde, mas no momento eu sinto tristeza, raiva, e vontade de morrer.

-Eu quero ir embora. - Falo pro doutor que só balança a cabeça e se levanta.

-Por conta do coma, você já vai poder sair de muletas. - Muletas... por Deus, o que eu fiz pra merecer isso?

-Caio, olha aqui. - Liz segura meu rosto e consigo ver seus olhos marejados.

-Não Liz, agora não é um bom momento, eu to vivendo um pesadelo, preferia estar morto. - E quando falo já me arrependo.

O médico sai do quarto e Liz solta minha mão.

-Eu vou..vou embora, acabou o horário de visitas. - Diz baixinho e sai do quarto também.

A Melhor Amiga Da Minha IrmãOnde histórias criam vida. Descubra agora