Depois da saída do inferno

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Depois desse episódio daquele bom homem, fui para um abrigo, eu achei lá um paraíso, pra quem não tinha uma refeição, lá eu tinha o café, o almoço, lanche a tarde, jantar e um lanche depois do jantar (pois o mesmo era era cedo umas 18, antes de escurecer), as tias eram um amor de pessoa, tinha uma que levava o meu lanche depois do jantar na cama, eu nem tinha forças pra levantar de tanta tristeza, eu vivia chorando, não só pelas minhas feridas físicas, mas pelas da alma também, eu estava toda machucada por dentro e por fora, não era nada feliz, não era amada por ninguém, hoje acho engraçado uma menina lá que me dizia que a tia demônio me batia por que eu vivia chorando. E ainda hoje mais de dez anos depois eu ainda choro pelo mesmo motivo, ela me marcou pra sempre.
  Não me lembro em detalhes quanto tempo eu fiquei lá, tio cínico foi me buscar, teve a audácia e a frieza de uma pedra em dizer para a mulher do abrigo que não ia prestar queixa por que não queria a tia demônio presa. Eu nunca vou perdoa-lo por isso.
  Minha vida não melhorou nada na casa do tio cínico, ninguém perguntou se eu estava bem, ninguém se preocupou em me levar para um tratamento psicológico, ninguém se preocupou com o meu bem estar, a minha saúde mental, mais uma vez foram negligentes comigo. Na casa dele eu era a empregada, dos 9 para os 10 eu tinha que limpar casa, arrumar até a cama deles, que acordavam é não tinha coragem de esticar o lençol, tinha que passar a roupa dos bonitos, e sempre desativava a tv para que eu não assistisse, sempre que ia na casa da mãe da esposa, ela me colocava para limpar a casa, esfregar o chão com escova de lavar roupa, lavar vasilha e tudo mais, por eu ser preta e pobre todo mundo me via como empregada, inclusive essa velha nojenta, odiava ela,só sabia reclamar de mim e me humilhar ( a minha família e feita de pessoas muito ruins), eu ainda sufoco em me lembra de um dia em que fomos na locadora, junto com outras duas sobrinhas da esposa dele, e eu não queria o filme que elas queriam, ele implicava tanto comigo que todo filme que eu escolhia ele dizia que era de criança ( mas eu era uma criança ? Não?), me lembro que eu queria Caroline, eu já tinha assistido mas queria de novo, ele mais uma vez implicou, eu fiquei triste e claro, então ele me mandou ficar no carro, era um sol da tarde muito quente, ele não deixou nenhuma janela aberta, eu até fiquei com falta de ar, comecei a sufocar. Sem contar que sempre era bruto é grosso comigo, eu era a empregada ( pra não dizer outra coisa), não tinha amigos, nem lazer nenhum, uma vez a esposa me bateu por que eu levei colegas em casa, fez uma cara tão ruim pra mim ( ela sempre fazia, ela também me odiava), depois disso não tive amigo nenhum, eu era só como sempre. Eu tinha muitos piolhos igual toda criança de escola pública, ela me levou em uma cabeleireira e cortou meu cabelo igual de homem, eu não queria cortar, ela não respeitou a Minha vontade. Tudo era motivo de me bater, uma vez meu tio perguntou se a porta estava trancada eu respondi que não sabia é ele me bateu.
Eu estava lá sempre fazendo as coisas sempre humilhada, e uma vez a esposa comprou uma Barbie para cada uma das sobrinhas, uma até pra vizinha é eu que sempre estava ali não ganhei, havia duas no guarda roupa achei que uma era pra mim, fiquei esperando ganhar a minha e nada, até que a vizinha foi brincar com os seus brinquedos comigo e eu vi uma igual, foi nesse momento que soube que eu não ia ganhar,  fiquei triste, revoltada então eu roubei a boneca da vizinha( quando brincávamos juntas), e escondi, eu enrolei ela em uma blusa de frio e coloquei em uma gaveta no guarda roupa deles (Eles me deixaram colocar as minhas poucas roupas em uma pequena parte), as vezes quando estava só eu tirava de lá é ficava olhando pra ela, mas nunca cheguei a brincar com ela, também tinha uma vasilha com umas moedas que eu estava juntando para ir embora da li, eram moedas que eu pagava pela casa, no chão do banheiro, algumas até no guarda roupa mesmo.
  Um dia sumiu um colar da esposa, e ela foi procurar na gaveta achando que eu paguei e achou essas coisas lá. Meu tio me espancou tanto naquela dia, eu via a tia demônio nele, foi aí que entendi por que defendia ela com unhas e dentes, a Jusselma a mãe da vizinha que eu roubei a boneca foi chamada até lá para que eu devolvesse a boneca, (não perdia uma oportunidade de me humilhar ), ela sim, merece que eu cite o nome dela 100 milhões de vezes nesse livro, ela nem é minha parente é foi um amor de pessoa comigo, ela deitou a minha cabeça no seu colo e me acalentou, acarissiou os meus cabelos e me explicou com toda a humanidade do mundo, foi a única pessoa que agiu com verdadeira humanidade comigo, saiba que esse gesto vai aquecer o meu coração pelo resto da vida. Nao bastasse a humilhação toda, a esposa teve o prazer de entregar as bonecas para as sobrinhas ( por que eram pra elas ) na minha frente, e me olhar com desprezo como se eu fosse um incento. Ela poderia ao menos ter entregado escondido.
  O ruim foi só a sua sobrinha achar que eu roubei um dinheiro que a mãe dela perdeu, fingiu ser minha amiga para me perguntar se eu não vi é peguei é ouvi ela dizer que quem pega boneca, pega mais coisas, saiba que não. Eu nunca vi nem peguei aquele dinheiro, jamais faria isso. Me chame de ladra por outros motivos, mas não por esse.
Uma vez brincando com uma moeda eu a engoli, nunca me levaram ao hospital, não vi nenhuma preocupação, até hoje penso que me odiavam tanto que queriam que eu morresse, eu sei que não faria nenhuma diferença mesmo.
Sem contar que além de ser sempre a empregada na casa deles ou na de qualquer parente da mãe dela, por ser preta e pobre eu era obrigada a tudo e as outras crianças iam brincar, ouve um tempo em que tinha um garoto que morava junto com a mãe na casa da mãe de criação do tio, ele sempre implicava comigo e eu sempre apanhava e ficava de castigo por culpa dele, eu sempre era a errada a culpada de tudo.
  Eu fui obrigada a decorar a tabuada uma vez, isso foi uma tortura psicológica muito grande comigo, então eu chorei na casa da mulher( que me olhou por um tempo), eu estava em pânico. Então o tio cínico disse que se eu fizesse aquilo de novo ia me dar uma surra na frente de todo mundo.
  Diz que me tem como filha, mas eu não acredito, nunca fui tratada como tal, eu sei que ele me odeia, um dia já até o ouvi dizer que me odeia tanto que tem vontade de me matar, isso arrebentou o que havia sobrado do meu coração, eu só queria ser amada, tratada com carinho e respeito, mas todos me odeiam sem motivo eminente.
  Eu não aguentei tudo isso é quis voltar a morar com a minha mãe no interior, a essa altura meus irmãos já estavam lá, pois na época em que eu estava no abrigo a tia demônio pegou eles é fugiu para a casa do avô cruel, com medo da polícia, inclusive falou um monte de mentiras e todo mundo acreditou é claro.
  Óbvio que o tio cínico não perdeu a oportunidade de ligar para a minha mãe e dizer que eu era uma ladra, que roubei a boneca da vizinha e dinheiro ( eram só moedas de 05, 010 e até 50 centavos, quando se fala dinheiro se pensa que é uma grana alta, era um dinheiro que estava juntando para sumir daquele inferno).

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