A volta pra casa

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Nisso voltamos a morar lá na casa onde o tio gordo perturbava, eu ia em uma boa escola, era muito incentivada a ler, tinha uma professora que sempre fazia roda de leitura, onde tínhamos que apresentar a história do livro que lia. Eu amava aquela escola, tinha festas muito boas, a alimentação era excelente, tinha aula de capoeira, em datas comemorativas ganhavamos presentes. Havia um mural de estrelinhas para quem fazia o dever de casa, e ao final da semana, ganhavamos uma lembrancinha. Sempre íamos ao clube banhar de piscina, tinha até a soneca da tarde, isso tudo por que a escola é pública, estrutura maravilhosa, perfeita, sem reclamações.
Mesmo assim ainda passávamos dificuldades. Minha mãe logo arrumou um outro companheiro ( é o que ela está com ele ate hoje, mais de 10 anos depois), no começo ele era muito bom, toda vez que fazia compra, sempre comprava uma caixa de bombom para mim e meus irmãos dividirmos. Quando eu dormia de mais e perdia o ônibus, ele ate me levava na escola, logo saímos daquela casa onde o gordo perturbava é fomos morar de aluguel.
Tivemos só um pouco mais de sossego, mas sempre que possível "os parentes", ia dar seus palpites, opiniões, mas levar uma cesta básica ninguém ia, muito menos procurava saber se estávamos vivos, era como se mandasse na gente.
Nesse meio tempo um tio me deu um creme para cabelo era de mamona, no outro dia apareceu em casa dizendo que eu tinha roubado, minha palavra não foi levada em consideração, ela nunca teve valor. Foi triste, uma das coisas mais covardes que já me fizeram, até hoje isso me fere como se fosse uma facada. Isso tudo dói muito até hoje, e uma enorme ferida que sempre vai doer.
Sem contar que tinha as mentiras que minha própria família inventava de mim, eles mesmo inventavam é vinham me julgar, me humilhar como sempre, tinha prazer em me humilhar, em me ver mal. Foram tantas mentiras, calúnias, diziam até que não ia ser nada na vida, hoje em dia os mesmos estão no fundo do poço, sem sucesso nenhum na vida, e os filhos caminhando pelo mesmo caminho.
Logo nos mudamos da casa de aluguel para a fazenda, na época eu e meus irmãos ficamos com uma tia, por que na fazenda não tinha transporte para irmos a escola. Eu era a escrava, tinha que fazer tudo, quando estava chegando da escola, na esquina, mal tinha entrado em casa ela já gritava da rua mesmo pra mim ir fazer algo. Não que fosse problema eu fazer as coisas, mas eu não podia ir na casa de amigos, nem brincar com ninguém, ainda era chamada de preguiçosa. Ela também me torturou, vou lembrar a vida toda, de quando ela me obrigava a fazer xixi antes de deitar, mesmo sem eu estar com vontade, ela queria por que queria, que eu fizesse, ela fez tanta pressão psicológica que eu passei a segurar xixi de quase o dia todo para ter o que fazer antes de ir dormir. houve um dia em que não aguentei segurar e fiz na roupa, foram dias muito angustiantes para mim. Nesse meio tempo fiz uma amizade com uma coleguinha, eramos coladas, eu só não podia ir na casa dela, mas ela podia ir na minha, a amizade logo acabou por implicância dessa tia, pode até fazer umas bondades para as pessoas, mas essa também tem sua parcela de culpa na ruindade. Logo conseguiu transporte e fomos para a fazenda, nessa época estava no fim da terceira série, ja ia para a quarta série, tive a ideia absurda de voltar a morar com o tio hipócrita.
Não melhorou nada eu tirava notas ruins por ir dia sim, dia não a escola, me colocaram numa turma a frente logo nasceu o filho eu quem cuidei dele por um tempo, eu quem tinha que cuidar é fazer as coisas para os folgados, sem contar que vivia sendo humilhada e agredida fisicamente e psicologicamente. Era apenas uma criança e queriam por tudo me adultizar, eu não podia brincar, sorrir ne,fazer nada que umma criança fazia, eu amava cantar e teria sido uma ótima cantora se eles não vivessem para dizer que ninguém aguentava me ouvir cantando, de tanto ouvir coisas assim eu parei e cresci acreditando que minha voz e feia, devido a isso eu passei a não gostar da minha voz nem para conversar; Ainda busca a respostaa de qual foi o grande mal que fiz a todos eles por me odiarem tanto. Não consegui ficar muito tempo e no meio do ano voltei, ainda bem que consegui recuperar e passar de ano. Nessa época minha depressão piorou ainda mais, até por que passava por problemas em casa, minha mãe ficou diferente do nada, o comportamento dela mudou muito, ela ficou ruim comigo, me xingava, me agrada muito com palavras, me negava comida, me mandava embora, falava pra mim sumir de lá, penso que era o "marido" que enchia a cabeça dela, por que ela nunca tinha sido assim, isso sangrou ainda mais a ferida que havia no meu peito, eu era só, dentro de uma casa com 4 pessoas eu era só, passava o tempo inteiro no meu quarto ( hoje em dia ainda é assim), com os meus livros e minhas escritas, eles eram os meus amigos e companheiros.
Nesse meio tempo na escola eu desenvolvi uma paixão, por um cara da escola, ele não era aluno de lá, era muito mais velho, eu era só uma criança de 13 anos, mas a carência que eu tinha, a falta de amor carinho e atenção me fizeram desenvolver esse sentimento que durou anos. Claro que ele nunca soube, e nunca tentou fazer nada comigo, era sempre muito educado com todo mundo. E esse sentimento me dava forças para abrir os olhos todos os dias, querer seguir em frente, não sei bem o que significou esse sentimento, mas ele foi muito importante pra mim, na minha cabeça eu o amava, mesmo com toda a dor que o sentimento me causava por não ser correspondida, eu senti muita falta quando o sentimento se foi, ele era lindo pra mim, e são as únicas boas lembranças que guardo na memória naquele tempo tão sofrido.
O coração doia com aquela boa dor, dava um frio bom na barriga, havia a ansiedade de poder ir a escola só para poder vê-lo, nem que fosse só por dois minutinhos, tinha os poemas que escrevia para ele, pensando unicamente nele, foi a minha maior inspiração durante anos. Guardava todos os gestos de carinho, ficava boba com eles, era só o que eu tinha de bom naqueles anos, foi o que me manteve viva, a munição para que mesmo no fundo do poço, eu ainda pudesse caminhar.
Apesar de tudo que me acontecia em casa, ainda tia as coisas ruins do colégio, umas garotas piadistas da minha turma, piadista sem graça, tudo o que eu dizia ou fazia era motivo de piada, isso contribuiu bastante para piorar tudo o que eu já sentia de ruim. Eu ja não aguentava mais, chegou um dia em que encontrei um veneno de rato (chumbinho) e tomei, pensava que ia morrer em questão de minutos, mas passou mais do que isso e nada de eu só dormir, eu sofri muito com o efeito do veneno nesse dia, do jeito que estava eu teria uma morte bem lenta e dolorosa, Meu corpo tremia muito, me sentia muito fraca, vomitava e defecava muito, tentei até tomar um banho para aliviar o que eu sentia, mas não adiantou, so fiquei mais fraca e não consegui vestir a roupa, minha mãe teve que me vestir, até hoje sinto muita vergonha de ter ficado nua na frente das pessoas la de casa, minha mãe so soube que tomei veneno por que não suportando o efeito eu contei, se não conto ela nunca ia saber, não ia se preocupar, talvez uns três dias depois iam sentir minha falta e me encontrar morta. Eu tinha acabado de fazer 14 anos, não tinha nem uma semana que tinha sido o meu aniversário naquele ano.

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