Um

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- Produção! Produção, abre aqui! – a voz feminina dizia na filmagem.

Arthur suspirou, sentindo a respiração ficar um pouco mais difícil. Ele inventara de ver alguns vídeos que surgiram na timeline. Era madrugada, o pior horário para ele. Era sempre na calada da noite que ele se permitia sentir. Reconheceu o nó na garganta crescendo dentro de si. Puxou o ar com mais força, fazendo um esforço escusável. Ele sabia que havia cruzado a linha do suportável e já não tinha como lutar com seus sentimentos.

Voltou os olhos para a tela do celular, vendo a inquietação de Carla. O edit trazia um compilado de vídeos sobre o acidente com seu ombro e, principalmente, os cuidados que recebia de sua enfermeira particular. Naquela cena, Arthur estava fora da casa para receber atendimento médico e Carla estava prestes a ter uma síncope de nervosismo. O loiro ajeitou-se no sofá, buscando uma melhor posição para assistir ao vídeo. Na sua ausência, Carla era consolada por Pocah e afirmava ter medo de perder Arthur.

Aquilo foi um soco na barriga. Ainda não tinha visto este momento do jogo. Carla andando pela casa, aflita por ele. Carla sentada no sofá, esperando por ele. Carla passando spray no ombro dele. Carla lhe dando força. Carla lhe ajudando em tudo. Carla na escala 11 de preocupação. Carla, Carla, Carla.

Sentiu a primeira lágrima cair e não fez questão de limpá-la. Sabia que após a primeira, viriam outras. Passou a mão pelo cabelo baixinho, sentindo os fios curtos e platinados lhe espetando a mão. O relógio marcava 1h45 e foi inevitável se perguntar: como ela estava?

Sabia que ela estava feliz, no dia anterior havia lançado sua coleção de óculos. Arthur comprou a coleção inteira usando seu endereço de Conduru para a entrega. Secretamente, ele engajava a loirinha dele. Thais agradecia, era ela quem ficava com todos os objetos que Arthur comprava. A moça ficara feliz por saber que ganharia a coleção de óculos inteira, assim como ganhou o perfume Deluxe, os bodys da Trifil, os batons da Avon, os casacos da Baw, os produtos de beleza da Dermaclub, as pílulas da Gummy Hair, o café encapsulado da L'or e até mesmo o pãozinho de hamburguer da Pullman.

Sem dúvidas, Arthur era um de seus maiores fãs e apoiadores. Ele não precisava gritar isso para o mundo, bastava ele saber que ele fazia a sua parte por ela. E não o fazia porque achava que era um dever, fazia porque a vontade vinha de seu coração, porque se sentia orgulhoso dela, porque faria de tudo para ver seu sorriso iluminado. Uma pena que, agora, ele fosse um mero espectador de sua vida, que fosse apenas mais um dos que a acompanhavam pelas redes sociais.

A saudade esmagava-o. A cada noite que passava, a cada vez que se permitia sentir, tinha mais certeza que seu lugar era com ela. Arthur nunca se sentira assim, nutrindo tanto amor por outra pessoa. Se questionava como ela se sentia e então recordou-se do último encontro que tiveram, antes de ela ir para São Paulo e ele ir para Conduru, antes do fim.

- Vai aguentar ficar todo esse tempo longe de mim? – A moça perguntou antes de afundar seu rosto no pescoço de Arthur. Ele sentiu um beijo ser deixado em sua mandíbula e a apertou em seu colo.

- Se dependesse só de mim, a gente não saia mais dessa casa. – Ele lhe respondeu com a verdade.

- Eu bem sei o que você quer ficar fazendo aqui. – Carla fungou em seu pescoço e elevou a mirada até a dele.

- Confesso que amo isso também, mas não é só por isso. – Ele colocou uma mecha de seu cabelo por trás de sua orelha e devolveu-lhe a mirada. – Eu sou doido por você. Não sei explicar como isso acontece, mas toda vez que você sai por essa porta, eu fico contando os minutos para você voltar.

Carla tragou a saliva com a declaração tão intensa. Os dois estavam sozinhos no antigo apartamento dele, sentados sobre o pequeno sofá da sala. O relógio marcava 4h40 e eles sabiam que ela precisava ir. Quando combinaram de se ver as escondidas, não imaginavam que seria tão desafiador, mas a madrugada sempre chegava para lhes trazer a companhia um do outro. Ela percebeu as borboletas voando dentro de si e quis responder com sinceridade, mas o medo lhe brecou, então lhe sorriu com carinho e lhe afagou a barba curta.

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