Quatro

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- Estou longe de acabar com você, cria. Hoje eu vou dar aulas!

Algumas horas depois, os dois estavam irrefutavelmente esgotados. Arthur cumprira com a promessa e havia acabado com Carla. Do jeito que dava, se apertavam no sofá. Estavam de conchinha, apenas sentindo a presença um do outro.

Sentiu que Arthur relaxara atrás de si, provavelmente tinha dormido após a noite em claro. O braço que antes a apertava e agora estava relaxado juntamente com a respiração calma lhe davam a certeza que ele repousava. Com o novo silêncio, ela pôs-se a pensar.

Estava certa que o destino lhe pregava peças. Levantou-se com calma para não acordá-lo e vestiu-se com sua calcinha e a camiseta dele. Caminhou até a varando do enorme apartamento vazio e suspirou ao admirar a vista a sua frente. E agora? Arthur não a deixaria ir sem a certeza de que iria voltar. Nem ela admitiria tal acontecimento. O tempo afastados e o choro de seu coração nesse período a faziam ter certeza de que queira estar com ele. Não podia negar seus sentimentos e, pior ainda, não podia negar os dele. Reconhecia os impulsos de Arthur, mas o amor nutrido por ele chegava a ser palpável.

Precisava se organizar. Pensar em como reintroduzi-lo em seu círculo. No mínimo, tentaria que fosse algo natural. Talvez ele pudesse, misteriosamente, aparecer no mesmo lugar que ela para que assim se reencontrassem. De repente, poderiam fazer algum trabalho juntos e... Não, absolutamente não. Não poderia misturar sua vida amorosa com seus negócios. Suspirou ao voltar para a estaca zero. De toda forma, não poderia simplesmente aparecer de mãos dadas com ele. Não depois de passar três meses convencendo a todos a seu redor que Arthur era passado. Tão passado como o santo do pau oco.

Um vento frio cortou o ar do Rio de Janeiro, fazendo-a arrepiar-se. Cruzou os braços sobre o peito, tentando se aquecer. Olhou de volta para Arthur e sorriu ao vê-lo ressonar. Parecia um anjinho, todo encolhido no sofá. Estar na presença dele asseverava-lhe que já não podia esconder os mandamentos de seu coração. Era dele.

Concentrou-se então em como seriam seus próximos dias. De que forma poderia incluir Arthur em seus planos e como poderiam caminhar para um retorno público. Poderia iniciar hoje, levando-o para a social que teria na casa de Pocah. Sabia que ele não havia sido convidado por causa dela. Viviane fez questão de lhe deixar claro. Sim, essa seria uma boa opção. Iria convidá-lo. Pelo menos o veria mais uma vez antes da semana louca que teria por causa da viagem e...

- Meu Deus! – A loira exclamou a se dar conta do que estava prestes a acontecer. – Como eu pude esquecer disso?

Subitamente sentiu-se nervosa. Em quatro dias embarcaria para São Paulo, onde permaneceria por quase três meses para gravar sua nova série. Seriam três meses intensos. A produção planejava gravar as duas temporadas de uma vez, prevendo o grande sucesso que o seriado teria. Finalmente Carla interpretaria a grande vilã que sempre sonhou.

Torceu os dedos das mãos com agitação. Mal havia reatado o relacionamento e já teriam que passar tanto tempo longe um do outro. Três meses, de novo. E se Arthur pulasse a cerca? E se ele não aguentasse esperar? E se fizesse alguma merda que impactasse a imagem dela? Não poderia se dar ao luxo de ter mídia negativa no momento ápice de sua carreira.

Respirou fundo, buscando acalmar-se. Arthur não era nenhuma criança e eles iriam resolver esse impasse juntos. Haviam prometido manter a conversa e assim ela faria, decidiria com ele. Tentando obrigar seu cérebro a mudar o rumo dos pensamentos, resolveu fazer um tour pela nova casa do namorado. Eram namorados agora, não?

A casa enorme estava praticamente vazia. Entrou naquele que parecia ser o quarto principal e encontrou uma enorme cama ainda sem lençol. O closet estava cheio de malas, caixas ainda não abertas e num canto havia um amontoado de roupas que ela imaginou estarem sujas. Os outros quartos estavam vazios e tinha um cômodo menor, que possivelmente era um escritório antes, com mais caixas e presentes de fãs. Reconheceu ali diversos presentes iguais aos que ela mesma havia ganhado. Seus fãs mimavam os dois igualmente. Na sala, havia um armário, o sofá e a televisão ainda no chão. Quando Arthur iria mobiliar a casa?

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