CAPÍTULO UM

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"Fera ataca novamente", Lyall leu baixinho a enquete do jornal, enquanto puxava lentamente a folha para cima, a fim de ler melhor o restante da notícia.

Um homem de 48 anos foi encontrado em estado grave por um grupo de caçadores, na trilha principal do parque, neste sábado (10). A vítima foi prontamente atendida pelo posto de saúde mais próximo e encontra-se estável. Segundo seu depoimento feito às autoridades, o ocorrido não se tratava de um ataque por um lobo normal, mas sim por uma Fera solta pela cidade.

── Hey!

A voz do dono da loja de conveniências assusta Lyall, que larga o jornal de se vira para trás. O homem estava no caixa, com os cotovelos no balcão, olhando-o fixamente. Vendo a sua expressão fechada, o garoto também fecha da mesma forma.

── Que foi? Acha que vou roubar jornal?

── Pivete idiota! Quantas vezes já não disse? Se não for comprar nada, sai da loja. Eu não faço caridade.

Lyall pretendia ir embora, não estava com paciência para lidar com aquele homem, mas logo uma senhora se meteu. Uma cliente que havia entrado há pouco tempo.

── Não fale assim com o pobrezinho...

── Pobrezinho? ── o dono devolveu, com ironia ── Ele se faz de santo para extorquir quem vê pela frente. Ainda rouba as minhas bebidas!

── Não, não roubei! ── Lyall se defendeu, se desfazendo da sua expressão fechada para uma bela atuação de um pobre menino de rua necessitado. Em seguida, passou a mão sobre suas roupas sujas e rasgadas, maiores que o seu tamanho, ajeitou seus cabelos castanhos com mechas platinada na parte de baixo e abaixou seus olhos azulados para o chão ── Eu só peguei uma barra de cereal, mas foi porque minha barriga doía de fome...

O dono chiou, mas a senhora se tocou pelo o seu discurso. Deu um longo suspiro de compaixão e tirou do bolso uma nota de 20 dólares. O maior valor que Lyall tinha ganhado de uma só vez.

── Tome, compre a comida que quiser.

Lyall colocou a cédula sobre seu peito com um olhar e um sorriso brilhante de gratidão e andou em direção às fileiras de produtos. Apenas não pôde deixar a oportunidade de, no momento que a senhora se vira de costas, estender com orgulho o dedo do meio para o dono da loja. Ele franziu a testa e o garoto riu baixo. Considerava aquilo a sua vitória do dia.

── Você soube sobre a Fera? ── a mulher ainda conversava com o homem. Lyall ouvia a conversa enquanto passava o olhar pelos produtos ── Essas pobres crianças de rua são as que mais tem risco com esse bicho à solta. Espero que o prefeito faça algo.

── O prefeito? Ele só quer a merda do nosso dinheiro. O que revolve são as patrulhas. Foi só assim que conseguiram matar a última Fera.

── Não soube? Estão já recrutando. Meu marido estava limpando sua espingarda para hoje à noite. Céus, que Deus não deixe que nada aconteça com ele.

Lyall olhou para a mulher por alguns segundos. Isso até notar um outro garoto em outra fileira fazendo o mesmo.

Seu tom de pele era quente. Parecia haver sub tom alaranjado sob o marrom ocre. Seus cabelos iam até o comprimento dos seus ombros. Um castanho claro que praticamente se tornava um loiro escuro com os feixes de luzes do sol invadindo a loja. Âmbar, como a cor dos seus olhos. E a cor do colar em seu pescoço.
Uma pedra marrom com diversos traços amarelos, quase como rachaduras. Aquilo cintilava mais do que qualquer outra coisa.

Ele tinha cara de ser um turista. Um turista sozinho, rico e idiota. Não haviam cidades melhores para ir do que Westlake, o fim do mundo de Wiscosin?

Seu fascínio pela joia é logo interrompido quando o suposto turista volta seus olhos âmbar para ele. Havia percebido que estava sendo observado. Lyall rapidamente olha para a prateleira e pega o primeiro alimento que vê pela frente, como forma de disfarçar. Ele caminha até o caixa e coloca o pacote de salgadinho na frente do homem mau-humorado.

𝐀𝐧𝐢𝐦𝐚𝐥 𝐒𝐨𝐮𝐥 | REESCRITAOnde histórias criam vida. Descubra agora