Obrigado

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Pip não sabia mais quanto tempo ele estava sentado do lado de fora do castelo sem fazer nada. Ele não sentia vontade de ver ninguém ou falar nada pelo que deveria ser a primeira vez em sua vida, pois ele adorava socializar, e apenas ficou ali parado olhando para o nada. Já tinha mandado uma mensagem à seus pais de que não voltaria mais hoje, pois gostaria de passar um tempo sozinho. Apesar de ficar olhando para cima, seus dedos brincavam com o anel em seu dedo, em movimentos involuntários que ele não parecia consciente de estar fazendo.

Quando foi a última vez que ele passou tempo sozinho daquela forma? Não no sentido de estar fisicamente sozinho, mas sozinho em um ambiente confortável. O tempo que ele passava sozinho era apenas porque ele não tinha com quem passar o tempo, ele não tinha escolha, mas agora é diferente, e essa provavelmente foi a primeira vez que ele quis ficar sozinho.

Pip esteve sozinho uma boa parte de sua vida, mas ele sempre desejou companhia, mesmo que nunca a encontrasse; pensar que agora que ele finalmente tinha pessoas ao seu lado ele queria distância o deixava preocupado. Mas, de certa forma, ele próprio entendia a razão de estar assim. As coisas pareciam estar acontecendo tão rápido, embora ele saiba que na verdade não estavam. Ele estava no inferno a cerca de cinco meses, não era pouco tempo, e ele já se acostumou com muita coisa por lá que era muito diferente de onde ele veio, mas ele ainda se sentia estranho de alguma forma. Talvez ele nunca fosse se acostumar com tudo, talvez ele só fosse assim, ou seriam todos? As coisas eram tão complicadas e avançavam rápido demais para ele compreender, seria legal ter uma constante para ele se segurar.

Inconscientemente, Pip desviou o olhar para sua mão, onde seus dedos da outra mão ainda brincavam com o anel em seu dedo anelar. Ele sorriu e fechou as duas mãos em punhos, amassando o tecido da calça debaixo da palma. Parece que agora ele tinha ganhado justamente isso.

O britânico suspirou e voltou para dentro do castelo sem olhar para nada e nem ninguém, sua cabeça nas nuvens. De certa forma, ele se sentia perdido, sem saber o que fazer, enquanto de outra, aquela sensação o deixava ansioso, pois já tinha se acostumado a uma rotina que sempre se repetia em um ciclo vicioso, era bom poder variar, especialmente para aquele lado.

Ele se surpreendeu em encontrar Damien sentando no sofá da sala. Ele geralmente se isolava no quarto ou no escritório quando precisava trabalhar e só saía quando terminava. Aquela ocasião era bem inusitada.

- Hey. - o britânico o cumprimentou e se sentou ao seu lado no sofá.

O anticristo, que estava bem concentrado em seu trabalho, se assustou com o chamado. Ele ergueu o olhar e sorriu na direção de Pip.

- Oi. - deixou a papelada de lado por um segundo e se inclinou para beijar a bochecha do britânico. - Você está bem?

Pip fez que sim com a cabeça.

- Só cansado. - apoiou a cabeça no ombro de Damien e soltou um suspiro para provar seu ponto.

- É o que costuma acontecer quando você chora demais. - o anticristo rebateu e levantou uma mão para acariciar os cabelos do britânico.

Pip riu baixo. Não é como se Damien estivesse mentindo, ele provavelmente passou mais tempo chorando no inferno do que em toda sua vida na terra, mas ele não se incomodava. Sempre ouviu dizer que chorar é saudável; significava que ele estava muito bem de saúde, não?

- Por que a preocupação? - ele perguntou para Damien, erguendo o olhar em sua direção.

- Achei que você estaria com seus pais agora. Vi você sentado do lado de fora quando passei pela janela. Você tem certeza de que está tudo bem?

- Tenho! Eu só queria pensar um pouco, clarear a cabeça. Foi muita coisa para processar em um dia só.

O anticristo compreendia perfeitamente o sentimento. Não podia dizer que estava na mesma situação de Pip, mas também estava surpreso com aonde tinham chego. Seu trabalho era apenas aprender sobre o apocalipse para trazê-lo no futuro e julgar e condenar as almas pecadoras no processo. Ele não esperava que as coisas entre ele e o britânico ficariam tão sérias ao ponto de ele sequer considerar casamento. Na verdade, não era para eles estarem juntos pra começo de conversa. O fato de estarem ali já era uma grande surpresa para ambos.

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