Céu vermelho

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Damien nunca achou que uma casa simples e colorida poderia ser tão ameaçadora quando vista daquela perspectiva. Ele tentava manter a compostura e a seriedade, mas por dentro tudo estava um verdadeiro caos. Já não eram frequentes suas visitas ao distrito residencial, e aquela em específico poderia melhorar ou piorar - e muito - o seu humor. Isso e também arruinar todos os seus planos dependendo do julgamento que ela lhe desse. Mas que tipo de anticristo e governante do inferno ele seria se não tivesse plena certeza de que a justiça era implantada em seu reino?

Na força do ódio, encheu o pulmão de ar e atravessou o portão branco da entrada, subiu os poucos e baixos degraus da porta de entrada e bateu com dois toques à porta.

- Já vai! - gritou uma voz feminina de dentro da casa, esta sendo seguida por passos que ficavam cada vez mais altos e apressados conforme se aproximavam da porta.

De dentro da casa, um rosto jovem se revelou. Uma mulher alta de cabelos loiros escorridos graciosamente pelo ombro, olhos azuis tão profundos quanto o oceano e pele brilhante.

Igualzinha a ele.

Ela devia ser incrivelmente nova quando faleceu, não chegando nem aos quarenta anos. Damien se lembrava de ver algo relacionado à uma doença quando verificou seu relatório, mas agora o nome não vinha à sua cabeça.

Contudo, ele se lembrava sim da razão de ter parado no inferno: sexo antes do casamento e divórcio.

Ao ver quem estava atrás da porta, a loira arregalou os olhos e a abriu de uma vez.

- Vossa majestade? Ora, mas que honra! O que o trás aqui? - ela exclamou em sua voz carregada de sotaque.

Damien abriu um pequeno sorriso e ajeitou as mãos atrás das costas.

Ela era igualzinha a ele.

- Eu sinto muito por aparecer tão repentinamente, senhora Pirrup. Essa lacuna na minha agenda surgiu de última hora.

- Sem problema algum, alteza. - ela insistiu. - Por favor, entre e fique à vontade. Vou fazer um pouco de chá. Alguma preferência?

- Qualquer coisa que fizer está bom, muito obrigado. - disse e fechou a porta.

Georgina esteve vivendo com Phillip no inferno por mais de dez anos e até agora pareciam estar se adaptando muito bem. Ela e o marido frequentemente saíam para caminhar pelo parque e socializar com outros moradores do inferno, frequentando bares, lojas e áreas de lazer, dos quais o anticristo tinha muito orgulho de ter permitido.

Georgina logo retornou à sala com uma bandeja em mãos, onde tinha um bule de chá e duas xícaras, assim como adoçante e torrões de açúcar.

Damien agradeceu ao ser estendido a primeira xícara e levou a porcelana aos lábios, provando do líquido quente que escorria por sua garganta.

- Se me permite perguntar, o que te trás aqui, vossa majestade? - ela perguntou ao tomar o assento ao seu lado.

- Eu precisava falar de algo com você, se me permitir.

Georgina estreitou os lábios em uma fina linha.

- Oh, dear... Aconteceu algo? Oh, eu disse ao Phillip que não devia sair com os amigos tão perto da zona de obras! Eu sabia!

- Não, não, não, não é nada sobre isso. - Damien rapidamente interrompeu, gesticulando com as mãos. - Na verdade, eu precisava falar sobre o seu filho.

No segundo em que a palavra foi mencionada, seus olhos se arregalaram e a xícara quase deslizou de suas mãos.

- Phillip?! Você viu meu filho? Ele está bem? Aconteceu alguma coisa? Por favor, majestade, me diga!

Darker DaysOnde histórias criam vida. Descubra agora