À beira do precipício

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Damien estava estranho desde aquela noite. Ele já não falava mais tanto quanto antes e agia de forma mais distante com Pip do que de costume. O mais estranho é que, ao mesmo tempo que ele era distante, ele também era extremamente grudento com ele.

Na semana seguinte, Pip veio a descobrir que Damien havia trocado absolutamente todas as suas aulas para ter as mesmas que ele. Ele se recusava a sentar em qualquer lugar que não ao seu lado, e quem o tentava dizer "não" era facilmente removido do lugar com um estalar de dedos. Damien não dizia nada, no entanto. Apenas sentava e agia como se absolutamente nada estivesse acontecendo, sequer explicava ao britânico a razão de tudo isso.

Aquilo o incomodava profundamente, pois sentia que Damien não confiava nele, o que não podia estar mais longe da verdade. No entanto, eles tinham feito um acordo. Damien devia ser sincero com ele, e cortava seu coração que ele sentisse que havia coisas que ele não podia contar à ele.

Às vezes, Pip sentia como se soubesse a razão para ele estar assim, ou pior, que era sua culpa. Ele tinha suas suspeitas, é claro, mas, sendo o bom ator que era, conseguia fazê-las passar despercebido.

Ou ao menos ele achava que conseguia.

Ele descobriu não ser o caso numa manhã de sábado, quando ele, perdido em seus pensamentos, não percebeu que fazia caretas enquanto fazia a lição.

Damien, no entanto, reparou relativamente rápido, especialmente considerando que ele estava limpando a mesa de café da manhã na cozinha. Em um segundo, ele estava se concentrando nos pratos e, no outro, observava Pip pelo canto do olho e percebeu o desconforto em seus olhos. E não parecia ser por causa da lição.

O anticristo deixou os pratos de lado por um segundo e caminhou para a sala.

Suas suspeitas foram confirmadas definitivamente quando a careta desapareceu quando ele se sentou no sofá.

- Está tudo bem? - perguntou ao britânico, colocando uma mão em seu ombro.

- O que? - perguntou, como se não tivesse ouvido nada do que Damien disse, embora ele soubesse que era mentira.

- Perguntei se está tudo bem.

O desconforto foi imediato.

Ele tinha feito algo que não devia. Ele se entregou.

- Oh. Uh, sim, claro, por que não estaria?

Ele voltou a escrever em seu caderno, mas estava óbvio que tinha algo errado, visto que ele estava fazendo um monte de rabiscos na folha.

- Seus olhos. Parece que vai chorar.

Pip parou de escrever e encarou o papel, completamente travado.

Damien mordeu o lábio inferior e deslizou para mais perto, deslizando o braço de seu ombro para a cintura.

- O que aconteceu, Pip?

Ele não era um bom mentiroso, é óbvio que a verdade viria a tona e o próprio britânico se entregaria. Ele estava confortável demais para começar a esconder as coisas de seu melhor amigo.

Com um peso no coração, Pip soltou um suspiro.

- ...Aconteceu alguma coisa, Damien? - perguntou, encarando o maior com a cabeça baixa.

O anticristo foi pego de surpresa e não soube o que responder de imediato. Imagens de seu encontro com a tia apareceram no fundo de sua mente, mas não tinha como Pip estar falando daquilo. Ele estava dormindo.

- Creio que não. - mentira. - Por que?

- Você está estranho. Meio distante... E, ao mesmo tempo, você me mantém perto, senta do meu lado. É quase como se você estivesse... Com medo. - Pip encolheu no sofá, instintivamente tentando acolher o máximo de calor possível para si. - Isso está bagunçando minha cabeça. Você disse que não faria mais isso. Você prometeu.

Darker DaysOnde histórias criam vida. Descubra agora