Leve a dor pra longe

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Pip acordou com uma sensação estranha. Seu corpo estava pesado, ele mal conseguia se mexer, a tristeza ainda pesava em seus ombros e só a vaga memória disso já era o bastante para deixar o britânico desconfortável, mais do que ele já estava.

Alguém estava acariciando seus cabelos. Ele ainda não estava tão atento, acabara de acordar, mas conseguia sentir dedos afagando sua nuca e entrelaçando-se aos fios loiros. Movimentos circulares, confortáveis e calmantes.

Em toda sua vida, apenas duas pessoas o tocaram assim, e uma delas estava morta.

Seus olhos lentamente se abriram, atentos ao fato de alguém sentado em sua cama. Ele teria se assustado se não visse a chave preta pendurada na fechadura da porta e reconhecesse aqueles toques como a palma de sua mão, mesmo tendo se passado apenas alguns dias.

Pip ergueu o olhar e se virou na cama, os toques descendo de seu cabelo para sua bochecha, a mão pálida o acariciando com o polegar. Mesmo cansado, esboçou um sorriso ao encontrar-se com um par de olhos vermelhos, ocultos por fios negros repicados.

- Você voltou.

Damien abriu um sorriso fraco, seu coração contraído dentro do peito. Pip parecia tão cansado com os cabelos desarrumados e os olhos pesados, como se não tivesse conseguido dormir à noite.

Pip logo voltou a fechar os olhos e largar o corpo em sua cama, seu sorriso desaparecendo.

Mil e uma ideias sobre o que tinha acontecido com ele nesse meio tempo passavam pela cabeça de Damien ao mesmo tempo, e isso não era algo bom para acontecer às dez horas da manhã.

Algo definitivamente aconteceu, algo grande. Do contrário, ele estava certo que Pip já o teria puxado para um abraço a essa hora. Ambos sentiram muita falta um do outro, mas se algo de fato aconteceu, algo que deixou o pequeno britânico abalado, o mais óbvio a acontecer seria uma queda em seu humor otimista e alegre, que era exatamente o que Damien estava percebendo nele neste exato momento.

- Desculpa, eu não acordei antes de você chegar. - Pip disse com um resmungo cansado. - Deixa que eu arrumo a cama.

Damien não tinha nem percebido que ele tinha dormido em sua cama até ele falar. Estava mais concentrado em como Pip parecia cansado. Sua preocupação aumentava a cada segundo, mas ele tentava manter o sorriso em seu rosto. Ele não via Pip há quase uma semana e ambos estavam morrendo de saudade. Ele não gostaria de ser o primeiro a quebrar o clima parcialmente agradável que se formava entre eles.

No fim, ele não precisou. Pip se sentou na cama e levou as mãos aos olhos, fungando. Ele esteve chorando.

Não demorou muito para o anticristo tomar uma atitude e deslizar para o lado do britânico, enrolando sua cintura em um abraço. Um beijo terno foi posto no topo de sua cabeça e Damien acariciou as costas de Pip com movimentos lentos e calmos.

- O que aconteceu? - ele perguntou quietamente.

Pip encolheu em seus braços. Mau sinal. A julgar pela forma como mordia os lábios, ele lutava para não chorar, embora ambos soubessem que aquilo seria em vão, tanto quanto Damien conseguir conter sua raiva após os próximos três segundos.

- Colocaram fogo na minha casa.

Os olhos carmim de Damien se arregalaram.

- O que?!

Lágrimas começaram a escorrer pelas bochechas do britânico e suas mãos tremiam, agarradas à blusa preta do anticristo.

- Colocaram fogo na minha casa, Damien! Eu não tenho mais casa! - ele exclamou desesperado.

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