Amoras

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       "Era uma vez uma vila pacata que ficava em meio aos montes, bem distante do reino Sul, que se chamava Between Hills. Seus habitantes eram felizes e cheios de fartura. Até um dia em que saqueadores furtaram seus espólios, ceifando cada vida, uma por uma."

       Pelo menos, é o que dizem. Eu fui o único sobrevivente do ataque ao vilarejo.
        Ferido, me escondi em uma caverna, onde vi família e casa sendo consumidas pelo fogo.
       Não lembro por quanto tempo fiquei escondido ali, apenas me alimentando da minha própria armagura por não ter protegido todos aqueles que amo.
       — Seu nome significa "protetor corajoso", mas não conseguiu salvar uma única pessoa.
       Esses pensamentos ecoavam em minha mente de maneira pertubadora, estava tão cansado que acabei pegando no sono, tendo um sonho.
       Estava em um espaço branco, totalmente branco.
       Até que na quebra do silêncio de alguns segundos, uma voz feminina, tão doce quanto mel, tão suave quanto as águas das nascentes que escorrem pelas colinas, que disse as seguintes palavras:
        — Sei tudo que tem passado, guerreiro. Sei que ficou dentro dessa caverna por semanas, não vou o julgar por isso, eu faria o mesmo se fosse humana. — disse a voz se compadecendo. — Mas existe um povo perto do reino Sul que precisa da sua ajuda, um futuro ruim os aguarda se você não for depressa, eles estão cercados de morte e sombras, e só você pode salva-los disso. — deu uma pausa de poucos segundos, logo voltando. — Por isso, herói, se apresse, pegue sua espada e vá para a cidade onde existe uma floresta de amoras bem perto dali, estarei te esperando. — terminou a voz com um ecoar suave.
       Por um momento, acordei assustado, abri meus olhos rapidamente e com a respiração ofegante, me levantei e encostei nas paredes de pedra da caverna.
       Poderia ser apenas um sonho bobo, sem significado, mas sentia que deveria fazer aquilo por algum motivo.
       Me agachei onde estava minha espada e a guardei em uma bainha que ficava sobre minhas costas, peguei um cantil com um pouco de água e alguns mantimentos, e os coloquei na cintura.
       Preparado para seguir viagem, sai da caverna, um forte raio de luz veio sobre meu rosto, movimentei minha mão à frente, em uma tentativa falha de esconder meu rosto, era a luz do dia, e um começo para a minha jornada.
       Andei por dois dias e uma noite, sobrevivendo do que havia me restado de alimentos e água.
       Até que por fim, cheguei à floresta de amoras.
       Grandes árvores com os pequenos frutos vermelhos, o chão, com uma grama baixa e feixes de luz que escapavam entre meio as folhas e galhos altos das árvores, que tocavam a terra, onde estava forrada como um manto vermelho pelas amoras.
       Mais à frente havia uma mulher, que pôs a se abaixar para pegar as pequenas e doces frutas ao chão avermelhado com algumas sobras de grama que fitavam junto ao vento.
       Ao lado estava uma cesta de palha, ainda estava rasa de amoras, certamente havia acabado de começar.
       Seus cabelos tão longos e soltos como o rio, castanhos claros como o carvalho, ela usaria um vestido de linho fino com uma coloração branca, porém estava de costas para mim, e isso me impedia de ver o seu rosto.
       — Será da família real? — pensei em silêncio, até me sentir encorajado à falar com a dama.

Amoras, Vermelhas Como SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora