Civilização

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       Depois daquele estrondo em forma de grito, até os pássaros que estavam cantarolando sobre os galhos da floresta densa, pararam de cantar e saíram batendo suas asas para outro local.
       Gwendolyn e eu ficamos confusos e amedrontados com o grito, certamente aquela cabana era habitada por alguém, apenas apressamos nossos passos adentrando ainda mais a floresta.
        Andei alguns dias com a mulher mais linda que já havia visto em toda a minha vida, mas pareceram apenas horas passando ao seu lado.
       Ela me contava histórias da sua estadia no castelo do rei, falava sobre o mal-caráter de alguns nobres envolvidos com seus pai e a madrastra, nova rainha daquele reino que havíamos acabado de abandonar.
       Sua voz era tão bela que não percebia o tempo passar, queria contar mais sobre mim, mas meu passado só haviam tristezas, e não queria deixar aquele peso sobre a lindíssima princesa.
       Estava quase anoitecendo quando avistamos luzes, por um momento a mata acabou, e demos de frente com um muro enorme, havíamos encontrado uma civilização.
       A de cabelos longos parecia assustada com o barulho que aquela cidade fazia, e logo se escondeu atrás de mim e puxou a manga da minha vestimenta.
       — William... — falou com um tom de voz muito baixo.
       Rapidamente me virei para trás e avistei a belíssima jovem de cabeça baixa, usando sua voz meiga com um teor de piedade.
       — Diga? — perguntei fazendo uma expressão confusa, olhando para baixo para conseguir ver melhor seu rosto angelical.
       — Não gosto de muitas pessoas juntas assim... — levantou sua cabeça, e olhou para mim com cara de choro. — Vamos passar por outro local?
       Não entenderia muito bem a atitude da bela moça de olhos castanhos claros, provavelmente não estava acostumada com os sons de banjos e pessoas cantarolando.
       Naquela civilização pareciam estar comemorando algo, pessoas dançavam alegremente na frente dos portões de entrada.
       Cantavam e bebiam como se não houvesse amanhã, aí percebi a preocupação de Bryana.
       Aqueles mesmos guardas que agredimos no dia em que se conhecemos, estariam falando com os outros guardas daquele mesmo reino, em frente os portões.
       — Vamos, por aqui. — rapidamente peguei a de cabelos castanhos claros como carvalho pela mão, e a puxei até chegarmos em uma tábua de madeira encostada sobre um buraco nos muros da cidade.
       Afastei para lado, revelando a passagem.
       Guiei a belíssima dama até que pudesse soltar minha mão com segurança e passar pelo buraco.
       Logo após fui eu, adentrando sobre aquela passagem, certamente secreta que alguém usaria para entrar sem ser visto pelos guardas.
       Estaríamos a lindíssima jovem e eu em um beco daquela cidade desconhecida, alguns caixotes de madeira quebrados e frutas estragadas estavam sobre o nosso caminho.
       A linda mulher que conheci nas amoreiras parecia realmente incomodada, rapidamente olhei para trás, onde a mesma estaria paralisada.
       — Bryana? — disse preocupado, me aproximando.
       — Aqueles soldados... — pausou sua linda voz por um momento, mas logo continunou. — Eles estão me procurando, não é isso?
       Pensei profundamente sobre a minha resposta, senti que não deveria mentir para ela, mas sim achar uma solução.
       — Sim... Mas eu posso achar um disfarce para ti, vou te defender a qualquer...
       — Tudo isso é minha culpa. — a de cabelos longos e ondulados me interrompeu. — Você não precisava ter me defendido... Eu poderia ter voltado e vivido naquele local com pessoas imundas...
       Os lindíssimos olhos da dama começaram a cintilar com o brilho de suas lágrimas, aquilo era de partir o coração, deveria intervir.
       — William, você não estaria ferido...
       — Se eu te salvei aquele dia, foi porquê decidi. — interrompi a frase da bela mulher. — Vi a infelicidade em seus olhos, e uma alma que precisava de ajuda.
      Continuaria a dizer olhando no fundo de seus castanhos claros, enquanto daria um passo a frente, levando a minha mão ao seu rosto, onde usaria meu polegar para limpar suas lágrimas e continuei.
       — Vi a mulher mais linda no meio daquelas amoreiras, e decidi protege-la, pois já não queria perder ninguém novamente.
       Quando menos percebi, lágrimas começaram a cair de meu rosto, descontroladamente por lembrar da minha família.
       — Perdi toda a minha família e o meu povo em um ataque de ladrões, me senti um inútil por não ter conseguido salvar a vida de nenhum deles. — respirei fundo e prossegui. — Quando te conheci, você se tornou importante para mim... E de hoje em diante, decidi te proteger, mesmo que isso valha a minha vida.
       Sinceramente não sabia como ajudar a bela dama, nunca fui bom com palavras, mas usei todo o meu coração pela primeira vez da minha vida.

Amoras, Vermelhas Como SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora