↞ 𝑨𝒖𝒓𝒐𝒓𝒂 ↠
A brisa fria da noite ia contra o meu corpo em movimento, fazendo o perfeito contraste entre o quente e o frio. O meu alvo corria pela sua vida, como uma presa corre do seu predador. O homem tentava esconder-se de mim, porém era em vão.
A sua respiração estava acelerada assim como o seu coração que parecia que ia sair do seu peito a qualquer momento. Eu conseguia sentir o medo que o homem tinha enquanto eu o perseguia. Ele estava aterrorizado com toda a situação e era bem merecido depois de tudo o que ele fez.
Num pedido de ajuda desesperado de uma aldeia à beira do colapso, depois de todas as suas crianças terem sido raptadas com intenção de escravidão e outros afins, eu emergi das sombras e fiz o que achei certo. Consegui devolver as crianças às suas respetivas famílias e prometi que eu me vingaria em seu nome.
O homem que eu perseguia era o líder da companhia que orquestrou todo este golpe, e sabendo que esta não tinha sido a primeira vez que eles fizeram tal ação, fez o meu sangue ferver. Eu já tinha conseguido encontrar e torturar todos os seus companheiros. Só faltava ele.
Eventualmente consigo encurralá-lo numa casa abandonada. Decido aproveitar o momento e aterrorizá-lo mais um pouco, eu queria ouvi-lo implorar pela sua vida enquanto eu lhe apontava o meu arco com a minha flecha, pronta a ser disparada.
E assim como previ, o homem nojento implorou pela sua vida e chorou pelos seus pecados. O inferno será um lugar demasiado bom para ele. A minha vontade era de abandoná-lo no fundo de um poço numa terra abandonada onde ele poderia pensar em todas as coisas horríveis que ele tinha feito. E morrer assim, lentamente sem ninguém para o ajudar, preso no que podia parecer uma jaula, refletindo o que as suas vítimas sentiram.
Agora o meu trabalho aqui estava feito, retiro as minhas flechas do seu corpo guardando-as para depois as limpar. Certifico-me que não deixo nada que me possa identificar para trás e meto-me a caminho deixando o corpo do homem à mercê dos elementos.
Saio da cidade e volto para onde tinha guardado o meu cavalo, que foi perto de umas árvores fora da cidade. Acaricio o animal e dou-lhe uma maçã para compensar pelo tempo que ele teve de esperar por mim.
"Aurora." Sou apanhada de surpresa com a voz rouca do feiticeiro que eu conhecia tão bem.
"Gandalf, há quanto tempo!" Volto a minha atenção para ele com uma expressão de surpresa pela sua presença num lugar tão aleatório. "O que te traz para estas terras?" Pergunto inocentemente.
"Acredita quando te digo que não venho por vontade própria." O feiticeiro fala deixando-me preocupada com o assunto que o trouxera aqui. "Onde andas com a cabeça para deixares um trilho de corpos atrás de ti, Malwa?" Ele continua com desdém na sua voz.
Foi neste momento que me apercebi que estava prestes a ouvir o descontentamento do feiticeiro. Malwa foi o nome que eu era conhecida, era élfico para a pálida, como assim era descrita devido ao tom da minha pele.
"Gandalf, apenas peço que falemos noutro lugar, as árvores têm ouvidos." Falo com caução e o feiticeiro, apesar de visivelmente irritado, concorda com a minha sugestão e guia-nos até uma cabana não muito longe da cidade.
Guardamos os cavalos na pequena cerca do lado da cabana que era bem cuidada e não muito grande, era acolhedora acima de tudo. Ela parecia pertencer a alguém que Gandalf conhecia e que felizmente não estava em casa. O feiticeiro acende a lareira com o seu bastão voltando o seu olhar para mim em seguida, pronto para falar tudo o que lhe vinha à cabeça.
"Eu posso explicar." Tento antecipar-me, mas o maia logo me interrompe.
"O que te passou pela cabeça?" O feiticeiro perguntou amargamente enquanto caminhava impaciente de um lado para o outro. "Quantas vezes é preciso te avisar para não atraíres atenção indesejada para ti."
"Mas eles precisavam da minha ajuda..." Tento mais uma vez justificar-me.
"EU DISSE PARA FICARES QUIETA, NAS SOMBRAS E TU DESOBEDECESTE-ME." Gandalf grita e a luz do espaço começa a dissipar-se na escuridão que combinava com as emoções do feiticeiro.
"Eu estou cansada Gandalf, eu estou cansada de não saber para onde ir ou sequer de onde venho, de ser só Aurora. A órfã que..." Confesso segurando as minhas lágrimas que há muito tempo eu empurrava e escondia. "Eu quero saber a verdade sobre a minha descendência." Falo depois de todos os rodeios.
"Essa conversa outra vez?" O feiticeiro deixa uma expressão de preocupação tomar conta do seu rosto acompanhado por um tom mais suave que o anterior.
"Sim Gandalf, essa conversa outra vez. Já se passaram mais de 600 anos e eu continuo sem saber de onde venho, quem são os meus pais ou porque é que o grande e aclamado feiticeiro cinzento olha por mim. Esta é uma vida solitária, uma maldição se queres que lhe meta nome." Digo tudo o que me vinha à mente, pensamentos que me atormentavam todos os dias e que eu não podia confessar a ninguém sem ser ele.
"Para com essas tolices, Aurora." O feiticeiro senta-se numa das cadeiras tentando desviar o assunto enquanto começa a fumar do seu cachimbo.
"Eu estou cansada Gandalf." Sento-me também numa cadeira do outro lado da mesa descansando a minha cabeça por breves momentos na superfície gelada.
"Eu sei pequena, eu sei." Ele faz uma pequena pausa fazendo o meu olhar encontrar com o seu. "Eu sei que doí, mas quando a altura chegar tu saberás de tudo."
"Porque escondes tal informação de mim?" Imploro por um pouco de compaixão da sua parte, mas o feiticeiro não quebra.
O silêncio ensurdecedor instala-se e ambos esperávamos o outro fazer o próximo movimento. Eu sabia que não iria conseguir tirar mais nada desta conversa e que não valia a pena continuar com o mesmo assunto.
"Tenho novidades." Falo na esperança do ambiente pesado desapareça. Gandalf lança me um dos seus olhares para eu continuar a falar. "Numa viajem recente aprendi que consigo fazer isto." Continuo e mostro que consigo convocar uma pequena chama na palma da minha mão.
Olho para o feiticeiro que me olhava incrédulo, porém sem dizer uma única palavra consegui ver o pânico nos seus olhos aumentar.
"Tu não deverás convocar tal truque, hoje ou mais alguma vez na tua vida. Eu proíbo-te." Gandalf fala rudemente levantando-se da sua cadeira e pegando no seu bastão.
Como ele pôde? Chega. Chega de me submeter às suas regras, à sua ignorância. Eu conseguia sentir a raiva crescer dentro de mim. Ela era tão grande que nem a conseguia pôr em palavras. Olho para o feiticeiro na esperança de que ele fosse dizer mais alguma coisa, porém apenas sou recebida com um olhar misturado de horror e pânico.
Levanto-me da cadeira pensando bem no que faria a seguir, controlando as minhas lágrimas pego em tudo o que era meu e saio da cabana sem dizer uma única palavra.
"Aurora." Gandalf chamava pelo meu nome, mas eu deixei o seu pedido cair na ignorância e montei no meu cavalo desaparecendo no horizonte.
Esta foi a última vez que falei ou ouvi falar de Gandalf, o cinzento. Assim se passaram 60 anos. Eu não o procurei nem ele a mim. Agora caminho, mais uma vez sem rumo por estas terras que não me diziam nada.
Por vezes, penso do que seria feito de mim se Elliana nunca me tivesse encontrado. Prevenir toda a dor que aquela pequena ação me trouxe. A dor de a ver morrer nos meus braços sem eu poder fazer nada para a salvar. A dor de estar sozinha neste mundo sem ter ninguém a quem contar como foram as minhas viagens, sem ter ninguém em quem confiar.
Agora a única pessoa que tinha o mínimo de paciência para me ouvir desapareceu da minha vida. Pergunto-me se fiz a coisa certa em desaparecer naquele dia. Pergunto-me se tivesse a oportunidade de reviver aquele momento se mudaria alguma coisa. E a resposta é incerta.
Às vezes penso que a minha mãe me olhava do céu querendo apenas o melhor para mim. Talvez fossem os meus antepassados desconhecidos que queriam que eu continuasse a minha jornada por este mundo. Talvez fosse apenas a esperança que tinha de um dia a verdade sobre o meu passado viesse à tona e eu finalmente não me sentiria tão sozinha. Talvez... Talvez.
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Darkness Within You || 𝐋𝐞𝐠𝐨𝐥𝐚𝐬
Fanfiction• IMPORTANTE LER O AVISO (CONTÉM GATILHOS) • 𝐃𝐚𝐫𝐤𝐧𝐞𝐬𝐬 𝐖𝐢𝐭𝐡𝐢𝐧 𝐘𝐨𝐮 (𝐀 𝐄𝐬𝐜𝐮𝐫𝐢𝐝𝐚̃𝐨 𝐝𝐞𝐧𝐭𝐫𝐨 𝐝𝐞 𝐭𝐢) Uma bebé de uma amor proibido, entre um elfo e uma feiticeira, escondida do mundo depois da tragédia que sucedeu o seu...