Capítulo 9| Aurora, filha de Alberad

1.1K 142 11
                                    

↞ 𝑨𝒖𝒓𝒐𝒓𝒂 ↠

Tudo aquilo era demasiada informação, será que era verdade? Será que ao fim de todos estes anos finalmente descobri sobre a minha descendência? Este tempo todo tive um lugar onde podia ter crescido e... eu sou parte feiticeira, daí conseguir fazer aqueles feitiços sem precisar de grande treino. E a minha mãe, Auriel, será que era ela que me sussurrava aqueles feitiços sem eu saber, ou está no meu sangue? Será que Elliana sabia de tudo isto ou foi apenas uma vítima de circunstância. Tantas perguntas e Gandalf era o único que as me podia responder.

Um misto de emoções tomava conta do meu corpo e da minha mente, eu precisava de sair dali. A sala do trono era alta e larga, mas por algum motivo as paredes pareciam estar a diminuir de tamanho, mantendo-me ali presa. A minha respiração estava alterada e acelerada. Mais ninguém tinha dito uma única palavra, talvez estivessem à espera de me ouvir dizer algo.

"Aurora." Legolas aproxima-se me mim colocando uma das suas mãos no meu ombro fazendo os meus olhos encontram-se com os seus que pareciam preocupados.

"E-eu preciso de ir." Falo virando costas a Thranduil e a Legolas.

Saio daquele lugar e procuro o caminho até à porta principal. Eu conseguia ouvir Legolas a chamar por mim, mas eu não conseguia responder. Eu segurava as lágrimas que queriam cair pelo meu rosto e a raiva de esmurrar algo ou alguém.

Começo a correr sem destino uma vez que saio às portas do palácio. A noite já se tinha posto e a luz da lua era a única que me iluminada o caminho. Sigo o rio até um lugar mais amplo e com a corrente mais calma.

Paro naquele lugar e deixo o misto de emoções sair. Deixo o meu corpo deitar-se sobre a pedra fria e as lágrimas caírem pelo meu rosto enquanto eu olhava o céu. As estrelas brilhavam tanto como a lua em si, pergunto-me se minha mãe e meu pai estariam lá em cima a olhar por mim.

Sinto os minutos a passar e a brisa fresca secar as lágrimas que ainda caiam sem pudor. Porquê eu? Porquê deus? O que te fiz para me fazeres viver num mundo tão cruel? Retiro a adaga que tinha dentro da minha roupa deixando-a descansar na minha mão.

Olho os céus e pergunto-me se isto tudo não passava de um sonho? Um pesadelo? Como tantos outros já tive, seria isto mais uma ilusão? Pego na minha adaga e encaro-a vendo cada detalhe. Ela foi-me dada por Gandalf como uma coisa para ter sempre perto de mim. Seria ela do meu pai?

"Aurora." Ouço a voz suave e majestosa de Legolas aproximar-se de mim.

Ignoro ele chamando pelo meu nome e sento-me na beira da pedra, eu não tinha forças suficientes para discutir o que tinha acabado de acontecer. Eu estava cansada desta vida e cansada de ser mentida. Eu queria estar sozinha, podia ser que se eu não lhe respondesse ele simplesmente fosse embora. Mas Legolas não merecia tal gesto, era cruel para uma pessoa que tem sido tudo menos má para mim.

"Eu sei que deve ser difícil." Ele senta-se do meu lado pegando na minha mão que tinha a adaga. "Mas não podes desistir agora." Legolas tira a minha adaga guardando-a.

O meu olhar estava fixo no rio que refletia a luz vinda do céu, quase que eu conseguia ver o meu reflexo. Na minha cabeça passava os momentos que vivi com Elliana, os bons e os maus, assim como os momentos que eu poderia ter vivido com os meus pais biológicos.

"Tudo acontece por uma razão." O príncipe fala em élfico e com a sua mão direita vira o meu rosto para si.

"Então porque doí tanto?" Respondo com a minha voz rouca e a falhar deixando mais uma lágrima cair que ele limpa com o seu dedão.

"Deixa-me tirar-te um pouco dessa dor." Legolas fala fazendo os meus olhos vermelhos focarem-se nos seus eternos azuis como o fundo de um oceano.

A sua mão direita estava em baixo do meu queixo aproximando o meu rosto do seu, os seus olhos viajavam entre os meus lábios finos e pálidos como os seus e os meus olhos. Num movimento calmo a sua mão esquerda descansa na minha cintura enquanto os seus lábios tocam levemente nos meus, iniciando um beijo sem pressas.

Os seus lábios finos ao encontrarem-se com os meus, fez o meu corpo parecer estar em paz. Naqueles breves segundos nada mais me preocupava, era como se todos os meus pensamentos tivessem desaparecido. A minha mente estava limpa e mais uma vez em paz, eu queria mais.

Legolas separa o nosso beijo e olha-me com um sorriso tímido. O meu coração não parecia estar mais sobrecarregado como antes e a minha respiração estava calma como a brisa que passava entre os nossos cabelos.

Deixo a minha cabeça cair sobre o seu ombro aconchegando-me nos seus braços. Nenhum de nós falou uma única palavra e assim ali ficamos a encarar as árvores e o rio por mais uns minutos. Quando senti que as minhas forças tinham voltado tento falar.

"Conta-me mais sobre o meu pai." Digo com a voz, ainda embriagada de tristeza e Legolas acaricia os meus cabelos depositando um beijo no topo da minha cabeça.

"Alberad era um elfo com honra e sabedoria." Legolas começa.

Ele contou-me como era estar do seu lado em batalha e que foi ele quem ensinou a Legolas tudo o que ele sabe sobre luta e sobre o mundo, ele era o seu mentor e um segundo pai para o elfo. Ele contou-me sobre as suas conquistas e como todos o admiravam.

O dia que ele conheceu a minha mãe foi o dia que ele não parava de sorrir que nem um tolo, Legolas fala que quando via o seu sorriso assim era porque ele estava mais do que feliz. Ele contou-me sobre a relação que ele tinha com Thranduil e como foi o dia que ele o viu a última vez.

Através das palavras de Legolas eu conseguia me ver a mim mesma, as suas características e como ele se queixava de ter o cabelo longo, algo que nenhum elfo se queixou antes. A forma como ele ajudava as outras pessoas sem olhar a raça ou de onde vinham. E que a espada e o arco que eu empunhava, assim como a adaga eram dele.

Thranduil reconheceu os meus equipamentos e as suas suspeitas aumentaram. Legolas conta que da primeira vez que lutou comigo e viu as minhas armas suspeitou que eu as tivesse comprado no mercado negro de alguma cidade. E que apenas viu as minhas orelhas porque, a forma como eu lutava se assemelhava tanto a ele, meu pai.

Depois do elfo me contar tudo o que sabia sobre o meu pai levantamo-nos e seguimos na direção do palácio, onde decidimos ficar mais uma noite para eu assimilar tudo o que tinha acabado de aprender.

Naquela noite, Legolas acompanhou-me até ao meu quarto onde ele se despediu pela noite. Depois de tudo o que tinha passado o beijo entre nós não parecia tão importante, mas agora que penso melhor este foi o meu primeiro beijo, ao final de todos estes anos.

Com a minha vida atribulada e sem uma lugar onde me podia estabelecer e criar raízes, o amor com outra pessoa nunca foi uma prioridade. Agora, desde que vi o elfo que os meus sentimentos tem estado todos baralhados. Ao início não pensei nada sobre isso, mas agora que tínhamos partilhado um momento tão íntimo começo a pensar se o que sinto por Legolas é algo que eu não devia.

Depois de uma longa conversa a sós com Thranduil aprendi tudo o que podia sobre o meu pai, comigo levei algumas das suas recordações. O rei falou que as suas portas sempre estariam abertas para mim e que não deveria hesitar se algum dia precisasse de ajuda. Sempre ouvi dizer que Thranduil, rei da floresta de Mirkwood era um elfo sem escrúpulos e sem compaixão, mas dos momentos que tive com ele, vi o contrário.

Vi um elfo que ainda sofria com a morte do amigo, do companheiro, de um irmão. Vi um elfo que pediu-me que olha-se por Legolas e para não o deixar desviar do seu caminho, seja lá o que isso significava, e por último, para ouvir o meu coração e que na jornada que ainda me aguardava para nunca perder a esperança, pois melhores dias haveriam de vir.

Partimos na manhã da segunda noite, agora com três cavalos. O meu se chamava Nahar e era branco como o de Legolas que se chamava Arod, o de Aragorn era preto e chamava-se Hasufel.

Assim partimos na direção de Rivendell, que agora ficava tão perto, uma vez que não tivemos que contornar Mirkwood. E agora sei a razão pela qual Gandalf não me queria perto daquele lugar, pois ele guardava a verdade sobre a minha descendência.

Darkness Within You || 𝐋𝐞𝐠𝐨𝐥𝐚𝐬Onde histórias criam vida. Descubra agora